A demissão anunciada do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, não reduziu ontem a desconfiança dos investidores. Os títulos da dívida soberana do país foram refinanciados com juros recordes de 7,48% e as bolsas europeias fecharam em queda. Na Grécia, fracassam tentativas de formação de governo de união
Saída de Berlusconi não acalma mercado
Renúncia do premiê italiano, prometida para 18 de novembro, não alivia pressão de investidores; ágio por títulos da dívida chega a 7,48%
Andrei Netto
PARIS - A demissão anunciada do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, não reduziu ontem a desconfiança dos investidores em relação aos títulos da dívida soberana do país.
No dia em que Il Cavaliere anunciou sua renúncia, as obrigações italianas com validade de dez anos foram refinanciadas nos mercados com juros de 7,48% - recorde considerado insustentável em longo prazo. Nas bolsas, a crise da Europa não para de provocar perdas: em Milão, a queda chegou a 3,78%.
A tensão nos mercados contrariou o discurso de analistas políticos e econômicos, que apostavam na redução da pressão dos investidores depois da saída de Berlusconi - apontado na União Europeia como a maior fonte de crise na Itália.
A realidade, entretanto, se mostrou diferente. Depois de terem fechado em 6,8% na noite de terça-feira, os juros cobrados pelos bônus do Tesouro italiano com validade de dez anos chegaram a 7,6% ao meio-dia, recuando a 7,48% ao fim das transações, mesmo com a intervenção do Banco Central Europeu (BCE), que voltou a comprar bônus, sem evitar a elevação.
A neurose em relação aos riscos provocados pelo eventual contágio da crise das dívidas pela Itália também derrubou as bolsas de todo o continente. Em Milão, as ações de bancos como o Unicredit caíram quase 7%. Em Frankfurt, o índice DAX fechou em queda de 2,21%, enquanto em Paris e Londres os recuos foram de 2,17% e 1,92%.
Além da crise política provocada pela renúncia de Berlusconi, marcada para 18 de novembro, após a aprovação da nova lei orçamentária, o pessimismo foi causado pela informação de que um socorro à Itália poderia custar ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) € 1,4 trilhão - dinheiro que os fundos não têm.
De acordo com Gary Jenkins, da consultoria Evolution Securities, de Londres, o cálculo é baseado nos custos dos pacotes da Grécia, da Irlanda e de Portugal, além dos programas de compra de dívidas do BCE - tudo somando € 512 bilhões. "Então se deve multiplicar por 2,7 para estimar o custo do socorro da Itália."
Diante da reação dos mercados, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, demonstrou sua preocupação em visita à China. "Se nós não agirmos juntos, a economia mundial corre o risco de uma espiral de incerteza e instabilidade financeira", afirmou a executiva, advertindo: "A economia do planeta entrou em uma fase perigosa e incerta".
Uma das fontes de preocupação na Itália é a falta de definição sobre o sucessor de Berlusconi. Angelino Afano, jurista, dirigente do Partido da Liberdade (PDL) e fiel do premiê demissionário; Mario Monti, ex-comissário europeu e nomeado ontem senador vitalício; Giuliano Amato, ex-primeiro-ministro entre 1992 e 1993 e entre 2000 e 2001; e Gianni Letta, secretário de Estado e membro do gabinete de Berlusconi, são os favoritos. Mas até a noite de ontem nenhuma definição havia sido encaminhada.
Credibilidade. A situação levou o presidente, Giorgio Napolitano, a pedir agilidade aos líderes políticos, ressaltando que o país precisa recuperar "a credibilidade e a confiança" como país "para nos tirar desse perigoso jogo que pressiona nossa dívida pública e as condições de nossos bancos nos mercados."
Embora a Itália apresente orçamentos equilibrados há 16 anos, sua dívida chega a 121% - ou € 1,9 trilhão. Os dois planos de austeridade anunciados até aqui por Berlusconi, o primeiro em julho, de € 47,5 bilhões, e um segundo em setembro, de € 54,2 bilhões, não foram suficientes para acalmar os investidores.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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