Ex-presidente, que faz palestra para investidores na China, afirmou que entre suas preocupações para o País estão as taxas de juros e o câmbio
Cláudia Trevisan
PEQUIM – O Brasil não deve exagerar a dose das medidas voltadas a estimular o crescimento, sob o risco de gerar problemas no futuro, como a alta da inflação, afirmou ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Tem que crescer, mas também não é a qualquer custo, porque se começar a crescer a qualquer custo, produz distorções grandes mais adiante", disse o tucano em Pequim.
Para ele, o país avançou muito, mas não deve "exagerar nos ajustes" nem "mudar de rumo" no momento em que tenta a se adaptar ao cenário mundial desenhado pela crise de 2008.
Entre suas preocupações, ele citou as taxas de juros e de câmbio. "Não dá para ter posição definida de que a taxa de juros não tem importância e tem que baixar a qualquer custo. Não é a qualquer custo, o custo é a inflação", declarou no intervalo de palestra a investidores e empresários chineses.
O ex-presidente também observou que as intervenções do Banco Central para reduzir a cotação do real brasileiro em relação ao dólar não devem se transformar em "prática institucionalizada".
Câmbio. Depois de manter o câmbio semifixo nos primeiros anos de seu governo, FHC foi forçado a adotar o câmbio flutuante em 1999, em um processo traumático que levou à saída do governo do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco. A moeda sofreu uma maxidesvalorização nos primeiros dois meses, mas o sistema se consolidou e está em vigor até hoje.
O ex-presidente avaliou que o Brasil "ficou mais forte, mais rico e tem mais capacidade de consumo". Mas não conseguiu avançar no aumento de sua taxa de poupança, o que dificulta a obtenção de índices de crescimento elevados.
Sem poupança, o país enfrenta obstáculos para aumentar os investimentos, que há anos patinam na casa dos 20% do PIB -na China, o porcentual ronda os 50%: "Você pode expandir o crédito, mas também tem limite."
"Acho que está nos faltando uma visão estratégica. Nós não sabemos bem como vamos manter um país que se desenvolva, e não só cresça, a longo prazo", observou.
Na opinião de FHC, a fragilidade da falta de poupança pode ser amenizada por "modelos" que permitam a interação entre capital privado e público e nacional e estrangeiro. "Pode ser de mil maneiras, não precisa haver predominância de um ou de outro, mas tem que haver regras estáveis para investimentos e crença nessas regras."
O tucano defendeu ainda a retomada da "linguagem das reformas", com o objetivo de aumentar a competitividade da indústria nacional. "É o sistema tributário, é a infraestrutura que está faltando, é a eletricidade que custa muito. O governo tem tarefas urgentes a serem definidas, e com clareza."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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