DEU NO VALOR ECONÔMICO
Um enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá isso se mostrar necessário
Impossível crer que Lula sairá de cena nesses próximos quatro anos, mesmo vencendo sua candidata. Por isso mesmo, mais uma razão para ficar. Deve se dedicar à preparação do futuro, sua volta oficial e, para isto, é melhor parecer que nem saiu, fincando pé num palanque permanente, tal como fez nos oito anos de mandatos oficiais.
Sem dar o menor sinal de que isto é colocar o carro à frente, as conversas mais instigantes no governo e no PT, hoje, são menos a continuidade do momento, seja lá o que isso represente em termos de programas caso Dilma Rousseff seja eleita presidente, mas o que será um quarto e um quinto governos Lula, em 2014 e 2018, além de por onde se dará a preparação nos próximos quatro anos. Mais precisamente, que promessa poderá fazer ao eleitorado sobre o que pretende oferecer de si mesmo, quando o sinal bater o fim do intervalo ocupado em preparativos.
É um mistério que nem os mais próximos ousam decifrar por antecipação, não há sequer indícios de que tipo de governo gostaria de fazer depois dessa transição. Mas sobre o que acontecerá durante a travessia, a elucubração tem sido livre.
Há o PT que, nesses próximos quatro anos terá uma força superlativa. Volta ao jogo, ainda que sem mandato, José Dirceu, o mais longevo oráculo do partido. Sensibilizou o grupo que permaneceu no poder, após seu afastamento, por uma atuação firme agora, não tanto reservada, naquela atividade a que as campanhas eleitorais são absolutamente sensíveis. A força interna, Dirceu nunca perdeu, apenas hibernou por uns meses enquanto a opinião pública não chegava ao atual consenso de que tudo o que diz respeito a Lula é divino.
Menos sutil foi a volta de Antonio Palocci, e será uma força considerável nessa transição de quatro anos. Nem o presidente conseguiu imaginar que conseguiria, em tão pouco tempo, passar uma borracha nas marcas de tudo o que é alheio à ética deixadas pelos petistas mais eminentes aos de escalão mais baixo, dos dirigentes aos aloprados, que imaginaram uma vida nas sombras por mais tempo do que acabou sendo necessário.
Há o PMDB, que desta vez se impôs mais caro mas já provou, antes mesmo da abertura das urnas, que valeu a pena. Por mais que o PT considere que não lhe deve muito mais além do cargo de vice-presidente, o partido emerge fortalecido pela união e pela aposta eleitoral. Vai querer, no mínimo, a metade. Esses dois grandes partidos da aliança já apressados nesta disputa, certos que estão de uma vitória no primeiro turno.
Ambos sairão das urnas com grandes bancadas da Câmara e do Senado e já agora preveem constrangimentos mútuos porque se acham no direito de ficar com a presidência das duas Casas. Disputam também os cargos do governo, e nesse estado devem permanecer ao longo de todo o trajeto. Para cada Maria da Graça Foster cogitada para assumir o ministério das Minas e Energia, e para cada Luciano Coutinho cogitado para o Ministério da Fazenda, auxiliares da confiança e da cota da presidente se eleita Dilma for, haverá um Edison Lobão e um Henrique Meirelles oferecidos a título de contribuição do PMDB para os mesmos postos. Fora as listas de senadores e deputados aptos a assumir a metade da Esplanada de Ministérios, das presidências de estatais, quiçá da totalidade de suas diretorias. Isto se administra no dia a dia da temporada de transição e faz parte dos preparativos do futuro.
Às bancadas do PT e do PMDB se somarão as do PSB, PCdoB, PDT, formando fáceis maiorias para o que Lula precisar organizar tendo no horizonte os mandatos seguintes.
