domingo, 21 de dezembro de 2025

Lulinha e o Careca no voo JJ-8148. Por Elio Gaspari

O Globo

Na noite de 8 de novembro de 2024, dois passageiros embarcaram no voo JJ-8148 da Latam com destino a Lisboa. Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente da República, foi para o assento 6J. Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, foi para o assento 3A.

A revelação é do repórter André Shalders.

O fato de terem embarcado no mesmo voo para Lisboa meses antes da mudança de Lulinha para Madri não prova coisa alguma. O cheiro de queimado vem da conduta da tropa de choque do Planalto, bloqueando todas as tentativas da CPI do INSS para ouvir Lulinha. Bloquearam até mesmo o acesso à lista de passageiros do voo JJ-8148.

Já haviam bloqueado a tentativa de ouvir o irmão mais velho do presidente, diretor de um sindicato envolvido no roubo de dinheiro dos aposentados.

A associação de Lulinha ao Careca do INSS foi feita por Edson Claro, um ex-sócio do empresário, em depoimento à Polícia Federal, revelado pela repórter Mariana Haubert. Ele citou mesadas, viagens e licitações fraudadas que poderiam ter dado a Lulinha R$ 25 milhões. É muito dinheiro e compromete a credibilidade da denúncia.

Protegendo Lulinha, a tropa de choque do Planalto blindou-o. Defesa digna do goleiro Safonov, do PSG. Pareceu uma tática eficaz. Sua vulnerabilidade está na fermentação das pistas. Trata-se de saber quem é o “filho do rapaz” que teria recebido R$ 300 mil do “Careca”.

Louvando seu governo, Lula disse na quinta-feira, que “se tiver filho meu metido nisso será investigado”. A Polícia Federal tem mandato para isso e não precisa de autorização do Planalto. O caso da CPI do INSS é diferente; os parlamentares têm mandato, mas uma oitiva precisa de autorização da maioria dos integrantes da comissão. O que se viu nos últimos meses foi a blindagem do filho e do irmão do presidente. Não estava em questão investigá-los ou não, tratava-se apenas de ouvi-los, e a tropa de choque do governo barrou os requerimentos.

Lulinha pode explicar sua presença num vôo para Lisboa algumas fileiras atrás do Careca do INSS.

Em outubro do ano passado, um mês antes do voo JJ-8148, uma auditoria do INSS já havia apontado que os descontos indevidos nas contas dos aposentados chegavam a R$ 45 milhões.

Lulinha e suas conexões

No primeiro mandato de Lula, seu filho acabou encrencado com a empresa de telefonia Telemar.

Graças a um banqueiro amigo, conseguiu um contrato para sua empresa de vídeos, a Gamecorp.

A Telemar investiu R$ 2,5 milhões na Gamecorp, mas ela não prosperou.

Lulinha é biólogo por formação. Antes de se tornar empresário, foi monitor no Jardim Zoológico de São Paulo.

Isso tudo aconteceu há quase 20 anos. Era um tempo em que Geraldo Alckmin, seu adversário, chamava-o de “cara de pau”, mas pedia perdão pela “deselegância”.

Os personagens do rolo do INSS

A crise da quadrilha que roubava o dinheiro dos aposentados do INSS lembra cenas da ida de Luke Skywalker à Cantina de Mos Esley, onde estavam os seres mais detestáveis da galáxia.

Roubando a cena, lá está o Careca do INSS que negociava com maconha medicinal, junto com uma ricaça socialista que foi casada com um delegado da Polícia Federal.

Luke foi salvo por Obi Wan Kenobi, que apareceu no bar com sua espada de laser e livrou o rapaz.

Gleisi x Wagner

As relações de Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, com Jaques Wagner, líder do governo no Senado, não eram perfeitas. Com a encrenca da votação da dosimetria, pioraram.

Por iniciativa de Gleisi, eles bateram boca nas redes sociais. Coisa inédita.

Dosimetria

A calma de Lula ao anunciar que vetará o projeto da dosimetria, pois “esse é o jogo”, sugere que ele está certo de que seu veto não será derrubado.

Para derrubar um veto são necessários os votos de 41 senadores.

Se o veto cair no plenário, ele poderá continuar dizendo que este é o jogo jogado.

A pena de Bolsonaro

Admita-se que o veto de Lula ao projeto de lei de redução das penas impostas aos hierarcas da trama golpista e à sua infantaria vândala do 8 de Janeiro não seja derrubado. Nesse caso, Jair Bolsonaro, condenado a 23 anos em regime fechado, só terá direito à progressão da pena em abril de 2033, quando terá completado 78 anos.

Desde 2018, quando foi esfaqueado em Juiz de Fora, Bolsonaro passou por pelo menos quatro cirurgias, totalizando 22 horas. Sua saúde é sabidamente precária, por conta de uma facada recebida de um desequilibrado, movido por motivos políticos.

Um ex-presidente que morre preso interessa ao país?

O ministro do Exército, Sylvio Frota, engrandeceu-se ao contestar o luto oficial concedido pelo presidente Ernesto Geisel a Juscelino Kubitschek, em 1976 ?

O próprio Geisel engrandeceu-se, meses depois, permitindo que a viúva de João Goulart trouxesse o marido morto para São Borja, desde que o carro, saindo de Uruguaiana, não parasse por todo o percurso de 180 quilômetros?

Ramagem nos EUA

É improvável que o governo americano extradite o ex-deputado Alexandre Ramagem. A extradições são complicadas por si mesmas. No caso de Ramagem, um ex-chefe da Abin, tem um acervo de informações de algum valor para os americanos.

Ele contará tudo o que sabe, até porque seu arquivo, aberto, lhe é útil. Fechado, leva água para uma ameaçadora extradição.

Galípolo cuidou do BC

O Banco Central pode ter demorado a detonar o Master, mas cuidou de proteger seus passos.

Quando Gabriel Galípolo disse em sua entrevista de fim de ano que documentou todos os encontros e reuniões para tratar do caso, justificou o passado e preveniu o futuro.

Como a documentação prosseguirá, o presidente do Banco Central avisou que a instituição continuará a se proteger contra iniciativas no generoso tapetão do Judiciário.

Como ensinam os talonários dos bicheiros do Rio: “Vale o que está escrito”.

Eduardo Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro conseguiu seus 15 dias de fama. Cassado, viu cumprir-se seu temor de que a Casa Branca o abandonaria depois da carta ameaçadora (e vã) de Trump a Lula.

Daqui para a frente seu caminho será íngreme e debaixo de chuvas, com poucas companhias.

Malvadeza com Haddad

Por uma questão de lealdade, Fernando Haddad fará o que Lula mandar, mas atirá-lo na cova dos leões da sucessão pelo governo paulista é malvadeza.

O atual governador, Tarcísio de Freitas, tem a reeleição praticamente garantida. Se ele sair para a Presidência, poderá indicar Gilberto Kassab para a disputa. Kassab e Tarcísio cultivam o eleitorado do interior como se fosse o único. A capital, derrotando Guilherme Boulos por uma margem de quase 1 milhão de votos, mostrou que não é curral.

Pelo lado de Haddad, ele ganhou a prefeitura de São Paulo em 2012, quando era chamado de poste de Lula.

Quatro anos depois, tentou a reeleição mas foi batido.

Em 2018 foi para o sacrifício como candidato à Presidência, com Lula na cadeia e Jair Bolsonaro no seu apogeu.

Em 2022 parecia favorito na disputa com Tarcísio de Freitas, um carioca que mal conhecia o estado. Perdeu.

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