Flávio Bolsonaro empregou parentes de ex-PM foragido a quem deu prêmio na Alerj
Bruno Abbud, Igor Mello e Vera Araújo | O Globo
Até novembro de 2018, a mãe e a mulher de Adriano da Nóbrega, ex-PM apontado como chefe do Escritório do Crime, eram funcionárias do gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Ele ainda mantém empregados quatro servidores citados em relatório de movimentações suspeitas. O gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSLRJ) empregou até novembro do ano passado a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, considerado pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. Adriano foi alvo de um mandado de prisão ontem e está foragido, acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios.
Adriano e outro integrante da quadrilha, o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, foram homenageados por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 2003 e 2004, respectivamente. Adriano é amigo de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, investigado sob suspeita de recolher parte dos salários de funcionários do político. Teria sido Queiroz — amigo do presidente Jair Bolsonaro desde os anos 1980 — o responsável pelas indicações dos familiares de Adriano.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ocuparam cargos no gabinete de Flávio Bolsonaro. Elas tinham salários de R$ 6.490,35. Segundo o Diário Oficial do Estado, ambas foram exoneradas a pedido no dia 13 de novembro de 2018. O GLOBO revelou a existência do Escritório do Crime em agosto de 2018.
Ex-integrante do Bope, Adriano se formou no curso de operações especiais da PM em 2000. Ele foi preso na operação “Dedo de Deus”, de 2011, desencadeada para combater o jogo do bicho no Rio. À época, era capitão da PM. Ele foi expulso da corporação em 2014.
“BRILHANTISMO”
Em discurso de 2007, Flávio disse que “não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas”. Para ele, à época, “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.
Raimunda é uma das servidoras do gabinete que fizeram repasses para a conta de Queiroz. A ex-assessora, de 68 anos, transferiu R$ 4,6 mil para a conta dele. Ela ocupou cargos na Alerj ao menos desde 2 de março de 2015, quando foi nomeada como assessora da liderança do PP — então partido de Flávio. A mãe de Adriano permaneceu no cargo até 31 de março de 2016, pouco depois do senador eleito deixar o PP e se filiar ao PSC. No dia 29 de junho do mesmo ano, voltou a trabalhar na Alerj, dessa vez no gabinete de Flávio. Já Danielle trabalhou por mais de 11 anos no gabinete de Flávio.
Em outubro de 2003, Flávio apresentou uma moção de louvor ao ex-PM. Ele afirmou que Adriano atuava com “brilhantismo e galhardia”. Segundo a homenagem, o ex-PM prestava “serviços à sociedade desempenhando com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades”. Em julho de 2005, Flávio concedeu uma nova homenagem ao policial. Desta vez concedeu a ele a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria do parlamento fluminense.
O relatório do Coaf aponta mais uma possível ligação entre Queiroz e Adriano. Segundo dados da Receita Federal, Raimunda é sócia de um restaurante localizado na Rua Aristides Lobo, no Rio Comprido. O estabelecimento fica em frente à agência 5663 do Banco Itaú, na qual foi registrada a maior parte dos depósitos em dinheiro vivo feitos na conta de Fabrício Queiroz. Na agência foram feitos 17 depósitos não identificados, em dinheiro vivo, que somam R$ 91.796 — 42% de todo o valor depositado em espécie nas transações discriminadas pelo Coaf, segundo um cruzamento de dados feito pelo GLOBO.
Nessa agência foram registradas transações com valores repetidos mensalmente —um indício de lavagem de dinheiro, segundo um integrante do Ministério Público Federal. Em setembro, novembro e dezembro foram feitos depósitos em espécie no valor de R$ 4.246. Já em outros seis meses foram feitas transferências entre R$ 4.200 e R$ 4.600.
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