'No Brasil não existe racismo', fala de Mourão, é a mais racista das frases
“No Brasil não existe racismo.” Essa é a mais
racista das frases entre nós. Seu autor
é um general, um dia eleito presidente do Clube Militar como reconhecimento
às suas manifestações extremistas. Com a elevação à liderança do radicalismo de
direita, no mesmo ano foi indicado pelo comando do Exército para completar a
candidatura de Jair Bolsonaro, assim chegando à mais alta condição atual de um
militar brasileiro —general-vice-presidente da República.
Considerar
que inexiste racismo no Brasil é dizer que toda a discriminação social
sofrida pela negritude, sua desvalorização remuneratória, a maior
vitimação nas ações policiais, a proporção maior na pobreza, e tanto mais,
compõem um tratamento
correto aplicado pelos brancos e merecido pelos negros. Em tal caso, o que
é racismo, raiz da violência mais disseminada no tempo e no planeta, seria
considerado o humanamente normal e o legalmente adequado para os negros. É o
que a sentença do general-vice proclama.
Nos
últimos anos, temos convivido com uma forma de poder em que se combinam a
anti-ideia, a obturação dos canais da percepção, a disfunção da experiência, a
recusa ao conhecimento e à compreensão. Não é exclusividade do Brasil, Trump e
metade dos Estados Unidos mostram-se com autenticidade, para engasgo dos que
jamais quiseram vê-los como são. Aqui, porém, chega a parecer que os últimos
anos cumprem programas perversos para exibir as cruezas da realidade.
É
o que faz o batalhão de generais na ativa do governo e adjacências. Caso
houvesse um programa para arruinarem a imagem do Exército, não seria diferente
do que nos mostram. O Exército que chegou ao governo Bolsonaro era um, outro é
o que a opinião pública vê. Bolsonaro, até na volta ao “capitão”, e Exército se
entrelaçam. A noção, entre militares, desse dano institucional ficou
perceptível em
referências à desvinculação entre Exército e governo. Embora sem efeito,
que palavras não desfazem esse nó muito cego.
Ao
contrário, a coisa até se complica. Como as eleições de agora insinuam. Os
resultados suscitam muitas interpretações diferentes, mesmo opostas, e ainda
assim não desprezíveis. Está visto que o centrão e a direita tiveram segmentos
de ganho, o
status do DEM elevou-se e fortaleceu-o bastante. Mas Boulos, Manuela
D’Ávila e Marília Arraes, entre outros, revelam recuperação de saúde
surpreendente, e promissora, da esquerda. É muito e não é tudo. Só com o
segundo turno haverá maior nitidez da nova disposição de forças. Exceto em um caso,
que dispensa a espera.
Bolsonaro
é o derrotado. O importante, no entanto, é não se tratar só dele, em pessoa. É
o dispositivo de que ele é o ativador, nem sabe por quê. O crescimento de
partidos como o PSL, o PP e o PSD é de correntes que, apesar de identificações
ideológicas, são caras e inconfiáveis. Dos
candidatos que apresentaram o sobrenome Bolsonaro, só o filho Carlos se elegeu,
em devastadora perda de energia do símbolo no eleitorado. Perdas e inseguranças
assim são numerosas.
E
outras serão decorrentes.
As
perspectivas para 2021 não são simpáticas a soluções dos problemas que crescem.
Não o são também, portanto, à rejeição a Bolsonaro, já em 50% em São Paulo, e
ao derrotado dispositivo. Lembra o lugar-comum que Bolsonaro passa e o Exército
fica. Caso não haja mesmo a recuperação, as perdas não serão iguais para as
duas partes enlaçadas. Daí que Exército não deva se ligar a governo, sendo
instituição do Estado. Ideia clássica e lembrada agora, com muito aplauso na
imprensa, pelo comandante do Exército. Mas não foi na história do Brasil que
o general Edson Pujol se baseou.
CO-AUTORIA
O governo do Rio Grande do Sul também é responsável pela monstruosidade que assassinou João Alberto Silveira Freitas. Policial militar temporário é excrescência. Inconstitucional e já repudiada pelo Supremo. Apesar disso, mantida pelo governador Eduardo Leite, para ver agora, na pessoa de um temporário assassino, o resultado de sua própria excrescência.
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