O Globo
Adesão de Marcelo Freixo a Eduardo Paes deixa
Tarcísio Motta à deriva e abre nova crise no campo progressista carioca
A notícia de que Roberto Carlos fará seu
último show de Natal mostra que algumas tradições chegam ao fim. Outras, não.
Hoje começa oficialmente mais uma eleição municipal. Para a surpresa de
ninguém, a esquerda carioca está dividida. O motivo da vez é a decisão de
Marcelo Freixo de apoiar Eduardo Paes, seu antigo arquirrival.
O ex-deputado disse ao GLOBO que aderiu ao prefeito para “derrotar a extrema direita”, representada pelo bolsonarista Alexandre Ramagem. A justificativa não convenceu o candidato do PSOL, Tarcísio Motta. “Freixo virou um enigma para seus antigos companheiros. Seu apoio a Paes não surpreende, mas causa tristeza e decepção”, critica o psolista. “Quero fazer uma campanha com coerência. Explicar as nossas bandeiras, e não recuar do que sempre defendi”, alfineta.
Em 2022, Freixo tentou repaginar o discurso,
renegou ideias identificadas com a esquerda e formou uma chapa inusitada com o
ex-prefeito Cesar Maia para concorrer ao Palácio Guanabara. O novo figurino não
empolgou, e ele perdeu no primeiro turno para o bolsonarista Cláudio Castro.
Após a derrota, trocou o PSB pelo PT. Sonhou com um ministério no governo Lula,
mas terminou na presidência da Embratur. “Freixo errou ao abandonar posições
históricas. Além de perder a eleição, perdeu coerência e legitimidade. O eleitor
percebe isso”, critica Tarcísio.
Para conter uma debandada em seu próprio
campo político, o candidato deve martelar que o prefeito também é apoiado por
bolsonaristas de carteirinha, como o dublê de pastor e deputado Otoni de Paula.
“Paes não é um voto antifascista. É um neoliberal autoritário, que sempre trai
seus aliados em nome de um projeto pessoal”, ataca.
Ontem dissidentes do PT promoveram um ato
público para declarar apoio ao candidato do PSOL. A maior parte da sigla deve
seguir a orientação de Lula e subir no palanque de Paes. Apesar do desdém,
Tarcísio diz que continuará a usar o nome do presidente nos debates. “Vou
defender o programa que elegeu Lula em 2022. O Paes não vai”, provoca.
Quando as cortinas se fecharem em dezembro,
Roberto Carlos encerrará um ritual de cinco décadas de musicais natalinos. A
esquerda carioca deve manter sua tradição: há 36 anos, se engalfinha nas
eleições municipais e não consegue chegar à prefeitura.
Um comentário:
Os grandes nomes da nossa música estão se despedindo,em todos os sentidos.
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