Errou redondamente quem imaginou Lula com o polegar na cava do colete, estilo que já foi moda de executivos vitoriosos, quando se encerrou a primeira etapa do mensalão: por saber negociar e esperar, o ex-presidente foi o único que saiu inteiro do episódio. E, passados os anos, reconhece com modéstia que eram do seu conhecimento as práticas abomináveis que macularam seu primeiro mandato. Coisas da política. No segundo, enquanto o comitê histórico do PT assumiu as suspeitas, o ex-presidente foi soberano, mas não quis saber mais de sócios e correu sozinho os riscos da candidatura Dilma Rousseff. Um feito memorável, a despeito dos meios de que se valeu e que ainda virão à luz do dia.
Refeitos os cálculos relativos ao primeiro, e confrontados com os do segundo mandato, a oposição não terá dificuldade em chegar à conclusão de que perdeu as oportunidades de conter Lula e confiná-lo como se faz, em caráter experimental, com peru deixado num círculo de giz. O ex-presidente é múltiplo em soluções e único, quando se trata de política. Assim, a história será contada de acordo com as conveniências. O episódio que degradou à história marginal da República, sob o título de mensalão, sobreviverá ainda que seja como prova de que as soluções por fora das urnas se esgotaram.
O mensalão, que não expõe tudo que com ele se praticou, ainda permite ao ex-presidente, por falta de arremate judicial, jogá-lo no colo da oposição e faturar o efeito sobre a parcela da opinião pública que sempre fica para trás. Esta oposição, por inércia ou pelo desconforto de contar três mandatos presidenciais, se candidata a ser uma das mais tíbias de todas as que não deram conta da missão conferida às minorias.
O eleitorado que apostou 64 milhões de votos na sucessão parece à disposição de alguma solução mágica, devidamente eqüidistante entre o golpismo bordado de retórica e uma inimaginável rendição do petismo às graças da social-democracia. Nem um nem outra. Uma oposição que não se explica – como diria o Chacrinha – se complica.
A iniciativa de bater à porta do Judiciário para salvar a face na questão do salário-mínimo, legado do passado, não mostra eficácia imediata. Teria de esperar pelas calendas gregas que, feliz ou infelizmente, não existiram na Grécia nem nod prestam favores. Não percebeu o sonolento oposicionismo que por aqui se pratica a hora de partir para uma solução superior, com uma proposta de pacto moralizador por cima dos costumes republicanos afrontados pelo despudor do enriquecimento pessoal. De alguma forma, os proventos do mensalão poderiam ser relativamente equiparados, com todo o respeito, às cenas dos catadores de lixo como categoria política que, em vez de ser o começo, deve responder pelo fim de uma etapa histórica inferior.
Compete à oposição situar-se em nível decente, onde há espaço disponível, sem ressentimento de perdedor, e provar que a social-democracia – pelo menos em teoria - é um pacto entre o adjetivo e o substantivo como valores duradouros e, até surgir melhor, para semear exemplos já que não colhe vitórias duradouras.
Por enquanto, não é pelo que diz respeito ao ex-presidente Lula que a sucessão presidencial de 2014 pode interessar, mas pelo ânimo cívico dos 64 milhões de eleitores que dividiram os votos com a candidata vencedora. A questão será saber como se situarão no espaço político do novo governo, a ser avaliado e julgado à medida que projetar nos seus atos e nas decisões políticas o que não vier de Lula e, sim, de uma visão própria que só se revelará, na primeira pessoa, à medida que o ex-presidente for, relutantemente, se retirando para o fundo do palco. Não é uma incógnita, mas também não pode ser decifrada pelo lado oculto.
FONTE : JORNAL DO BRASIL
Refeitos os cálculos relativos ao primeiro, e confrontados com os do segundo mandato, a oposição não terá dificuldade em chegar à conclusão de que perdeu as oportunidades de conter Lula e confiná-lo como se faz, em caráter experimental, com peru deixado num círculo de giz. O ex-presidente é múltiplo em soluções e único, quando se trata de política. Assim, a história será contada de acordo com as conveniências. O episódio que degradou à história marginal da República, sob o título de mensalão, sobreviverá ainda que seja como prova de que as soluções por fora das urnas se esgotaram.
O mensalão, que não expõe tudo que com ele se praticou, ainda permite ao ex-presidente, por falta de arremate judicial, jogá-lo no colo da oposição e faturar o efeito sobre a parcela da opinião pública que sempre fica para trás. Esta oposição, por inércia ou pelo desconforto de contar três mandatos presidenciais, se candidata a ser uma das mais tíbias de todas as que não deram conta da missão conferida às minorias.
O eleitorado que apostou 64 milhões de votos na sucessão parece à disposição de alguma solução mágica, devidamente eqüidistante entre o golpismo bordado de retórica e uma inimaginável rendição do petismo às graças da social-democracia. Nem um nem outra. Uma oposição que não se explica – como diria o Chacrinha – se complica.
A iniciativa de bater à porta do Judiciário para salvar a face na questão do salário-mínimo, legado do passado, não mostra eficácia imediata. Teria de esperar pelas calendas gregas que, feliz ou infelizmente, não existiram na Grécia nem nod prestam favores. Não percebeu o sonolento oposicionismo que por aqui se pratica a hora de partir para uma solução superior, com uma proposta de pacto moralizador por cima dos costumes republicanos afrontados pelo despudor do enriquecimento pessoal. De alguma forma, os proventos do mensalão poderiam ser relativamente equiparados, com todo o respeito, às cenas dos catadores de lixo como categoria política que, em vez de ser o começo, deve responder pelo fim de uma etapa histórica inferior.
Compete à oposição situar-se em nível decente, onde há espaço disponível, sem ressentimento de perdedor, e provar que a social-democracia – pelo menos em teoria - é um pacto entre o adjetivo e o substantivo como valores duradouros e, até surgir melhor, para semear exemplos já que não colhe vitórias duradouras.
Por enquanto, não é pelo que diz respeito ao ex-presidente Lula que a sucessão presidencial de 2014 pode interessar, mas pelo ânimo cívico dos 64 milhões de eleitores que dividiram os votos com a candidata vencedora. A questão será saber como se situarão no espaço político do novo governo, a ser avaliado e julgado à medida que projetar nos seus atos e nas decisões políticas o que não vier de Lula e, sim, de uma visão própria que só se revelará, na primeira pessoa, à medida que o ex-presidente for, relutantemente, se retirando para o fundo do palco. Não é uma incógnita, mas também não pode ser decifrada pelo lado oculto.
FONTE : JORNAL DO BRASIL
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