Se o governo brasileiro ainda precisava de aviso quanto à instabilidade do cenário mundial neste ano, as análises divulgadas na segunda-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) não poderiam ser mais claras. A mensagem tornada pública em Davos, no Fórum Econômico Mundial, é cristalina: a economia do mundo está em desaceleração. O que significa um desafio para os novos governantes do país na medida em que essa tendência pode prejudicar o ritmo de crescimento das exportações brasileiras, tornando ainda mais lento o processo de retomada do ritmo de atividades.
O FMI revisou para baixo - novamente - a projeção para a expansão econômica global. A estimativa agora passou a ser de 3,5% em 2019 e de 3,6% no próximo ano. Nos dois casos, são índices inferiores ao que o FMI calcula que o mundo cresceu no ano passado. São reduções pequenas mas indicam uma tendência de desaquecimento global.
As causas da desaceleração econômica que se desenha são muitas, variando de país para país ou de região para região. Mas não há dúvidas que as incertezas provocadas pelas disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China pesam muito negativamente nesse panorama, como se vê inclusive pelas oscilações bastante significativas observadas nos últimos meses nos mercados financeiro e de commodities. Também com grande influência desfavorável são as dúvidas em relação às perspectivas da China continuar se expandindo economicamente em ritmo semelhante aos dos últimos anos.
Em ambos os casos - problemas comerciais entre as duas maiores economias do planeta e economia chinesa - não se vê perspectiva unânime entre os especialistas de solução a curto prazo. A China é um dos maiores receios. O crescimento de 6,6% em 2018 é o menor desde os anos 1990. E deve cair para 6,2% neste ano, prevê o FMI, o que reforça a fragilidade do país, principal parceiro comercial do Brasil.
Nesse contexto, fica fácil entender por que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, foi tão enfática nos seus comentários sobre o relatório da organização que preside, como relataram, de Davos, os repórteres Assis Moreira e Danel Rittner, na edição impressa do Valor de ontem. "A recessão não está logo ali na esquina, mas é preciso tratar das vulnerabilidades e estar pronto para quando uma séria desaceleração se materializar."
Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, diz que as revisões para baixo da economia global são modestas. Mas alerta que os riscos mais significativas estão aumentando. Por exemplo, os conflitos comerciais tiveram impacto nas condições financeiras, elevando os riscos para o crescimento global.
As perspectivas para os mercados emergentes e para as economias em desenvolvimento refletem a continuação dos ventos contrários dos fluxos de capital mais fracos, após alta de juros nos EUA e depreciações da taxa de câmbio. "Uma escalada das tensões comerciais e um agravamento das condições financeiras são as duas principais fontes de risco para as perspectivas globais", diz Gopinath.
A avaliação é que em todas as economias é imperativo que os governos adotem medidas para impulsionar o crescimento do produto potencial, aumentar a inclusão e fortalecer os colchões fiscais e financeiros, num ambiente de alto endividamento e condições financeiras mais duras.
É importante ressaltar que o relatório do FMI elevou sua projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil - o país poderia crescer 2,5% neste ano. Se confirmado, será um resultado muito bom em comparação com o desempenho muito fraco da economia brasileira recentemente. Mas não há dúvidas de que a retomada da economia do país poderia ser muito forte em 2019 e em 2020 se houvesse ajuda do exterior, com aumento expressivo do PIB e do comércio internacionais.
Outro dado divulgado também na segunda reforça a necessidade de o governo brasileiro avançar rapidamente com as reformas econômicas indicadas quase de forma unânime por empresários, especialistas, dirigentes do mercado financeiro, notadamente a da Previdência.
Segundo a Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). fluxo de investimento estrangeiro direto para o Brasil diminuiu 12% e fechou 2018 em US$ 59 bilhões. Com isso, o país caiu de quinto para nono maior recebedor de investimentos ano passado. Globalmente, o fluxo sofreu contração ainda maior, de 19%.
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