sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Agora, o sorriso de Fernanda Torres - Giovana Freire*

O filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva [1] e dirigido por Walter Salles [2] , representa um marco no cinema brasileiro e um poderoso testemunho sobre a ditadura militar.

Já tive o privilégio de escrever sobre o longa em texto publicado no antigo endereço do blog Voto Positivo (Que descanse em paz) [3], e mais uma vez gostaria de ressaltar o tanto que o filme nos acrescenta tanto em cultura quando em contexto histórico como população.

A interpretação de Fernanda Torres, premiada com o Golden Globes [4] confere à obra uma profundidade e emoção que a tornaram um fenômeno de público e crítica.

A narrativa, centrada na história de Eunice Paiva, nos convida a refletir sobre as marcas profundas deixadas pela repressão política na vida de milhares de famílias brasileiras. Ao trazer à tona um período obscuro de nossa história, o filme nos desafia a questionar: como podemos usar esse reconhecimento internacional para construir um futuro mais justo e democrático?

A indicação ao Oscar em três categorias [5], sem dúvida, são motivos de celebração. No entanto, é fundamental que não nos esqueçamos do contexto histórico que inspirou a obra. A ditadura militar foi um período marcado por graves violações dos direitos humanos, como torturas, desaparecimentos e mortes. A Comissão da Verdade [6], embora importante, não é suficiente para reparar os danos causados e garantir que crimes semelhantes não se repitam.

O sucesso de “Ainda Estou Aqui” evidencia a importância da cultura e da arte como ferramentas de conscientização e transformação social. Ao mesmo tempo, nos alerta para a necessidade de aprofundarmos nossos conhecimentos sobre a história do país e de fortalecermos as instituições democráticas.

“Todo mundo que era contra a ditadura era comunista. Todos se tornaram suspeitos, subversivos em potencial. O comunista estava na fronteira, atrás da porta, na sombra, na igreja, na escola, no cinema, no teatro, na música, no Exército, o comunista vendia pipoca, estava disfarçado em balés, óperas, podia ser seu vizinho, podia estar debaixo da sua cama, poluir o reservatório de água, dopar os bebedouros. Os comunistas tomariam o poder. Até os não comunistas eram comunistas disfarçados, foram doutrinados, sofreram lavagem cerebral.

Muitos que, em 1964, conspiraram com os militares, na missão de impedir que comunistas tomassem o poder e o Brasil se transformasse numa diabólica ditadura do proletariado, perceberam a manobra e foram acusados pelos anticomunistas de ligações com comunistas.” (Paiva, 2015, p 69)

Lembrando sempre que “É preciso dar um Jeito, Meu amigo” [7]. Dar um jeito para que as atrocidades do passado não tornem a nós silenciar. Como Historiadora em formação digo que o reconhecimento do filme que já é um marco do cinema nacional e que o mesmo seja combustível para impulsionar os jovens para uma luta por uma democracia mais justa e que este regime autoritário nunca mas venham atingir nossa grande nação.

Nós do Voto Positivo estamos na torcida, assim como todo povo brasileiro para a conquista do Oscar que não será só do elenco mas de todos nós; encerro esse artigo citando um trecho do discurso da nossa Fernanda Torres durante a conquista da estatueta.

“E isso é uma prova que a arte pode durar pela vida, até durante momentos difíceis, como esta incrível Eunice Paiva, que eu fiz, passou. E a mesma coisa que está acontecendo agora, em um mundo com tanto medo. E este filme nos ajuda a pensar em como sobreviver em momentos duros como este.” [8].

*Giovana Freire é Historiadora em Formação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Graduanda em Pedagogia pela Universidade Cândido Mendes.

[1] – Escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro, amplamente reconhecido por sua obra literária, Filho do deputado federal Rubens Paiva, vítima da ditadura militar brasileira.

[2] – Renomado diretor cinematográfico brasileiro responsável por trazer à vida a emocionante história de “Ainda Estou Aqui”

[3] – Leia aqui: https://votopositivo-cg.blogspot.com/2024/11/a-doce-politica-no-cinema-numero-23.html

[4] – Os prêmios Globo de Ouro são premiações anualmente entregues desde 1944 pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood aos melhores profissionais do cinema e televisão no mundo.

[5] – Melhor filme, melhor atriz e melhor filme internacional.

[6] – A Comissão da Verdade foi um colegiado instituído pelo Estado brasileiro para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar.

[7] – Trilha sonora do filme, É preciso dar um Jeito, meu amigo, de Erasmo Carlos (1971). Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?v=FuZ0OdtK3P8.

[8] – Trecho do discurso de Fernanda Torres ao receber a estátua do Globo de Ouro.

Referências Bibliográficas

  • PAIVA, Marcelo Rubens. Ainda estou aqui. 2. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2015.

 

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