A estratégia apontada por Lula é evitar que a CPI da Petrobras tenha atuação parecida com a dos Correios, que resultou em cassações de mandatos pela Câmara e na Ação Penal 470, o chamado processo do mensalão.
- Correio Braziliense
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o comando do petroleiro e jogou um dos seus tripulantes ao mar, o deputado André Vargas (PT-PR), suspeito de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal. “Espero que ele consiga convencer a sociedade e explicar que não tem nada além de uma viagem de avião porque, no fim, quem paga o pato é o PT. Torço que não seja nada além de uma viagem, o que já é um erro”, afirmou o ex-presidente. Vargas é vice-presidente da Câmara e pediu afastamento de 60 dias do mandato, depois do surgimento de novas denúncias contra ele: mensagens trocadas com o doleiro sobre contratos de uma empresa de fachada com o Ministério da Saúde.
Em meio ao mar encapelado do Congresso, onde o governo tenta evitar a instalação de uma CPI para investigar negócios temerários e suspeitas de corrupção na Petrobras, Lula resolveu assumir o timão para levar o barco petista ao porto seguro. Ontem, em conversa com blogueiros, tratou de desmentir os boatos de que substituiria a presidente Dilma Rousseff como candidato do PT à Presidência da República, que recrudesceram no fim de semana, devido à queda da petista na pesquisa de intenções de voto do Datafolha, divulgada sábado. “Minha candidata é a Dilma Rousseff. Se vocês puderem contribuir para acabar com essa boataria toda, vocês estarão contribuindo para a democracia no Brasil”, disse.
Segundo Lula, Dilma é “disparadamente” a melhor pessoa para o cargo. O problema, porém, é que nove entre 10 petistas e seus aliados pensam exatamente o contrário. E não é à toa, pois o próprio ex-presidente estimulou as articulações de políticos e empresários governistas que desejam a sua volta ao poder, com críticas à atuação de Dilma Rousseff na gestão da economia e no seu relacionamento com os políticos. A mesma pesquisa de opinião que registrou a queda de Dilma mostrou também que Lula continua sendo o candidato mais competitivo do PT e, ainda por cima, seria aquele que mais se identificaria, até agora, com o desejo de mudança dos eleitores. Ou seja, sua entrevista foi uma espécie de vacina para impedir a desestabilização da candidatura de Dilma à reeleição.
Petrobras
Na verdade, Lula vê a CPI da Petrobras como uma ameaça real ao projeto petista de poder. O escândalo ganhou maior dimensão política por causa de uma nota de Dilma, na qual acusou o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró de omitir informações fundamentais ao conselho de administração da empresa, quando o mesmo decidiu aprovar a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O ex-presidente tenta desqualificar a CPI na entrevista: “Normalmente, em época de eleição, quando a oposição não tem bandeira, não tem programa e não tem voto, a oposição então levanta essa ideia de se fazer uma CPI”.
A estratégia apontada por Lula é evitar que a CPI da Petrobras tenha atuação parecida com a dos Correios, que resultou em cassações de mandatos pela Câmara e na Ação Penal 470, o chamado processo do mensalão. “Então, eu acho que nesse aspecto o PT tem que ir para cima. Eu vou contar uma coisa para vocês, de coração. Eu espero que o PT tenha aprendido a lição do que significou a CPI do mensalão. Essa CPI deixou marcas profundas nas entranhas do PT. Se o PT tivesse feito o debate político no momento que tinha que fazer o debate político, e não tivesse ficado esperando uma solução jurídica, possivelmente a história fosse outra.”
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal preso pela Polícia Federal (PF) há duas semanas, durante a Operação Lava-Jato, é o elo entre o doleiro Alberto Youssef e a Petrobras. Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro num caso aparentemente sem relação com a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, grampos da investigação revelariam um propinoduto que supostamente o ligaria à empresa. Costa era um dos diretores mais importantes da Petrobras na gestão de Sérgio Gabrielli, época em que Dilma, por ser ministra da Casa Civil, presidia o conselho de administração. O caso de Cerveró, responsável pela análise técnica da compra de Pasadena, é perfumaria diante do que pode surgir a partir desse personagem. Diante disso, é preferível lançar André Vargas ao mar e embananar a instalação da CPI. Cristão novo na cúpula do PT, nem de longe tem o prestígio de outros dirigentes que, mesmo assim, perderam os mandatos e estão presos, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e os ex-deputados João Paulo Cunha e José Genoino.
Publicado em 09 de abril de 2014
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