Em reunião da Executiva, afastamento de ministro é fórmula encontrada para impedir que partido fique sem a pasta
Maria Lima, Isabel Braga e Gerson Camarotti
BRASÍLIA. Diferentemente do que pretendia o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a reunião de ontem da Executiva Nacional do PDT discutiu a antecipação de sua saída do cargo. Até aliados de Lupi, como o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, admitiram que o afastamento dele do comando da pasta - antes da reforma ministerial prevista para janeiro - pode evitar o que os pedetistas mais temem: a perda do Ministério do Trabalho.
O objetivo inicial da Executiva era passar o rolo compressor em cima dos chamados "éticos do partido", que defendem o afastamento imediato de Lupi do ministério, e aprovar uma nova manifestação pública de apoio a ele. Porém, nem essa nota foi divulgada. Lupi entrou e saiu da reunião sem falar com a imprensa, bem diferente do que fizera há duas semanas, quando disse duvidar que a presidente Dilma Rousseff o demitiria.
"Saída antecipada está sendo discutida", diz Brizola Neto
Nos bastidores do PDT, a saída de Lupi do ministério, em duas ou três semanas, está sendo considerada.
- É ruim o Lupi cair agora, no auge das denúncias, mas, para o PDT, é muito pior se ele cair na reforma ministerial, porque aí o risco de a presidente Dilma tirar o Ministério do Trabalho do PDT é muito grande. É melhor que ele antecipe a saída - defendeu Paulinho na reunião, segundo relato dos presentes.
- A saída antecipada está sendo discutida, mas ainda não tem uma decisão. Neste momento, o PDT apoia sua permanência, para que não saia em meio a denúncias de corrupção que não se sustentam - disse o deputado Brizola Neto (RJ). - Não se falou em troca de pasta (na reforma ministerial), se falou que talvez uma saída antecipada do Lupi seja importante para o partido manter a pasta do Trabalho, pelo nosso histórico trabalhista.
Trabalhando para ficar no cargo e limpar sua imagem, Lupi descartara ontem, antes da reunião da Executiva, qualquer possibilidade de o partido ceder aos apelos dos senadores Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF), além dos deputados Miro Teixeira (RJ) e Reguffe (DF), para que se afastasse. Paulinho chegara a pedir que os descontentes deixem o PDT.
Lupi, durante o dia, tentara demonstrar otimismo sobre o que seria discutido na reunião:
- Não existe qualquer possibilidade (de discutir a saída do cargo). A reunião vai debater o momento. Não tem decisão a ser tomada. A melhor resposta a dar para quem se julga injustiçado é continuar trabalhando - avisou Lupi.
Após se reunir com Lupi no ministério, de manhã, Paulinho foi ao Palácio do Planalto para um encontro com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência).
- O Gilberto perguntou como estava o partido em relação ao Lupi e eu respondi: você acha que a gente vai fazer reunião para não dar apoio a Lupi? O ministro tem o apoio do partido - disse Paulinho.
Após a visita ao Planalto, Paulinho radicalizou o enfrentamento com os parlamentares que defendem a saída imediata do ministro:
- Acho que o Reguffe, o Cristovam e o Pedro Taques é que devem pedir para sair do partido, e o partido liberar. O partido é de companheiros, e eles não estão sendo companheiros. Quando você está se sentindo mal no partido, pede para sair, vai para outro. Eu vou falar isso para eles hoje.
Taques e Reguffe não se intimidaram e foram à reunião da Executiva ontem à noite dispostos a enfrentar Paulinho.
- Vou lá e vou defender minha posição. Eu nasci falando! Agora, se o Paulinho e a Força Sindical acham que são donos do PDT para me mandarem sair, vamos ver! - disse Taques.
- Eu respeito a opinião do Paulinho, mas exijo que ele respeite a nossa posição também - completou Reguffe.
"Esse regime está destruindo os partidos", diz Miro
Miro Teixeira não participou da reunião da Executiva. Mas reclamou da ação da presidente, que estaria, indiretamente, estimulando a desintegração dos partidos:
- Esse regime presidencialista está destruindo os partidos. As legendas vivem uma autofagia na guerra por cargos no governo.
FONTE: O GLOBO
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