Do PT e do PDT virá também a renovação de forças das centrais sindicais, avassaladoras no governo Lula e uma presença tão desconcertante que ainda incomoda ao comando do governo tratar com distanciamento esse assunto. "Tiveram a mesma força que os empresários, e é o que terão no governo Dilma, nem mais, nem menos", diz um analista próximo ao presidente Lula. Podem ter mais, pela necessidade de equilibrar a contenda entre PT e PMDB, e poderão ser eficientes coadjuvantes da missão Lula.
De oposição, neste próximos quatro anos, nem se cogita nestas prospecções. Acredita o governo que ela vai minguar de forma absoluta. "Esta é a última eleição com fla-flu; isto acabou no Brasil", diz um analista do governo que antevê, no máximo, um Aécio Neves, ex-governador de Minas, eleito senador, na liderança do que restar de PSDB, DEM, PPS. Isto, claro, se não migrar para o PMDB, credenciando-se para o pós 2018.
"Palocci vai mandar menos do que está achando que vai; José Dirceu vai mandar mais do que deixa transparecer; o PMDB não vai ter a participação que quer; Lula não vai para casa, como disse lá atrás, quando ainda não conhecia o efeito eleitoral de sua popularidade; terá atuação política mas não será um primeiro ministro; mas uma coisa é certa, é Lula quem articula o governo Dilma, que vai começar exatamente pela reforma política", resume um privilegiado petista frequentador ocasional das conversas de Palácio.
É Lula, portanto, no comando da viagem para a próxima parada, seus próximos mandatos oficiais. Uma jornada de transição que pode servir ao enfrentamento das questões difíceis, como a reforma política, a reorganização do quadro partidário, a reforma tributária, tudo com uma força de quem pode voltar proximamente com o poder formal de novo.
Para os próximos dias a instrução é não esmorecer, não dispersar, derrubar cidadelas que ainda resistem, desidratar a candidata Marina Silva, dar prioridade a São Paulo, desligar aparelhos de adversários que ainda respiram com esta ajuda. Nos quatro anos seguintes, fazer a arrumação política e adotar medidas que são requesitos à próxima década. O enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá o tempo mostrar que isso voltou a ser necessário em política.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Um enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá isso se mostrar necessário
Impossível crer que Lula sairá de cena nesses próximos quatro anos, mesmo vencendo sua candidata. Por isso mesmo, mais uma razão para ficar. Deve se dedicar à preparação do futuro, sua volta oficial e, para isto, é melhor parecer que nem saiu, fincando pé num palanque permanente, tal como fez nos oito anos de mandatos oficiais.
Sem dar o menor sinal de que isto é colocar o carro à frente, as conversas mais instigantes no governo e no PT, hoje, são menos a continuidade do momento, seja lá o que isso represente em termos de programas caso Dilma Rousseff seja eleita presidente, mas o que será um quarto e um quinto governos Lula, em 2014 e 2018, além de por onde se dará a preparação nos próximos quatro anos. Mais precisamente, que promessa poderá fazer ao eleitorado sobre o que pretende oferecer de si mesmo, quando o sinal bater o fim do intervalo ocupado em preparativos.
É um mistério que nem os mais próximos ousam decifrar por antecipação, não há sequer indícios de que tipo de governo gostaria de fazer depois dessa transição. Mas sobre o que acontecerá durante a travessia, a elucubração tem sido livre.
Há o PT que, nesses próximos quatro anos terá uma força superlativa. Volta ao jogo, ainda que sem mandato, José Dirceu, o mais longevo oráculo do partido. Sensibilizou o grupo que permaneceu no poder, após seu afastamento, por uma atuação firme agora, não tanto reservada, naquela atividade a que as campanhas eleitorais são absolutamente sensíveis. A força interna, Dirceu nunca perdeu, apenas hibernou por uns meses enquanto a opinião pública não chegava ao atual consenso de que tudo o que diz respeito a Lula é divino.
Menos sutil foi a volta de Antonio Palocci, e será uma força considerável nessa transição de quatro anos. Nem o presidente conseguiu imaginar que conseguiria, em tão pouco tempo, passar uma borracha nas marcas de tudo o que é alheio à ética deixadas pelos petistas mais eminentes aos de escalão mais baixo, dos dirigentes aos aloprados, que imaginaram uma vida nas sombras por mais tempo do que acabou sendo necessário.
