Pesquisa feita por juiz mostra que maior parte das condenações não é precedida por investigações
Uma bem-sucedida operação realizada pela Polícia Federal em sete estados e no Distrito Federal, na manhã de 21 de fevereiro, prendeu 28 pessoas e apreendeu pelo menos 24 aeronaves de uma quadrilha acusada de traficar drogas da Colômbia e da Venezuela para o Brasil, os Estados Unidos e a Europa. Segundo investigações, o grupo, que tem ligações com facções criminosas brasileiras, teria transportado mais de nove toneladas de cocaína em 23 voos realizados em 2017 e 2018.
O modus operandi da quadrilha impressionou os investigadores. Mecânicos adulteravam aviões para aumentar a autonomia dos aparelhos e ocultavam seus prefixos, numa tentativa de escaparem da fiscalização. Até mesmo um submarino teria sido usado pelos criminosos a fim de levar a droga para a Europa e a África. Nos desdobramentos da ação, a Justiça determinou o sequestro de 13 fazendas e 10 mil cabeças de gado que pertenceriam a membros da organização criminosa.
Para que a ação alcançasse tais resultados, alguns fatores foram fundamentais. Um deles, a cooperação entre os diversos órgãos. A operação reuniu mais de 400 policiais e contou com o apoio da FAB e de instituições internacionais, como a Agência de Combate às Drogas dos EUA (DEA) e a Agência de Inteligência contra Terrorismo do Suriname (CTIU), país que está na rota dos narcotraficantes.
Tão importante quanto essa integração foi o trabalho de inteligência da Polícia Federal. As investigações, que duraram pelo menos dois anos, resultaram em 55 mandados de prisão e 47 de busca e apreensão de aviões.
Infelizmente, ações como essa são exceção no combate ao crime, em que costumam prevalecer operações atabalhoadas, feitas sem investigações ou qualquer planejamento, e que não raramente conduzem a resultados pífios.
Como mostrou reportagem publicada no GLOBO, uma pesquisa do juiz Marcelo Semer, do Tribunal de Justiça de São Paulo, revelou que, de um total de 800 sentenças por tráfico de drogas dadas pela Justiça de oito estados, apenas 11,25% das condenações foram precedidas de investigações. E 88,7% das prisões ocorreram por meio de flagrantes. “A investigação é irrisória, existe de forma tênue”, disse o magistrado.
Ainda segundo a pesquisa, mais de 70% dos processos se referem a apenas um réu. O que significa que eles não atingem o crime organizado — em apenas 22% dos casos houve denúncia por “associação criminosa”.
Num dos casos analisados pelo juiz, um rapaz foi preso em flagrante quando transportava 492 quilos de maconha. Acabou condenado a seis anos e meio de prisão. Mas, sem investigação, a polícia não conseguiu chegar aos outros membros da quadrilha.
Fica claro que, sem inteligência, são cada vez menores as chances de desarticular as organizações criminosas. E maiores as possibilidades de operações desastradas, que, no fundo, surtem pouco efeito e, muitas vezes, como acontece nos morros cariocas, acabam se tornando extremamente letais.
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