Ministro do STF defende que Ministério Público investigue arrecadação de campanhas movidas por Genoino e Delúbio
Carolina Brígido
BRASÍLIA - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu nesta terça-feira que o Ministério Público investigue a arrecadação financeira feita por condenados no processo do mensalão para pagar multas que lhe foram impostas. Para o ministro, há indícios de lavagem de dinheiro. Para pagar as multas, o ex-deputado José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pediram dinheiro a militantes e simpatizantes por meio de páginas na internet. O primeiro arrecadou quase R$ 700 mil. As cifras de Delúbio ultrapassaram R$ 1 milhão. Ambos foram condenados por participar do esquema de desvio de dinheiro público e pagamento de mesada à base aliada no governo Lula.
— Arrecadar R$ 600 mil num dia. São coisas que precisam ser refletidas. A sociedade precisa discutir isso. Tem elementos para uma investigação (pelo Ministério Público). Se for um fenômeno de lavagem? De dinheiro mesmo de corrupção? Quer dizer: as pessoas são condenadas por corrupção e estão agora festejando coleta de dinheiro. É algo estranho — afirmou.
O GLOBO mostrou no último sábado que em 9 dias, Delúbio arrecadou mais dinheiro que ONGs importantes, como a Pastoral da Criança e o Greenpeace.
Gilmar lembrou que os políticos acusados no processo foram condenados por corrupção, não por crime político. Por isso, ele considera grave a forma de arrecadação do dinheiro para pagar as multas.
— Agora, vem essa massa de dinheiro. Será que vão também fazer uma arrecadação para devolver todo o dinheiro que foi desviado? Tudo estranho. É interessante que todos nós estamos noticiando isso como se fosse só um fato corriqueiro. Não, não é um fato corriqueiro, há algo de grave nisso. E precisa ser investigado. E essa gente, eles não são criminosos políticos, não é gente que lutava por um ideal e está sendo condenado por isso. São políticos presos por corrupção — declarou.
O ministro também levantou suspeita sobre o emprego que foi oferecido ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo hotel Saint Peter. Gilmar insinuou que Dirceu poderia ser dono de parte da empresa.
— Se formos olhar o episódio do hotel, em que alguém oferece um emprego de 20 mil para um suposto reeducando, com propriedade no Panamá... Ele (Dirceu) era também dono do hotel? Era empregado e empregador? Veja quanta coisa está sendo colocada —observou.
Gilmar reclamou das diversas críticas de que o julgamento do mensalão teria sido político. O processo foi julgado no segundo semestre de 2012 pelo plenário do STF e resultou em 25 condenações.
— O julgamento foi claro, inclusive quanto à participação de pessoas insuspeitas, de simpatias por outros lados, vocês viram o resultado. Há esse discurso agora de julgamento político. Que um eventual condenado tente descaracterizar a legitimidade da condenação é compreensível. Agora daí, outros setores, a gente tem que ficar desconfiado. Então, se a gente olha a coleta de dinheiro, esse tipo de manifestação, serviço num hotel que pertence a alguém no Panamá por R$ 20 mil, se a gente soma tudo isso, há algo a mais no ar do que avião de carreira. Está estranhíssimo — comentou.
O PSDB protocolou pedido de investigação sobre as doações nesta terça-feira, na Procuradoria-Geral da República (PGR). Assinada pelo líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP), o pedido afirma que a arrecadação pode se enquadrar em crime de lavagem de dinheiro, “na medida em que, em tese, se dissimulou a natureza, a origem ou a propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente”. O deputado pede o levantamento da lista dos doadores.
Fonte: O Globo
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