domingo, 21 de dezembro de 2025

Brasil precisa de um plano de inserção. Por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Brasil tem de fazer acenos à Ásia-Pacífico, que concentra muitos países dinâmicos e abertos aos negócios

O ano de 2025 valeu por uma década. Uma nova ordem geoeconômica toma corpo. O Brasil precisa se elevar acima de suas aflições e disputas internas para elaborar um plano de inserção nesse mundo repleto de riscos e de oportunidades.

Assistimos a um encolhimento abrupto do Ocidente, entendido não como geografia, mas como conjunto de valores do pós-2.ª Guerra. A aliança transatlântica, que sustentava essa ordem, sofreu uma fratura muito difícil de reparar, porque envolve confiança.

Ela foi formalizada na nova Estratégia de Segurança Nacional (ESN) dos EUA, na qual a Europa é apresentada como adversário, por causa de seus valores liberais. Esse documento desloca as preocupações americanas da Ásia, Oriente Médio e Europa para a América Latina.

Congresso legalizou roubar voto de pobre. Por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Legislativo traiu os trabalhadores que, para votar, tiveram que driblar bloqueios de estrada ordenados por Bolsonaro

Roleta será instalada na porta do Congresso para que o sujeito de direita compre revisão de dosimetria em caso de golpe fracassado

Congresso Nacional reduziu a pena de quem tentou roubar voto de pobre.

Os que tentaram roubar as armas da República para perpetuar sua facção no poder e matar seus adversários sob tortura também foram beneficiados.

De agora em diante, uma roleta será instalada na porta do Congresso para que o sujeito de direita, em caso de golpe fracassado, já se dirija ao centrão para comprar "revisão de dosimetria" com emendas do orçamento secreto. Aceitarão dinheiro vivo também, Sóstenes, pode ficar tranquilo.

Com Marçal, Flávio Bolsonaro pode reviver campanha disruptiva de 2018. Por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

Silas Malafaia é contrário à candidatura do senador à Presidência

Conflito entre pastor e influenciador pode voltar à cena eleitoral

Estamos caminhando para um rompimento entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia? Na semana passada, o pastor se posicionou publicamente contra a pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro.

As declarações de Malafaia circularam nos jornais ao lado de outra notícia relevante: o influenciador Pablo Marçal se encontrou com Flávio e, durante um culto, orou por sua pré-candidatura.

Disputa eleitoral trava combate ao crime. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O ano legislativo se encerra sem que deputados e senadores respondam à demanda popular por segurança

Tudo indica que 2026 será um ano perdido com promessas de palanque e embates improdutivos no Congresso

Foi-se mais um ano legislativo sem que o Congresso conseguisse produzir resposta consistente à aflição do público subtraído no seu sagrado direito de ir e vir em razoável segurança.

Isso ocorre num momento periclitante para o Judiciário, o agente detentor da punição de ilícitos, posto na berlinda por uma série de incorreções cometidas em suas variadas instâncias.

Genealogia do crime perfeito. Por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

O feminicídio é problema antigo, mas dele se falava pouco, fossem as vítimas ou as autoridades

O choque atual parece ter a ver com o fim de outra forma de violência, o silêncio

Epidemia (do grego "epi-demos") significa literalmente aquilo que incide de forma direta, sem mediações, sobre o povo. Por isso nomeia surtos inesperados de doenças infecciosas em várias regiões. Endemia, por outro lado, é a manifestação desse fenômeno de modo estável. Choque e perplexidade têm levado frações de público a falar de uma "epidemia" de feminicídios e violências contra as mulheres, talvez devido ao aumento extraordinário de casos, mas esse é um mal culturalmente endêmico. Sempre existiu como uma recorrência em graus variáveis, a depender da região.

INSS, roubança e incompetência. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Além de evidências cada vez mais extensas de fraude, fila cresce muito

Governo Lula 3 ainda não tomou providência maior para reformar o sistema

O sistema de concessão de benefícios da Previdência não funciona. Uma prova simples do problema é o número de cidadãos na fila do INSS, que aumentou em 49% em um ano, para 2,86 milhões de requerimentos à espera de solução. Esse escândalo administrativo dá o que pensar sobre inércia reformista e ativismo corrupto.

"Sistema de concessão" é uma expressão feia e obscura como quase todas as que incluem a palavra "sistema". Serve para dizer que o assunto é de responsabilidade, ao menos, do ministério da Previdência, do seu Departamento de Perícia Médica, do INSS (vinculado ao ministério) e da Dataprev (estatal que processa também os dados dos benefícios previdenciários, vinculada ao ministério da Gestão). Uns atribuem aos outros a conta da ruína.

