Membros juvenis da Mesa de União Democrática dizem que elas já foram destruídas para evitar identificação dos que votaram em prévias da oposição
CARACAS - O Tribunal Superior de Justiça da Venezuela (TSJ) suspendeu ontem a queima das cédulas utilizadas nas eleições primárias de domingo, que definiram Henrique Capriles Radonski como o candidato da Mesa de Unidade Democrática (MUD) à presidência, em outubro. Dois dias após sua vitória, o governador de Miranda viu-se sob ataques de aliados do presidente Hugo Chávez.
A decisão judicial obedece a recurso do pré-candidato à prefeitura de Baruel Rafael Velásquez. Horas depois da emissão da sentença, a presidente do TSJ, Luisa Morales, se reuniu com juízes de tribunais penais para pedir que eles "castiguem com o peso da lei" quem não cumprir a decisão.
No entanto, segundo o jornal El Universal, representantes juvenis da MUD anunciaram que as cédulas de votação utilizadas nas primárias já tinham sido destruídas 100% em todo o país. "Dizemos ao Tribunal Superior de Justiça que lamentamos o show das últimas horas, lamentamos uma sentença que, além de ser hilária, não pode ser cumprida. Como alguém pode cumprir uma sentença quando os cadernos já foram destruídos", disse Edinson Ferrer na sede do Partido Podemos.
O objetivo de queimar as cédulas era o de não permitir a identificação dos eleitores que votaram nas primárias da oposição. Por meio de seu secretário-geral, Ramón Avelledo, a MUD criticou a decisão. "É absurda, inconstitucional e desproporcional. Para desmoralizar a votação, o governo recorre ao medo", declarou o porta-voz ao Universal, atribuindo a decisão ao chavismo.
Segundo a advogada do candidato, Edna Escanio, o recurso foi motivado pela grande diferença entre o resultado e pesquisas que apontavam a vitória de seu cliente. "Estamos requerendo um direito, pois as pesquisas o colocavam como vencedor", afirmou Edna. "Estamos fazendo isso não só pelo interesse dele, mas também por interesses coletivos." O candidato afirma querer apenas uma recontagem de votos. "Apenas pedi que não queimassem os cadernos para uma recontagem", garantiu. "Sou independente. Não estou dizendo que houve trapaça, mas há algo errado."
Críticas. Dois dias depois de sua vitória eleitoral, Henrique Capriles, sofreu ataques de aliados de Chávez. Na TV estatal, membros da cúpula bolivariana questionaram a legitimidade da eleição primária da MUD e lançaram ataques pessoais ao governador de Miranda.
"Agora sabemos quem é o candidato do imperialismo, do capitalismo e da direita", disse o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. "O candidato antipatriota tem rosto. E a campanha não será fácil."
Cerca de 16% dos eleitores habilitados na Venezuela votaram nas primárias. A MUD esperava um comparecimento de até 12%. Aliados de Chávez acusam a oposição de ter inflado a participação popular na primária, mesmo com a fiscalização do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Além disso, os bolivarianos afirmam que a oposição teve a campanha financiada pelos EUA e defendem a divulgação dos nomes dos doadores de Capriles.
O vice-presidente Elias Jaua, no entanto, elogiou a oposição por reconhecer a autoridade do Conselho Nacional Eleitoral, que teve a independência questionada em eleições passadas. "Esperamos que esse mesmo reconhecimento ocorra quando Chávez vencer as eleições de outubro", declarou.
Os ataques mais fortes a Capriles vieram da mídia estatal, controlada pelo chavismo. No programa La Hojilla (A Lâmina), na VTV, o jornalista Mario Silva, partidário do presidente, insinuou que o candidato da MUD seria homossexual. Citando um documento policial, ele afirmou que Capriles foi flagrado em um carro com outro homem em uma blitz em 2000. O candidato negou o relato. No rádio, o comentarista Adal Hernández chamou Capriles de "o inimigo sionista", em referência à origem judaica do opositor. Seus avós são judeus poloneses que fugiram do Holocausto, mas ele é católico.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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