- Folha de S. Paulo
Relação amigável com milícias abre caminho para segunda crise em 22 dias de governo
A família Bolsonaro nunca fez questão de esconder sua relação amistosa com as milícias. Os integrantes do clã tratavam publicamente esses grupos de policiais e ex-policiais como generosos prestadores de serviços de segurança, ignorando os crimes de extorsão e assassinato cometidos por muitos deles.
Os vínculos não se restringiam aos discursos. Sabe-se agora que Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete duas parentes de um ex-PM suspeito de chefiar uma facção de matadores que agia a serviço de milicianos.
Quase todo político com uma longa trajetória sabe que episódios do passado reaparecem como assombrações. Alguns, bem escondidos, caem no esquecimento. Os esqueletos da família presidencial, porém, parecem estar enterrados em cova rasa.
Até novembro, trabalharam para Flávio na Assembleia Legislativa a mãe e a mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega, um ex-capitão do Bope acusado de comandar uma milícia na zona oeste do Rio.
O filho do presidente diz que seu ex-assessor Fabrício Queiroz foi o responsável pelas nomeações.
Se Queiroz tinha carta branca para contratar e demitir, suspeita-se que ele não era um auxiliar qualquer de Flávio. A coisa fica mais esquisita quando se destaca que a mãe de Adriano apareceu num relatório do Coaf por ter repassado R$ 4.600 para a conta do fiel amigo do ex-assessor.
Queiroz assumiu a responsabilidade, mas não fez qualquer menção ao envolvimento de Adriano com os matadores. A família também nunca demonstrou preocupação com o assunto. Tanto Flávio quanto Jair já enalteceram a atuação das milícias.
Em 2007, o filho votou contra a instalação de uma CPI para investigar os bandos no Rio. O pai disse que esses grupos apenas “organizam a segurança na sua comunidade”.
Por décadas, o clã Bolsonaro fez política aplaudindo essas associações e se recusando a tratá-las como criminosas. Em apenas 22 dias, essas ligações foram desenterradas e abriram caminho para a segunda crise do novo governo.
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