Já tive o privilégio de
escrever sobre o longa em texto publicado no antigo endereço do blog Voto
Positivo (Que descanse em paz) [3], e mais uma vez gostaria de ressaltar o
tanto que o filme nos acrescenta tanto em cultura quando em contexto histórico
como população.
A interpretação de Fernanda
Torres, premiada com o Golden Globes [4] confere à obra uma
profundidade e emoção que a tornaram um fenômeno de público e crítica.
A narrativa, centrada na
história de Eunice Paiva, nos convida a refletir sobre as marcas profundas
deixadas pela repressão política na vida de milhares de famílias brasileiras.
Ao trazer à tona um período obscuro de nossa história, o filme nos desafia a
questionar: como podemos usar esse reconhecimento internacional para construir
um futuro mais justo e democrático?
A indicação ao Oscar em três categorias [5], sem dúvida, são motivos de celebração. No entanto, é fundamental que não nos esqueçamos do contexto histórico que inspirou a obra. A ditadura militar foi um período marcado por graves violações dos direitos humanos, como torturas, desaparecimentos e mortes. A Comissão da Verdade [6], embora importante, não é suficiente para reparar os danos causados e garantir que crimes semelhantes não se repitam.
O sucesso de “Ainda Estou
Aqui” evidencia a importância da cultura e da arte como ferramentas de
conscientização e transformação social. Ao mesmo tempo, nos alerta para a
necessidade de aprofundarmos nossos conhecimentos sobre a história do país e de
fortalecermos as instituições democráticas.
“Todo mundo que era contra a
ditadura era comunista. Todos se tornaram suspeitos, subversivos em potencial.
O comunista estava na fronteira, atrás da porta, na sombra, na igreja, na
escola, no cinema, no teatro, na música, no Exército, o comunista vendia
pipoca, estava disfarçado em balés, óperas, podia ser seu vizinho, podia estar
debaixo da sua cama, poluir o reservatório de água, dopar os bebedouros. Os
comunistas tomariam o poder. Até os não comunistas eram comunistas disfarçados,
foram doutrinados, sofreram lavagem cerebral.
Muitos que, em 1964, conspiraram com os militares, na missão de impedir que
comunistas tomassem o poder e o Brasil se transformasse numa diabólica ditadura
do proletariado, perceberam a manobra e foram acusados pelos anticomunistas de
ligações com comunistas.” (Paiva, 2015, p 69)
Lembrando sempre que “É
preciso dar um Jeito, Meu amigo” [7]. Dar um jeito para que as atrocidades do
passado não tornem a nós silenciar. Como Historiadora em formação digo que o
reconhecimento do filme que já é um marco do cinema nacional e que o mesmo seja
combustível para impulsionar os jovens para uma luta por uma democracia mais
justa e que este regime autoritário nunca mas venham atingir nossa grande
nação.
Nós do Voto Positivo estamos
na torcida, assim como todo povo brasileiro para a conquista do Oscar que não
será só do elenco mas de todos nós; encerro esse artigo citando um trecho do
discurso da nossa Fernanda Torres durante a conquista da estatueta.
“E isso é uma prova que a arte pode durar pela vida, até durante momentos difíceis, como esta incrível Eunice Paiva, que eu fiz, passou. E a mesma coisa que está acontecendo agora, em um mundo com tanto medo. E este filme nos ajuda a pensar em como sobreviver em momentos duros como este.” [8].
*Giovana Freire é Historiadora em Formação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Graduanda em Pedagogia pela Universidade Cândido Mendes.
[1] – Escritor, dramaturgo e
jornalista brasileiro, amplamente reconhecido por sua obra literária, Filho do
deputado federal Rubens Paiva, vítima da ditadura militar brasileira.
[2] – Renomado diretor
cinematográfico brasileiro responsável por trazer à vida a emocionante história
de “Ainda Estou Aqui”
[3] – Leia aqui: https://votopositivo-cg.blogspot.com/2024/11/a-doce-politica-no-cinema-numero-23.html
[4] – Os prêmios Globo de
Ouro são premiações anualmente entregues desde 1944 pela Associação de Imprensa
Estrangeira de Hollywood aos melhores profissionais do cinema e televisão no
mundo.
[5] – Melhor filme, melhor
atriz e melhor filme internacional.
[6] – A Comissão da Verdade
foi um colegiado instituído pelo Estado brasileiro para investigar as graves
violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar.
[7] – Trilha sonora do
filme, É preciso dar um Jeito, meu amigo, de Erasmo Carlos (1971). Ouça
aqui: https://www.youtube.com/watch?v=FuZ0OdtK3P8.
[8] – Trecho do discurso de Fernanda Torres ao receber a estátua do Globo de Ouro.
Referências Bibliográficas
- PAIVA, Marcelo Rubens. Ainda estou aqui.
2. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2015.
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