Ex-governador não se inscreveu nas prévias para eleição em SP, encerradas ontem, mas repensa se vai entrar na disputa
Silvia Amorim
SÃO PAULO. O prazo para concorrer às prévias do PSDB em São Paulo, marcadas para 4 de março, terminou ontem, mas o ex-governador José Serra não se inscreveu. Para tucanos, o gesto de Serra — que agora repensa a decisão de ficar de fora da eleição para a prefeitura de São Paulo — mostra que não está nos planos do ex-governador enfrentar uma disputa com os quatro pré-candidatos à vaga, mas ser aclamado como o escolhido. As mesmas lideranças avaliam que, se a decisão de Serra sair após as prévias do PSDB, o processo será muito mais traumático.
— Seria prudente termos esta situação definida até o fim do carnaval — disse ontem um tucano que participa das negociações.
O partido quer uma resposta de Serra até antes das prévias, para ter tempo de convencer os quatro pré-candidatos tucanos (os secretários estaduais Andrea Matarazzo, Bruno Covas e José Aníbal e o deputado federal Ricardo Trípoli) a abrirem mão da disputa interna e, assim, transformar o evento no anúncio oficial da candidatura do ex-governador.
À tarde, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que cabe ao partido agora aguardar uma definição de Serra: — Se ele quiser ser candidato, é um ótimo candidato, preparado e sério. Essa é uma decisão pessoal do José Serra que nós devemos aguardar.
Nas últimas semanas, tem crescido no PSDB a expectativa de que Serra será candidato.
Numa reunião entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, na semana passada, e, depois, em encontro do governador Geraldo Alckmin com FH, o diagnóstico foi de que ele já demonstrava disposição para repensar a decisão de ficar fora do páreo para a prefeitura de São Paulo. O próprio Alckmin, quando conversou com dirigentes do DEM há cerca de 10 dias para falar de alianças, transmitiu confiança numa candidatura do tucano.
No domingo passado, o governador reuniu-se com o ex-vice- governador Alberto Goldman, uma das pessoas mais próximas de Serra no partido.
Aliados de Alckmin disseram que, nesse encontro, Goldman comunicou que Serra, após sucessivos apelos de Alckmin, estava refletindo sobre o assunto.
Mas o processo de construção de consenso em torno do nome de Serra promete ser difícil mesmo na hipótese de ele tomar uma decisão antes das prévias. Dois dos pré-candidatos (Aníbal e Tripoli) têm se mostrado irredutíveis na realização da consulta à militância.
Tripoli ameaçou ontem que, se as prévias forem canceladas, levará a disputa para a convenção partidária, em junho: — A minha candidatura não me pertence mais, mas a todos os militantes que assinaram para que eu apresentasse minha inscrição.
Eu não tenho a menor condição de retirá-la.
Matarazzo e Bruno Covas não quiseram falar sobre o assunto. E Aníbal não retornou o pedido de entrevista. Já o ex-presidente municipal do PSDB em São Paulo, José Henrique Reis Lobo, defende a candidatura de Serra: — Espero que ele esteja refletindo e que venha a ser candidato.
Seria o nome com mais condições de competir e com perspectivas de vitória.
Aliados de Alckmin atribuem a mudança de Serra à aproximação do PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o PT. Afinal, o PSD, dizem, seria um parceiro estratégico para o ex-governador em 2014.
Apoio garantido de DEM e PSD
A entrada de Serra na disputa resolveria boa parte dos problemas dos tucanos
Uma entrada do ex-governador José Serra (PSDB) na eleição em São Paulo resolveria a maior parte dos problemas do PSDB na composição de alianças para disputar a prefeitura paulistana. Os partidos mais cobiçados pelos tucanos, como DEM e PSD, estariam garantidos. A avaliação é de dirigentes tucanos que estão na linha de frente das negociações com os partidos.
Hoje, o PSDB encontra como maior entrave para atrair as duas siglas a desconfiança delas em relação à viabilidade eleitoral dos quatro pré-candidatos a prefeito do PSDB. O prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, defende que o vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) é um nome com mais perspectivas eleitorais do que as opções apresentadas até agora no PSDB. E, por isso, quer que o PSD tenha a cabeça de chapa.
Na semana passada, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), após um encontro com o governador Geraldo Alckmin, admitiu que, com Serra candidato, a parceria é praticamente inevitável.
A discussão passaria a ser sobre quem ficaria com a vaga de vice na chapa. Mas esse assunto sequer foi tratado pelos dirigentes das siglas, que aguardam de Serra uma resposta definitiva se disputará ou não a eleição.
Outra vantagem apontada pelo PSDB de ter Serra como candidato é que o engajamento incondicional de Kassab poderia ser um facilitador das negociações com o PSB. O presidente nacional da legenda, governador Eduardo Campos, tem relações estreitas com Kassab e o PSD.
Hoje o PSB está dialogando em São Paulo com o PSDB e o PT do pré-candidato Fernando Haddad. Em ambas as frentes, as conversas estão em estágio inicial. Regionalmente, a proximidade do PSB é maior com os tucanos. O presidente estadual da sigla, Márcio França, é integrante do secretariado de Alckmin.
FONTE: O GLOBO
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