- Folha de S. Paulo
Emmanuel Macron, o jovem presidente francês, que até poucas semanas atrás era apontado como fenômeno eleitoral e político da modernidade, já começa a parecer menos fenomenal.
Macron foi eleito presidente em maio com 66% dos votos. Ele se apresentava como um independente e prometia combinar uma agenda progressista em temas sociais com realismo orçamentário e medidas para tornar a economia mais eficiente.
Um mês depois, os franceses voltaram às urnas para escolher deputados e deram ao En Marche, o movimento pelo qual Macron se lançara, 61% das cadeiras do Parlamento.
Agora, pesquisas mostram que a popularidade de Macron se esvai pelo ralo. Sondagem da Harris Interactive de agosto indica que apenas 37% dos franceses aprovam o presidente. O mais curioso é que nada de muito relevante aconteceu nesses três meses que pudesse justificar uma guinada tão forte da opinião pública.
É verdade que Macron foi eleito menos por apoio a seu projeto do que pela rejeição dos franceses à candidata da extrema direita, Marine Le Pen, contra a qual ele disputou o segundo turno. Mas, mesmo assim, já fora da amarra binária do segundo escrutínio, o En Marche fez uma impressionante maioria no Parlamento.
A mudança ilustra bem a tese de alguns cientistas políticos como Christopher Achen e Larry Bartels, que sustentam que a democracia não funciona pelas razões que gostaríamos que ela funcionasse. Evidências empíricas mostram que a maioria do eleitorado não vota com base na avaliação de propostas, nem por julgar administrações e menos ainda por ideologia, mas por um vago senso de identificação com o candidato temperado pelo ritmo dos ciclos econômicos e caprichos do acaso.
A democracia é valiosa não por favorecer boas escolhas dos cidadãos, mas por ser o regime que assegura alternância no poder, Estado de Direito e algumas liberdades fundamentais.
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