É preciso ser explicada a estranha movimentação financeira no gabinete do filho deputado
Há desconfiança com a aparente presteza com que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), pouco antes de passar à subordinação do superministro da Justiça Sergio Moro, detectou estranhas movimentações bancárias no gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), eleito senador pelo Rio de Janeiro. Desconfiança infundada, porque, revelou a “Folha de S.Paulo”, o mesmo relatório que cita pessoas do gabinete do deputado também relaciona, por idêntico motivo, parlamentares de outros partidos: André Ceciliano (PT), Paulo Ramos (PDT), Eliomar Coelho (PSOL), Márcio Pacheco (PSC), futuro líder do governo de Wilson Witzel, entre outros.
No centro de uma ciranda de depósitos e saques estava Fabrício José Carlos de Queiroz, motorista do gabinete de Flávio, amigo antigo da família Bolsonaro, fotografado em momentos de confraternização com o futuro presidente eleito. Queiroz, ex-PM, com remuneração mensal de pouco mais de R$ 20 mil, movimentou em um ano R$ 1,2 milhão, tendo feito depósitos até na conta de Michelle, a próxima primeira-dama.
As informações, anexadas aos autos da Operação Furna da Onça, envolvendo deputados da Alerj,f oram alimentar um turbilhão de especulações sobre o próprio Jair Bolsonaro.
Nada há afazer sobre teorias acerca do porquê do surgimento agora dessa história, mas existe muito a esclarecer por parte de Flávio Bolsonaro e Queiroz, morador da Zona Oeste carioca, sem sinais exteriores de bonança financeira. Sobre o depósito de R$ 24 mil na conta de Michelle, o próprio Bolsonaro deu aplausível explicação de que se tratava do pagamento de empréstimo que fizera a Queiroz.
A responsabilidade por explicações cai sobre Flávio Bolsonaro e o próprio Queiroz. Este, tudo indica, faz parte de conhecido e reprovável esquema praticado no baixo clero, em assembleias estaduais e mesmo no Congresso: funcionários são admitidos nos gabinetes com salários que jamais receberiam na iniciativa privada, contanto que devolvam parte do dinheiro.
Tudo na confiança, daí a necessidade de os envolvidos serem pessoas próximas. No caso, mulher e filhas de Queiroz, além de algumas outras pessoas. Para reforçar a constatação da existência do esquema, o “Jornal Nacional” de terça revelou que depósitos eram feitos na conta de Queiroz logo quando os funcionários do gabinete recebiam os salários. Foi assim entre 2016 e 2017.
Jair Bolsonaro assume em pouco mais de duas semanas para exercer o mandato em momento especialmente grave. As finanças públicas em todos os níveis do Estado brasileiro rumam para o colapso. Cabem a ele e a seu governo encaminhar para a aprovação pelo Congresso as devidas correções. Daí ser imperioso não haver qualquer suspeita que o diminua politicamente, o que não aconteceu agora. Mas depende do total esclarecimento do que aconteceu no gabinete de Flávio Bolsonaro.
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