Há o PMDB, que desta vez se impôs mais caro mas já provou, antes mesmo da abertura das urnas, que valeu a pena. Por mais que o PT considere que não lhe deve muito mais além do cargo de vice-presidente, o partido emerge fortalecido pela união e pela aposta eleitoral. Vai querer, no mínimo, a metade. Esses dois grandes partidos da aliança já apressados nesta disputa, certos que estão de uma vitória no primeiro turno.
Ambos sairão das urnas com grandes bancadas da Câmara e do Senado e já agora preveem constrangimentos mútuos porque se acham no direito de ficar com a presidência das duas Casas. Disputam também os cargos do governo, e nesse estado devem permanecer ao longo de todo o trajeto. Para cada Maria da Graça Foster cogitada para assumir o ministério das Minas e Energia, e para cada Luciano Coutinho cogitado para o Ministério da Fazenda, auxiliares da confiança e da cota da presidente se eleita Dilma for, haverá um Edison Lobão e um Henrique Meirelles oferecidos a título de contribuição do PMDB para os mesmos postos. Fora as listas de senadores e deputados aptos a assumir a metade da Esplanada de Ministérios, das presidências de estatais, quiçá da totalidade de suas diretorias. Isto se administra no dia a dia da temporada de transição e faz parte dos preparativos do futuro.
Às bancadas do PT e do PMDB se somarão as do PSB, PCdoB, PDT, formando fáceis maiorias para o que Lula precisar organizar tendo no horizonte os mandatos seguintes.
Do PT e do PDT virá também a renovação de forças das centrais sindicais, avassaladoras no governo Lula e uma presença tão desconcertante que ainda incomoda ao comando do governo tratar com distanciamento esse assunto. "Tiveram a mesma força que os empresários, e é o que terão no governo Dilma, nem mais, nem menos", diz um analista próximo ao presidente Lula. Podem ter mais, pela necessidade de equilibrar a contenda entre PT e PMDB, e poderão ser eficientes coadjuvantes da missão Lula.
De oposição, neste próximos quatro anos, nem se cogita nestas prospecções. Acredita o governo que ela vai minguar de forma absoluta. "Esta é a última eleição com fla-flu; isto acabou no Brasil", diz um analista do governo que antevê, no máximo, um Aécio Neves, ex-governador de Minas, eleito senador, na liderança do que restar de PSDB, DEM, PPS. Isto, claro, se não migrar para o PMDB, credenciando-se para o pós 2018.
"Palocci vai mandar menos do que está achando que vai; José Dirceu vai mandar mais do que deixa transparecer; o PMDB não vai ter a participação que quer; Lula não vai para casa, como disse lá atrás, quando ainda não conhecia o efeito eleitoral de sua popularidade; terá atuação política mas não será um primeiro ministro; mas uma coisa é certa, é Lula quem articula o governo Dilma, que vai começar exatamente pela reforma política", resume um privilegiado petista frequentador ocasional das conversas de Palácio.
É Lula, portanto, no comando da viagem para a próxima parada, seus próximos mandatos oficiais. Uma jornada de transição que pode servir ao enfrentamento das questões difíceis, como a reforma política, a reorganização do quadro partidário, a reforma tributária, tudo com uma força de quem pode voltar proximamente com o poder formal de novo.
Para os próximos dias a instrução é não esmorecer, não dispersar, derrubar cidadelas que ainda resistem, desidratar a candidata Marina Silva, dar prioridade a São Paulo, desligar aparelhos de adversários que ainda respiram com esta ajuda. Nos quatro anos seguintes, fazer a arrumação política e adotar medidas que são requesitos à próxima década. O enigma a ser decifrado é com que proposta Lula se apresentará ao eleitorado, se até lá o tempo mostrar que isso voltou a ser necessário em política.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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