A revolta no mundo árabe/muçulmano disseminou-se de tal forma que a revista "The Economist", usualmente sóbria, não hesitou em colocar na roda até mesmo a Arábia Saudita, o bastião da ordem na região que se poderia chamar de Oriente Médio ampliado.
A revista elaborou um "índice de vulnerabilidade" e, de 1 a 10, cravou 7,3 como chances de que o país seja atingido pela onda de rebeliões, mais até do que a Líbia (6,7), que foi alcançada antes que o índice chegasse às bancas.
Não por acaso, o jornal preferido dos intelectuais palestinos, "Al-Ayyam", publica uma análise muito mais abrangente do que qualquer índice. Hassan Khader vai ao ponto de prever o início do fim do que se poderia batizar de "Ordem Saudita", imposta a partir dos choques do petróleo dos anos 70.
Como é essa "ordem"? Responde Khader: "Crentes contra infiéis, sunitas contra xiitas, muçulmanos contra cristãos. Tudo era engolido por uma luta entre absolutos religiosos emparedados no passado, que não deixava lugar para os partidos políticos, para os sindicatos ou outros engajamentos. No lugar deles, havia a figura do kamikaze, que se impunha como a última etapa da política rumo às esferas celestes".
Agora, prossegue o analista, a revolução tunisiana e a egípcia "fizeram a política descer de novo à Terra". Reconvertidos em cidadãos, os vassalos dizem "basta ao soberano, não porque ele seja pouco crente nem porque vendeu a Palestina, mas porque ele não lhes assegurou nem o pão nem a liberdade".
Essa mesma característica de fim de uma época é ressaltada por James Le Sueuer, professor de história da Universidade de Nebraska, em artigo para a "Foreign Affairs".
Mas Le Sueuer prefere ver nos eventos que se desdobram no mundo árabe/muçulmano o fim do que ele chama de "síndrome da desordem da era pós-colonial".
Significa que os autocratas do mundo árabe aderiam a uma filosofia de governo fora de moda, "de acordo com a qual o autoritarismo é a única cura para desafios políticos internos ou externos".
Também o filósofo argelino radicado na França Sami Naïr, em artigo para "El País", trata de uma nova ordem, caracterizada pela entrada em cena da juventude.
"Esta geração não pertence a nenhuma tradição, nacionalista árabe ou religiosa. Sua cultura política não é herdada do passado e, sim, provém mecanicamente da insuportável contradição entre a liberdade negada na vida cotidiana e a liberdade extrema de que os jovens desfrutam na internet, no Facebook, no twitter, nos SMS etc."
O que todos estão querendo dizer, no fundo, é que as categorias analíticas geralmente utilizadas para tratar do Oriente Médio tendem a ficar obsoletas, como sempre ocorre no momento em que uma dada era está morrendo e outra tenta nascer, a fórceps.
Afinal, os gritos por mudança atingem países pró-ocidentais (Egito, Bahrein), países de forte nacionalismo árabe (Líbia), de predomínio religioso e anti-Ocidente (Irã), razoavelmente laicos (Tunísia) -e têm sido, invariavelmente, contra os governantes locais, não contra potências estrangeiras.
A revista elaborou um "índice de vulnerabilidade" e, de 1 a 10, cravou 7,3 como chances de que o país seja atingido pela onda de rebeliões, mais até do que a Líbia (6,7), que foi alcançada antes que o índice chegasse às bancas.
Não por acaso, o jornal preferido dos intelectuais palestinos, "Al-Ayyam", publica uma análise muito mais abrangente do que qualquer índice. Hassan Khader vai ao ponto de prever o início do fim do que se poderia batizar de "Ordem Saudita", imposta a partir dos choques do petróleo dos anos 70.
Como é essa "ordem"? Responde Khader: "Crentes contra infiéis, sunitas contra xiitas, muçulmanos contra cristãos. Tudo era engolido por uma luta entre absolutos religiosos emparedados no passado, que não deixava lugar para os partidos políticos, para os sindicatos ou outros engajamentos. No lugar deles, havia a figura do kamikaze, que se impunha como a última etapa da política rumo às esferas celestes".
Agora, prossegue o analista, a revolução tunisiana e a egípcia "fizeram a política descer de novo à Terra". Reconvertidos em cidadãos, os vassalos dizem "basta ao soberano, não porque ele seja pouco crente nem porque vendeu a Palestina, mas porque ele não lhes assegurou nem o pão nem a liberdade".
Essa mesma característica de fim de uma época é ressaltada por James Le Sueuer, professor de história da Universidade de Nebraska, em artigo para a "Foreign Affairs".
Mas Le Sueuer prefere ver nos eventos que se desdobram no mundo árabe/muçulmano o fim do que ele chama de "síndrome da desordem da era pós-colonial".
Significa que os autocratas do mundo árabe aderiam a uma filosofia de governo fora de moda, "de acordo com a qual o autoritarismo é a única cura para desafios políticos internos ou externos".
Também o filósofo argelino radicado na França Sami Naïr, em artigo para "El País", trata de uma nova ordem, caracterizada pela entrada em cena da juventude.
"Esta geração não pertence a nenhuma tradição, nacionalista árabe ou religiosa. Sua cultura política não é herdada do passado e, sim, provém mecanicamente da insuportável contradição entre a liberdade negada na vida cotidiana e a liberdade extrema de que os jovens desfrutam na internet, no Facebook, no twitter, nos SMS etc."
O que todos estão querendo dizer, no fundo, é que as categorias analíticas geralmente utilizadas para tratar do Oriente Médio tendem a ficar obsoletas, como sempre ocorre no momento em que uma dada era está morrendo e outra tenta nascer, a fórceps.
Afinal, os gritos por mudança atingem países pró-ocidentais (Egito, Bahrein), países de forte nacionalismo árabe (Líbia), de predomínio religioso e anti-Ocidente (Irã), razoavelmente laicos (Tunísia) -e têm sido, invariavelmente, contra os governantes locais, não contra potências estrangeiras.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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