DEU NO VALOR ECONÔMICOO panorama eleitoral que se descortina das janelas do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, sede provisória da Presidência da República, é, como se poderia esperar, róseo para a campanha governista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e bastante nublado para os adversários. No entanto, não está no ar, ali, o clima do já ganhou. Ainda há alguma tensão com o desenvolvimento da candidatura Dilma Rousseff (PT) à sucessão do presidente Lula e um certo respeito, embora o discurso seja o contrário, à candidatura José Serra (PSDB).
O olhar da campanha de Dilma sobre Aécio Neves e Ciro Gomes está impregnado de condescendência e simpatia, numa aposta evidente de que conta-se com um jogo que os inclua mais à frente, agora já cada um por si, uma vez abandonada a perspectiva fantasiosa, alimentada durante longo tempo, da chapa conjunta PSDB/PSB. Apesar da desistência de concorrer à Presidência, Aécio continua no campo oposto e é considerado uma ameaça caso aceite compor chapa pura do PSDB. Ciro está, circunstancialmente, também entre os adversários da candidatura única do governo, contra a vontade do presidente Lula.
Como Serra, a campanha da ministra Dilma não quer precipitar decisões e opções que pode fazer em abril ou em junho, quando estiverem mais claros os cenários da disputa, e por enquanto só observa os movimentos enquanto articula reservadamente.
No momento, o candidato a vice de Dilma, por exemplo, ainda é do PMDB. Ciro Gomes nunca teria manifestado ao presidente Lula o interesse em ser vice, embora se veja como legítimo ele vir a pleitear o posto. Lula fará uma reunião com grupo do PMDB, liderado por Michel Temer, tão logo volte das férias, e a promessa é tratar deste assunto.
Os argumentos de Ciro apresentados ao governo para seguir candidato a presidente são de que esta é a melhor opção porque acha José Serra um candidato muito forte, favorito, e uma eleição plebiscitária só o beneficiaria, podendo levá-lo até a vencer no primeiro turno. Para Ciro, sua candidatura dividiria o eleitorado de Serra, forçando um segundo turno de qualquer maneira, o que criaria uma segunda chance para Dilma ou para ele próprio se conseguir ultrapassar a ministra.
O presidente Lula, e todos os analistas políticos próximos a Dilma, discordam desta avaliação.
Mas acham que só dentro de três a quatro meses isto ficará mais claro para Ciro. Acham que, em três ou quatro meses, se Serra estiver crescendo e Dilma estacionada nas pesquisas, fica reforçada a posição de Ciro. Mas se, ao contrário, Dilma estiver crescendo, Serra e Ciro estacionados na preferência do eleitorado e começar a se evidenciar que a candidatura Dilma tem fôlego, Ciro verá que o grupo do Planalto é quem tem razão, preveem consultores da campanha. E poderá mudar suas opções. É isto que os mais próximos à candidatura da ministra acreditam que vai ocorrer.
Em que caso se poderá considerar a candidatura da ministra reforçada, para efeito destas avaliações? Segundo analistas próximos a ela, a candidatura Dilma se reforçará em março se ela estiver beirando os 25% da preferência do eleitorado, José Serra estiver com 30%, ou pouco mais, e o Ciro não conseguir sair dos 12 ou 13%. Se Ciro crescer na preferência do eleitorado e Serra também, a tese do deputado cearense ganha força, a de que sua candidatura impulsiona o segundo turno.
Quanto ao vice de Dilma, posto reservado ao PMDB, é algo que só vai se definir, assim como o vice de José Serra, por volta de junho, mais perto das convenções. Nas análises do Planalto, a Vice da candidatura do governo é do PMDB, embora todos considerem justo Ciro pleitear o posto, se realmente vier a fazê-lo como condição para abandonar a candidatura a presidente. "Ciro de vice não é a hipótese principal, tem-se trabalhado numa aliança com o PMDB e o PMDB quer ter o vice", explica um interlocutor político da ministra.
O que está implícito na opção até agora firme pelo PMDB é, principalmente, a governabilidade. "Não é só ganhar a eleição, não é só o tempo de televisão para propaganda, é governar no dia seguinte", assinala o mesmo analista. E o PMDB seria o partido que ajuda a governar, embora o governo continue a contar com PSB, PCdoB e PDT no seu grupo.
A articulação das alianças está ligada ao day after das eleições em que o resultado a ser considerado inclui as eleições parlamentares e também as de governador, ambas igualmente definidoras da correlação de forças entre os partidos. O PMDB pode até não ser o maior partido no dia seguinte às eleições, mas é hoje, e é com este dado que a candidatura tem que ser armada, raciocinam os estrategistas.
