Segundo ONS, sequência de falhas considerada ‘rara’ causou o corte
Ramona Ordoñez, Henrique Gomes Batista, Bruno Rosa e Danilo Fariello
RIO, BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA e FLORIANÓPOLIS - Oapagão desta terça-feira atingiu 11 estados e o Distrito Federal. Foram afetadas as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, além de partes do Tocantins, no Norte, prejudicando ao menos seis milhões de pessoas, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS). As distribuidoras informaram que 3 milhões de clientes tiveram o fornecimento de luz cortado. Considerando a média de quatro pessoas por domicílio, o apagão afetou cerca de 12 milhões de brasileiros. Este foi o décimo apagão do governo Dilma Rousseff, e causou o corte do fornecimento de cerca de cinco mil megawatts (MW), ou cerca de 7% do consumo nacional, provenientes da usina de Tucuruí, no Pará, na região Norte, para abastecer as regiões Sul e Sudeste do país.
O governo ainda não sabe a causa do problema, mas afastou a possibilidade de falta de investimentos, excesso de consumo causado pela onda de calor, incêndio ou raios. E reconheceu que o país está sob “estresse hídrico”, devido às poucas chuvas desse verão. Foi marcada uma reunião para amanhã entre ONS, representantes do governo e empresas do setor para tentar descobrir a causa do apagão e corrigir eventuais erros. Segundo analistas, o apagão desta terça mostra que o sistema está operando no limite e há risco de novas interrupções.
O corte no fornecimento ocorreu um dia após o país ter registrado um novo recorde de consumo devido ao forte calor. Na segunda-feira, o consumo chegou à marca inédita de 84.331MW. Nesta terça, o corte de energia começou às 14h03m. Segundo o ONS, o restabelecimento começou às 14h41m e, para 80% dos consumidores, a energia voltou em 30 minutos.
Segundo Hermes Chipp, diretor geral do ONS, o problema ocorreu na linha de transmissão de interligação das regiões Norte/Sudeste, que tem três circuitos. Dois circuitos apresentaram problemas quase simultaneamente no trecho da linha entre Miracema, no Tocantins, e Serra da Mesa, em Goiás. Um dos circuitos pertence ao fundo de investimento FIP Brasil e o outro à Taesa, da Cemig. Com dois problemas ao mesmo tempo, o terceiro circuito, da Eletronorte, desligou automaticamente para evitar sobrecarga que provocaria apagão ainda maior.
— O excesso de consumo por causa do calor não pode ter causado este incidente, pois as linhas de transmissão estavam atuando dentro dos parâmetros — disse Chipp, explicando que, da capacidade total de 5.100MW, a linha operava no patamar de 4.800MW.
— Um incidente como esse é raro. O sistema está preparado para enfrentar um problema. Apenas a linha de Brasília está adaptada para enfrentar duas falhas simultâneas — afirmou Chipp.
Os cortes de energia realizados nesta terça não foram automáticos, mas sim programados, ou seja, seguiram a um plano de contingência definido previamente pelas distribuidoras e informado ao ONS. Isso significa que os locais onde houve a interrupção do fornecimento foram selecionados com antecedência pelas empresas locais.
— Você evita cortar hospital, trem, metrô e abastecimento de água. Só corta residências e comércio — disse Chipp.
Governo admite ‘estresse hídrico’
Segundo Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, o apagão pode ter ocorrido pela combinação de calor em excesso e demanda elevada. Segundo ele e outros especialistas, o ONS agiu rapidamente para resolver a situação. Mas analistas do setor acreditam que o nível baixo dos reservatórios e o excesso de consumo podem provocar novos apagões.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, reconheceu que o país vive um “estresse hídrico", com baixo nível de água nos reservatórios das hidrelétricas, uma vez que o mês passado foi o janeiro com menos chuvas nos últimos 60 anos. O apagão desta terça-feira foi considerado de médio porte e Zimmermann avaliou preliminarmente como positiva a reação do sistema, que teve uma recomposição rápida. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, destacou que não houve o desligamento de toda uma região, diferentemente do blecaute da Região Nordeste, em agosto de 2013:
— O sistema funcionou.
O Palácio do Planalto não se manifestou sobre o apagão, numa estratégia para tirar da conta da presidente Dilma Rousseff os prejuízos de mais um problema de energia no país.
Colaboraram Luiza Damé, Leonardo Guandeline, Luis Lomba e Juraci Perboni
Fonte: O Globo
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