DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Em inglês pareceria título de um épico, Ciro rides again, Ciro ataca novamente, mas para retratá-lo, só em francês: enfant terrible. Garoto terrível aos 53 anos, Ciro Gomes é uma das figuras mais surpreendentes da atual cena política. Rebelde, atrevido, petulante, temerário, espantoso: em setembro de 1994, então no PSDB, exibiu pela primeira vez a sua ilimitada carga de audácia ao trocar o governo do Ceará para substituir Rubens Ricupero no Ministério da Fazenda (governo Itamar Franco) num momento em que o Plano Real seria testado nas urnas através da candidatura de FHC.
Dois anos depois se filia ao PPS e torna-se feroz adversário dos tucanos, especialmente do então ministro do Planejamento, José Serra. Em 1998, candidata-se à sucessão de FHC, perde, no pleito seguinte tenta bater Lula, Serra e Garotinho ainda pelo PPS e, em 2003, já no PSB aceita o convite de Lula para assumir a pasta de Integração Nacional. Para evitar que o seu partido não alcançasse o número mínimo de votos previsto pela "cláusula de barreiras" candidata-se a deputado federal. Deu certo.
Na atual temporada começou como candidato a governador de São Paulo (onde nasceu), passou a pré-candidato à Presidência da República e pressentindo que o PSB preparava-se para "cristianizá-lo" em favor de Dilma Rousseff repetiu a proeza predileta - um gesto espetacular. No caso uma entrevista-bomba ao portal Ultimo Segundo onde ataca o presidente Lula, o PT, o PMDB, a candidata Dilma, escancara a possibilidade de uma crise fiscal ou cambial nos próximos anos e, nestas circunstâncias, declara que o seu arqui-inimigo José Serra é o mais capacitado para presidir o País.
Extratos: "Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma m[expletivo deletado]... Minha presença nos debates e nos programas de televisão poderia provocar uma discussão...sobre o futuro do Brasil....[SERRA] é mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos... Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica aparentemente boa, a discussão fica escondida... Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir..."
Qual é a jogada, o que pretende Ciro Gomes ser vice de Marina Silva ou de José Serra? Apesar da ficha de intempestivo e imprevisível, Ciro Gomes não abriu mão da sua carreira política. Ao contrário, seu script parece claro, também a estratégia de apostar na imagem de rebelde, intransigente. Um xiita do idealismo, homem de princípios.
Seus rompantes agradam aos jovens, às mulheres. A coragem de denunciar o jogo pesado dos aloprados do PT, agrada aos liberais, conservadores, progressistas e à classe média. De repente, um carismático. Seu charme será a galhardia e a intransigência. Fidelidade a princípios.
Porventura pretende tirar Dilma do páreo e ocupar o seu lugar? O arrojado lance, talvez o mais arrojado desta temporada, ainda não pode ser integralmente avaliado. Um dado que não deve ser minimizado é a natureza do portal que veiculou a entrevista. O Ultimo Segundo pertence ao poderoso conglomerado Oi-BrT sustentado majoritariamente pelos fundos de pensão das estatais. Em outras palavras: governo. Ou um pedaço de governo que eventualmente não estaria apreciando o arrebatamento do presidente Lula e o declínio da sua candidata. Acresce que o entrevistador de Ciro foi o jornalista mais graduado do conglomerado, Eduardo Oinegue, que não brinca em serviço e não faz questão de ser paradigma de pluralismo. Não foi acidente, isso é certo. De qualquer forma, Ciro conseguiu o milagre de acabar com o chatíssimo plebiscito.
» Alberto Dines é jornalista
Em inglês pareceria título de um épico, Ciro rides again, Ciro ataca novamente, mas para retratá-lo, só em francês: enfant terrible. Garoto terrível aos 53 anos, Ciro Gomes é uma das figuras mais surpreendentes da atual cena política. Rebelde, atrevido, petulante, temerário, espantoso: em setembro de 1994, então no PSDB, exibiu pela primeira vez a sua ilimitada carga de audácia ao trocar o governo do Ceará para substituir Rubens Ricupero no Ministério da Fazenda (governo Itamar Franco) num momento em que o Plano Real seria testado nas urnas através da candidatura de FHC.
Dois anos depois se filia ao PPS e torna-se feroz adversário dos tucanos, especialmente do então ministro do Planejamento, José Serra. Em 1998, candidata-se à sucessão de FHC, perde, no pleito seguinte tenta bater Lula, Serra e Garotinho ainda pelo PPS e, em 2003, já no PSB aceita o convite de Lula para assumir a pasta de Integração Nacional. Para evitar que o seu partido não alcançasse o número mínimo de votos previsto pela "cláusula de barreiras" candidata-se a deputado federal. Deu certo.
Na atual temporada começou como candidato a governador de São Paulo (onde nasceu), passou a pré-candidato à Presidência da República e pressentindo que o PSB preparava-se para "cristianizá-lo" em favor de Dilma Rousseff repetiu a proeza predileta - um gesto espetacular. No caso uma entrevista-bomba ao portal Ultimo Segundo onde ataca o presidente Lula, o PT, o PMDB, a candidata Dilma, escancara a possibilidade de uma crise fiscal ou cambial nos próximos anos e, nestas circunstâncias, declara que o seu arqui-inimigo José Serra é o mais capacitado para presidir o País.
Extratos: "Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma m[expletivo deletado]... Minha presença nos debates e nos programas de televisão poderia provocar uma discussão...sobre o futuro do Brasil....[SERRA] é mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos... Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica aparentemente boa, a discussão fica escondida... Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir..."
Qual é a jogada, o que pretende Ciro Gomes ser vice de Marina Silva ou de José Serra? Apesar da ficha de intempestivo e imprevisível, Ciro Gomes não abriu mão da sua carreira política. Ao contrário, seu script parece claro, também a estratégia de apostar na imagem de rebelde, intransigente. Um xiita do idealismo, homem de princípios.
Seus rompantes agradam aos jovens, às mulheres. A coragem de denunciar o jogo pesado dos aloprados do PT, agrada aos liberais, conservadores, progressistas e à classe média. De repente, um carismático. Seu charme será a galhardia e a intransigência. Fidelidade a princípios.
Porventura pretende tirar Dilma do páreo e ocupar o seu lugar? O arrojado lance, talvez o mais arrojado desta temporada, ainda não pode ser integralmente avaliado. Um dado que não deve ser minimizado é a natureza do portal que veiculou a entrevista. O Ultimo Segundo pertence ao poderoso conglomerado Oi-BrT sustentado majoritariamente pelos fundos de pensão das estatais. Em outras palavras: governo. Ou um pedaço de governo que eventualmente não estaria apreciando o arrebatamento do presidente Lula e o declínio da sua candidata. Acresce que o entrevistador de Ciro foi o jornalista mais graduado do conglomerado, Eduardo Oinegue, que não brinca em serviço e não faz questão de ser paradigma de pluralismo. Não foi acidente, isso é certo. De qualquer forma, Ciro conseguiu o milagre de acabar com o chatíssimo plebiscito.
» Alberto Dines é jornalista
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