Folha de S. Paulo
Rodrigo Paz, o presidente eleito de
centro-direita, precisará enfrentar desafio na economia e sombra de Evo
Eleitor evita opções de direita mais
agressivas, mas novo governo vai precisar ir além de discurso pragmático
Os bolivianos vão precisar esperar até novembro para descobrir por onde passa a estrada que pegaram no último domingo com Rodrigo Paz, o presidente eleito que encerrou duas décadas de vitórias do MAS (Movimento ao Socialismo) no poder. Com uma campanha pragmática, pouco agressiva e embalada na promessa de um "capitalismo para todos", ele ainda não deu detalhes do que sua plataforma significa e chega ao poder com diferentes problemas práticos por resolver pelos próximos cinco anos.
Para começar, a população vai exigir uma
resposta rápida e certeira do novo governo para a questão da crise de falta de
gasolina e diesel. A ruptura entre o atual presidente, Luis Arce, e Evo Morales,
o líder indígena com quem o país andino se transformou em Estado plurinacional,
foi fundamental para desgastar a esquerda e abrir caminho para que o vizinho
girasse agora à direita. Mas toda crise política tem ao menos uma imagem
simbólica e, nas eleições de
2025, essa imagem foi a das longas filas nos postos de combustíveis do país.
Paz, que começa a governar a partir do dia 9,
já definiu o futuro gabinete de ministros —ainda falta anunciá-lo— como
"ágil e meritocrático". A campanha que o levou a vitória em um
segundo turno inédito foi repleta de jargões de gestor de CEO como esse e conseguiu
contrapor a oposição tradicional de direita com uma esquerda com candidatos
jovens, mas encurralada pelo fracasso do atual governo. O primeiro
teste de fogo da nova equipe será a economia, com um plano para derrubar uma
inflação anual acima de dois dígitos desde janeiro (o que destruiu os planos de
reeleição de Arce).
Em um país com histórico de vices nada
figurativos, o novo presidente terá a seu lado o capitão Edmand Lara,
ex-oficial de polícia e atual estrela do TikTok, mais popular nas redes sociais
e entre os eleitores jovens que o companheiro de chapa.
Paz derrotou Jorge "Tuto" Quiroga,
um vice que assumiu o poder por um ano após a renúncia do titular, e é filho de
Jaime Paz Zamora, um ex-vice apontado pelo Congresso e que mais tarde governou
o país.
Antes de tomar posse, o senador e ex-prefeito
de Tajira já tem sido avaliado mais pelo que a sua vitória pode simbolizar
em disputas de
outros países do que pelo seu desempenho na capital do
simpático departamento homônimo no sul do país —famoso pela produção de vinhos,
com cenários parecidos aos dos filmes de Lucrecia Martel e onde Paz não
conseguiu vencer em nenhum dos dois turnos.
Algoz do evismo e, ao mesmo tempo, menos
crítico às políticas sociais do atual governo do que a direita representada por
Quiroga, o presidente eleito rapidamente se tornou um totem dos cultuadores da
terceira via.
Resta saber qual Paz irá governar o novo
ciclo na Bolívia:
o filho de um militante, que nasceu no exílio e pregou a reconciliação em uma
campanha sob a sombra de Evo ou o senador de uma das regiões mais ricas do país
e que encerrou seu discurso de vitória com um "carajo" que bem
poderia estar em um show de rock de Javier Milei.

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