Folha de S. Paulo
Ministro vai abandonando devagar o figurino
para vestir a farda de militante político-eleitoral
Mudança se expressa na adoção do linguajar de palanque, que não usava havia bom tempo
O ministro Fernando
Haddad (PT) está diferente. Já faz
algum tempo e foi um pouco antes da onda dos ricos contra pobres. A mudança
ocorreu por ocasião da chamada crise do Pix,
quando dizia que críticas ao governo equivaliam a ataques à democracia.
De início soou um tanto estranha a inflexão
do discurso na boca do até então ministro que se atinha às questões da Fazenda
de maneira, digamos, técnica, sem se deixar levar por emoções
político/eleitorais.
Haddad representava um espaço de racionalidade no ambiente das tensões petistas
com a oposição e pagava um preço por isso no partido. Era tido quase como um
quinta-coluna. Culpado pelos revezes do governo, viu-se isolado e não raro
desqualificado por excessivamente comedido.
A situação o atingiu pessoalmente. No
semblante, era nítido o cansaço e o desconforto. A ponto de, à época, se
especular sobre sua permanência no ministério. Foi dado inclusive como excluído
das possibilidades eleitorais do PT. Alguém assim, de modos tão equilibrados,
não poderia almejar eventual substituição de Lula (PT)
na corrida presidencial ou na disputa estadual em São Paulo.
Mas isso tudo faz tempo; Fernando Haddad
mudou. Vestiu a farda de militante, adotou vocabulário de palanque e passou a
se mostrar um combatente afiado dos "nós contra eles" e agora no
embate com o Congresso, chamado pelo governo a fechar as contas públicas.
Antes disso seria inimaginável ouvir de
Haddad, por exemplo, termos como "abanar o rabo" para dizer o que o
Brasil não fará no encaminhamento da crise do tarifaço americano. Poderia
expressar a ideia de altivez de outra forma, mas a escolha das palavras não se
deu por acaso.
Pareceu também bem calculado o linguajar adotado na cobrança pela aprovação de novos impostos: "Precisamos cobrar de quem mora na cobertura e não quer pagar o condomínio". Haddad voltou a ser prestigiado e defendido no PT, passou a ser visto com reservas pelos moradores da "cobertura" e está com o maior jeito de candidato.

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