"Intervencionista", "dura", com ministros caindo pelas tabelas, presidente é ainda popular no empresariado
É raro ouvir de empresários e da alta direção de empresas queixas muito hostis contra Dilma Rousseff. Aliás, não se vê oposição dura à presidente em quase parte alguma.
A oposição partidária é quase invisível, ainda mais depois que Gilberto Kassab (PSD) e Eduardo Campos (PSB) sangraram PSDB e DEM.
Transcorrido um quarto do mandato da presidente, as críticas pontuais mais agressivas e públicas do mundo empresarial vieram, por exemplo, de importadores de automóveis, devido ao Imposto de Importação. Mas se trata de minoria.
Houve críticas agressivas, mas reservadas, da cúpula do mercado financeiro, muito irritada com a intervenção do governo nas Bolsas e com controles de capitais. Porém, discretamente, como de costume, governo e mercado se acertam.
A julgar pelo jeitão meio intervencionista (em economia) e duro (nas negociações) da presidente, era razoável esperar mais conflito, ainda que "nas internas", no "bastidor".
Dado, além do mais, que o governo perdeu seis ministros devido a rolos vários, havia motivo e razões para basear críticas e ações de desgaste político do governo. Não vem ao caso que empresários não deem ou não dessem a mínima para as malversações nos ministérios. As vergonheiras do Planalto serviriam de instrumento para cutucar politicamente o governo, caso houvesse insatisfação ou interesse maiores.
Mas Dilma, o governo e PT e "base" parecem coisas completamente diferentes. Dilma, por alguma graça, está blindada, como diz o clichê.
Mais que isso, conta com apoio até muito direto da cúpula empresarial. Jorge Gerdau, um líder empresarial discreto mas muitíssimo influente, assessora a presidente com análises e sugestões de reforma da administração pública.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Empresarial), um think tank da indústria, é pró-Dilma nas ideias ("desenvolvimentistas") e em pessoas (seus líderes conversam bem com os governos petistas desde Lula). O presidente da combalida Fiesp é Paulo Skaf, do PMDB, da "base governista".
As grandes empresas quase todas foram bem tratadas no BNDES. Os discretíssimos empreiteiros estão felizes. Muita vez, eles e Dilma são aliados fortes nos embates com Ibama, índios, procuradores etc.
O pessoal da construção civil ficou meio amuado neste ano devido ao corte nos investimentos federais e aos atrasos no Minha Casa, Minha Vida, mas em linhas gerais está de bem com o governo.
O pessoal do grande comércio parece não ver crise alguma -nem poderia, ao contrário do pessoal da indústria, bem avariada por câmbio, juros altos, restrição de crédito e crise econômica no mundo rico.
Mas mesmo os industriais estão mais quietos. Ouve-se menos queixa contra o câmbio. Um setor ali e outro aqui recebe isenções de impostos. As associações de pequenas empresas ficaram felizes com a nova legislação do Simples. Os exportadores vão ver, enfim, a cor de parte de seus créditos tributários.
O setor teórica e ideologicamente adversário das ideias mais estatizantes de Dilma, parte da grande finança (ex-amigos de Antonio Palocci), não está amuado nem de longe o bastante para criar caso. Aliás, parte da grande banca privada é muito simpática a Dilma.
Há as queixas sempiternas a respeito de juros, impostos e reforma tributária. Mas o juro real "nunca antes" foi tão baixo. Reforma tributária, por sua vez, é apenas uma lenda, como o Curupira, que anda para trás quando parece avançar.
Afora poucos "indignados" com corrupção, os nativos estão quietos, felizes com o PIB que evolui à base de consumo, não de investimento.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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