Quanto aos adversários definidos como tais, o Planalto tem também suas avaliações. Já esperava, como todos que trabalham diretamente a política partidária, que Aécio Neves desistisse por ora da candidatura a presidente e se voltasse para a campanha de Minas. Mas os analistas do presidente Lula não estão admitindo que Aécio opte pela Vice de Serra.
Acreditam que ele nada tem a ganhar com isto: "Se o Serra for eleito, Aécio, na chapa, será no máximo o vice de Serra; se Serra perder e ele for o vice, perde junto e fica sem nada; se o Serra for eleito e ele estiver no Senado, será o comandante do Senado, muito mais influente e com mais poder do que se fosse o vice; se o Serra perder e ele estiver no Senado, vai ser o chefe da oposição, com novo discurso".
Na verdade, embora exponha a argumentação de forma direta e clara, os pensadores do Planalto apenas desejam que as coisas aconteçam desta forma, pois trata-se de cenário mais favorável à candidatura governista. Inclusive as conjecturas sobre Aécio como chefe da oposição contemplam traços que favorecem o governo: "Ele terá um discurso novo, contra o confronto, de pacificação do país, de união, um chefe de oposição que vai fazer oposição como elas são na maioria dos países civilizados. Ele vai virar o chefe da oposição do pós-Lula", é claramente o desejo.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Em que caso se poderá considerar a candidatura da ministra reforçada, para efeito destas avaliações? Segundo analistas próximos a ela, a candidatura Dilma se reforçará em março se ela estiver beirando os 25% da preferência do eleitorado, José Serra estiver com 30%, ou pouco mais, e o Ciro não conseguir sair dos 12 ou 13%. Se Ciro crescer na preferência do eleitorado e Serra também, a tese do deputado cearense ganha força, a de que sua candidatura impulsiona o segundo turno.
Quanto ao vice de Dilma, posto reservado ao PMDB, é algo que só vai se definir, assim como o vice de José Serra, por volta de junho, mais perto das convenções. Nas análises do Planalto, a Vice da candidatura do governo é do PMDB, embora todos considerem justo Ciro pleitear o posto, se realmente vier a fazê-lo como condição para abandonar a candidatura a presidente. "Ciro de vice não é a hipótese principal, tem-se trabalhado numa aliança com o PMDB e o PMDB quer ter o vice", explica um interlocutor político da ministra.
O que está implícito na opção até agora firme pelo PMDB é, principalmente, a governabilidade. "Não é só ganhar a eleição, não é só o tempo de televisão para propaganda, é governar no dia seguinte", assinala o mesmo analista. E o PMDB seria o partido que ajuda a governar, embora o governo continue a contar com PSB, PCdoB e PDT no seu grupo.
A articulação das alianças está ligada ao day after das eleições em que o resultado a ser considerado inclui as eleições parlamentares e também as de governador, ambas igualmente definidoras da correlação de forças entre os partidos. O PMDB pode até não ser o maior partido no dia seguinte às eleições, mas é hoje, e é com este dado que a candidatura tem que ser armada, raciocinam os estrategistas.
Quanto aos adversários definidos como tais, o Planalto tem também suas avaliações. Já esperava, como todos que trabalham diretamente a política partidária, que Aécio Neves desistisse por ora da candidatura a presidente e se voltasse para a campanha de Minas. Mas os analistas do presidente Lula não estão admitindo que Aécio opte pela Vice de Serra.
Acreditam que ele nada tem a ganhar com isto: "Se o Serra for eleito, Aécio, na chapa, será no máximo o vice de Serra; se Serra perder e ele for o vice, perde junto e fica sem nada; se o Serra for eleito e ele estiver no Senado, será o comandante do Senado, muito mais influente e com mais poder do que se fosse o vice; se o Serra perder e ele estiver no Senado, vai ser o chefe da oposição, com novo discurso".
Na verdade, embora exponha a argumentação de forma direta e clara, os pensadores do Planalto apenas desejam que as coisas aconteçam desta forma, pois trata-se de cenário mais favorável à candidatura governista. Inclusive as conjecturas sobre Aécio como chefe da oposição contemplam traços que favorecem o governo: "Ele terá um discurso novo, contra o confronto, de pacificação do país, de união, um chefe de oposição que vai fazer oposição como elas são na maioria dos países civilizados. Ele vai virar o chefe da oposição do pós-Lula", é claramente o desejo.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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