Lisandra Paraguassu
SANTIAGO - O governo chileno tentou evitar, mas a posse da presidente eleita Michele Bachelet, hoje, na cidade portuária de Valparaíso, perdeu espaço para a crise venezuelana, que aterrissa esta madrugada em Santiago com a chegada do presidente Nicolás Maduro.
Enquanto Bachelet assume pela segunda vez o governo do país, a atenção está voltada para a reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em que o governo chavista tentará conseguir mais apoio na região.
Nas ruas de Santiago e também de Valparaíso, onde ocorrerá a transmissão da faixa presidencial, simpatizantes da oposição venezuelana prometem perseguir hoje Maduro com protestos.
Temor. O governo do Chile tentou suspender a realização da reunião da Unasul em Santiago logo depois da posse da presidente eleita. O temor era justamente que a reunião, pedida pela Venezuela, ofuscasse a festa chilena. O governo só foi convencido quando foi decidido um encontro ministerial - e não uma cúpula presidencial.
Antes mesmo de tomar posse, Bachelet teve de se posicionar sobre a crise venezuelana. Em uma entrevista, afirmou que não são "adequadas ações violentas para desestabilizar um governo democraticamente eleito". No entanto, dentro da sua coalizão, a Nova Maioria, essa posição não é consenso. Enquanto a Democracia Cristã, o grupo mais à direita de sua base, rechaça Maduro, o Partido Comunista pede um apoio mais firme ao líder bolivariano.
"Esse é um tema que afeta a relação dos partidos dentro da coalizão da presidente. Ele emerge de discussões pendentes sobre definições ideológicas e de um projeto para o país", analisa a especialista em relações internacionais da Universidade do Chile María Francisca Quiroga.
Maduro estava na lista de encontros bilaterais que a presidente chilena teria ontem. O venezuelano era aguardado às 20 horas, tanto por Bachelet quanto por um grupo de manifestantes da Mesa da Unidade Democrática Chile, um braço da oposição venezuelana no país, que planejava protestar. Maduro, no entanto, adiou sua chegada ao país.
A presença do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, também ajudou a trazer ainda mais a crise venezuelana para o centro das atenções. Impedido de se manifestar na Organização dos Estados Americanos (OEA), depois de que os países sul-americanos ajudaram a derrubar uma ação específica sobre a crise, Biden chegou a Santiago dizendo que quer tratar da situação venezuelana, que qualificou de "alarmante".
No Brasil, a avaliação é que há sinais de que a crise começa a arrefecer e os oposicionistas mais radicais teriam concluído que não é um bom negócio continuar exigindo a deposição de Maduro. Ainda assim, o governo brasileiro deverá ser cauteloso na reunião e conta com a ajuda dos chilenos para bloquear declarações incendiárias. A cobrança deverá ser por mais diálogo e reações menos radicais.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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