Sem-terra invadem Instituto Lula contra despejo de assentamento
Protesto reúne 100 pessoas e não tem apoio do MST, aliado do ex-presidente
Jaqueline Falcão,Tatiana Farah, Michel Filho
SÃO PAULO - Dois anos depois de deixar a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva foi pego de surpresa ontem por um protesto de sem-terra e simpatizantes no instituto que leva seu nome. Por volta das 6h30m, um grupo de cem manifestantes aproveitou a entrada do caseiro do Instituto Lula, na Zona Sul de São Paulo, e invadiu o sobrado que tem servido de gabinete para o ex-presidente. Alertado por assessores, Lula não foi ao prédio, onde os manifestantes prometem ficar instalados até serem atendidos. Eles são contra o despejo, sob ordem judicial, das 68 famílias do assentamento Milton Santos, em Americana (SP).
Durante os oito anos de governo, Lula enfrentou poucas manifestações de movimentos sociais. Só foi pressionado por grande volume de invasões no início do primeiro mandato. Ontem, o MST, um dos principais aliados do governo Lula, emitiu nota e se desvinculou do protesto, que foi comandado por dissidentes do movimento, sindicalistas e jovens militantes do PSOL.
Segundo o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente ficou chateado com a ação, que o impediu de trabalhar. Disse que a causa é justa, mas o método, não.
Grupo não entrou no escritório de Lula
Após render o caseiro, o grupo entrou no sobrado, ocupando dois pavimentos. Os manifestantes não entraram no escritório de Lula, que estava trancado. Dizem que não entraram em salas onde havia objetos pessoais e considerados de valor. O intuito, diz o grupo, não é de depredação. Logo pela manhã, eles atacaram a geladeira e a despensa, comendo frutas, saladas e frios. Também encontraram um freezer lotado de carnes. A maioria dos itens é de presentes dados ao ex-presidente, que aprecia um churrasco. Nem a rapadura que pertencia ao caseiro foi poupada pelos manifestantes.
O grupo reivindica que a presidente Dilma Rousseff declare de interesse público o terreno do assentamento, de cerca de cem hectares, e faça a desapropriação. A área foi confiscada pelo INSS por dívidas dos antigos proprietários com a Previdência. Em 2005, o Incra transformou o terreno em um assentamento, alojando 68 famílias. Os antigos proprietários obtiveram uma vitória na Justiça Federal para retomar a área, e o despejo está marcado para o dia 30. Ontem, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, e o presidente do Incra, Carlos Guedes, divulgaram nota conjunta afirmando que o governo está empenhado em mudar a decisão na Justiça. Guedes é esperado hoje em São Paulo.
Os acampados vão decidir hoje à tarde se permanecem nas dependências do instituto. Segundo o advogado das famílias do assentamento, Vandré Ferreira, o ex-presidente se tornou alvo do protesto porque ainda exerce grande influência no governo. Um grupo de quatro pessoas também se acorrentou ontem à entrada do prédio que abriga o escritório da Presidência em São Paulo, contra o despejo do assentamento.
- O assentamento foi criado no governo dele. Queremos trazer Lula para essa discussão porque sabemos a influência que ele ainda tem no governo - disse o advogado Vandré Ferreira.
Dois dirigentes do Instituto Lula tentaram negociar com os manifestantes. Além de Paulo Okamotto, o ex-ministro Luiz Dulci tentou convencê-los a deixar o local e ouviu suas reivindicações. Dulci era um dos nomes escolhidos por Lula, quando presidente, para articular o diálogo com os movimentos sociais. O instituto descartou pedir ajuda à Polícia Militar, que acompanha a ocupação de fora do prédio.
Lula também não deve ir hoje ao instituto.
Fonte: O Globo
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