A derrubada de Silvio Berlusconi do cargo de chefe de governo, por si só, não melhora a situação das finanças da Itália, a terceira maior economia do bloco do euro. Ele pode ter agravado a encrenca, mas não foi a causa dela.
É pouco provável que o Parlamento italiano aprove um pacote econômico suficientemente robusto, capaz de virar rapidamente esse jogo – hoje perdedor. Se, por um lado, um forte aperto dos cintos poderia reerguer a credibilidade imediata nos mercados, por outro, provocaria efeitos colaterais devastadores, como recessão, desemprego, perda de arrecadação e, lá na frente, talvez deixasse o país em piores condições de honrar a dívida.
Nesta terça-feira, o rendimento (yield) dos títulos da Itália saltou para acima dos 7%, o nível que lá atrás disparou o pedido de socorro para Portugal e Grécia (veja, ainda, o Confira).
Há dúvidas de que a área do euro consiga construir blindagem suficiente para impedir a deterioração das finanças italianas. Isso significa que, em vez de diminuir, o risco de descontrole e de contágio está aumentando. As eventuais consequências de uma reestruturação da dívida da Itália (corte da dívida) seriam mais do que simplesmente preocupantes. Se mais de 100 bilhões de euros são necessários apenas para recapitalizar bancos europeus depois do calote grego, imagine-se o que não seria exigido se fosse para montar uma operação parecida, dessa vez para evitar o colapso dos credores da Itália, que tem dívida cinco vezes maior do que a da Grécia.
Os especialistas repetem que, numa paisagem de paradeira econômica, qualquer recuperação é muito mais difícil. Daí por que a estratégia correta seria colocar em marcha o crescimento econômico e a criação de empregos. Até agora ninguém explicou como se faz isso. Keynes, é claro, avisou que seria preciso liberar investimentos e produzir um amplo New Deal para recolocar a máquina em movimento. Mas de onde tirar esses recursos se os Estados estão prostrados por dívidas colossais?
Enfim, as portas de saída serão bem mais raras. Talvez a opção restante seja a que hoje ainda está sendo considerada impensável: acionar o Banco Central Europeu (BCE) para que emita moeda e refinancie o rombo acumulado da Itália – apesar de todos os desdobramentos que um passo desses pudesse provocar. De quebra, essa operação produziria certa inflação que provocaria um encolhimento na dívida real dos Estados.
Antes disso, os alemães e todos os ortodoxos europeus tratarão de soltar as fúrias dos seus porões contra o atropelamento dos tratados e das regras de boa governança dos bancos centrais que uma saída dessas implicaria. Mas dificilmente apresentariam melhor escolha. E, é óbvio, esse precedente leva o perigo de causar mais estragos à confiança no euro.
Ainda assim, se for bem conduzida – o que é difícil –, a mobilização do BCE como emprestador de última instância a devedores soberanos, no máximo, conseguiria evitar a implosão desordenada da Eurolândia. Em seguida, ou até mesmo simultaneamente, seria necessário repensar e reconstruir tudo.
CONFIRA
Acima, mais um recorde. Nesta terça, o rendimento (yield) de 10 anos dos títulos da Itália avançou para 7,25% ao ano, ou 5,7 pontos porcentuais acima do que pagam os da Alemanha.
Periferia. Quem achava injusta e descabida a incorporação da Itália à sigla PIIGS, que lembra porco em inglês (pig), agora já não pode mais impedir que maldades desse tipo continuem aparecendo no noticiário econômico dos jornais. A terceira maior economia do bloco agora também está formando a chamada “periferia do euro”.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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