(Gilvan e Graziela) Exilados voltam e passam o Natal presos - Feliz Natal a todos!


Jornal do Brasil - terça-feira, 26/12/78

Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas

Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes

Fora do país há seis anos, absolvido em setembro último da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.

O Sr. Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia, de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com parentes.

GARANTIA

Hoje, com 43 anos, o Sr. Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi demitido do INPS por decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para Buenos Aires, Porto Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação de Fomento.

Com a derrubada do Governo Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país onde o Sr. Gilvan conseguiu trabalho numa empresa de administração. Morou durante algum tempo em Cuba que lhe forneceu documento de identidade.

Ao saber de sua absolvição em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de setembro, o Sr. Gilvan consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a garantia de que poderia voltar normalmente apenas com a carteira de identidade brasileira emitida em 1972 se viajasse por uma empresa aérea brasileira.

A família embarcou num voo da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às 19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal e os dois filhos foram informados de que teriam que prestar depoimentos, por não estarem com passaportes.

Após entendimento com os policiais, o Sr. Gilvan conseguiu que os filhos fossem liberados, enquanto ele e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na Av. Rodrigues Alves. Ali passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O advogado Humberto Jansen chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o casal, às 11h, depois que os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um. 

No questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. Agora o que quero fazer mesmo é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr. Gilvan.

E Carlos Drummond de Andrade decretou o verão: em crônica inédita, poeta ironizou o AI-5 em janeiro de 1978

Por Bolívar Torres / O Globo

Nunca publicado em livro, texto pedia que cariocas curtissem a ‘mais trepidante das estações’

Janeiro de 1978. No artigo 1º de seu “Ato Institucional do Verão Carioca”, Carlos Drummond de Andrade decreta: “Todos os moradores da cidade do Rio de Janeiro, ricos ou pobres, de qualquer raça, religião, profissão ou falta de profissão, convicção ou ausência de convicção política, têm igual direito a curtir as excelências do verão, também chamada estação calmosa, embora seja a mais trepidante das estações”.

Publicada na revista masculina Status naquele mesmo mês e ano, a crônica do poeta mineiro reúne 20 artigos que ironizam as regras de convivência, os abismos sociais e as estratégias de sobrevivência diante do caos urbano e do calor. Também satiriza os decretos da ditadura militar, que vivia o último suspiro do Ato Institucional nº 5 (AI-5) e ensaiava uma abertura lenta e gradual.

Como inúmeras outras colaborações de Drummond para a imprensa, este “Ato Institucional do Verão Carioca” permanece inédito em livro, e é obscuro até mesmo entre especialistas da obra do autor. Merece ser resgatado quase 50 anos depois, neste 21 de dezembro em que começa a mais carioca das estações.

— É um texto que destoa da obra do Drummond pela forma paródica do discurso oficial, no caso plena de absurdos e arbitrariedades — observa o crítico e poeta Antonio Carlos Secchin, que desconhecia a crônica. — Essa divisão em artigos de lei, numerados, não é usual.

Chopinho gelado

Responsável por encontrar diversos poemas inéditos de Drummond em 2009 e autor de “Papéis de poesia: Drummond & mais (2014)”, o imortal da Academia Brasileira de Letras destaca o lado satírico da crônica, que “atira em vários alvos”.

Drummond mira regras sociais, estruturas de poder, a ganância que inflaciona o chope e os refrescos, os privilégios que definem a experiência estival. Como um burocrata tentando domar o lirismo da vida, trata o calor como política pública, o bom humor como obrigação cívica e a praia como “praça do povo”.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

UE é responsável pela sina do acordo com Mercosul

Por O Globo

Protecionistas são poucos, mas fizeram de tudo para torpedear qualquer tipo de tratado

Em comunicado à Câmara dos Deputados da Itália na semana passada, a primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que a assinatura do acordo de livre-comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul era “ainda prematura”. “É necessário aguardar que o pacote de medidas adicionais para proteger o setor agrícola seja aperfeiçoado e, ao mesmo tempo, apresentá-lo e discuti-lo com nossos agricultores”, disse Meloni. Ela cerrou fileiras contra o tratado com o presidente francês, Emmanuel Macron. Os dois comandaram a barreira erguida na reunião de cúpula dos 27 integrantes da UE em Bruxelas que deveria ter referendado o documento a tempo de ser assinado ontem, em Foz do Iguaçu (PR), na cúpula do Mercosul. Sem aval do Conselho Europeu, o acordo não saiu. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que uma nova data será marcada em janeiro.

Poesia | O Auto do frade - Frei Caneca, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Moreira da Silva - Rei do Gatilho