A semana que vai terminando expôs, ou antes escancarou a erosão do capital político de Dilma Rousseff. Entre tantos sintomas disso, o mais acintoso e quase anedótico foi a perambulação de Lula pelas salas de Brasília, um exercício de presidência explícita.
Comandou uma reunião entre os líderes partidários, deu conselhos a Palocci, articulou um encontro entre Dilma e o PT, conseguiu que o MEC engavetasse o seu kit contra a homofobia para aplacar a ira da bancada evangélica. Fez ainda questão de confraternizar diante das câmeras com Sarney e companhia, como nos velhos tempos -ou como fazia até cinco meses atrás.
A derrota do Planalto para o PMDB na votação do novo Código Florestal, a hemorragia de Palocci, que não se explica, e a reclusão da própria presidente, convalescente de uma pneumonia mal esclarecida, jogaram fermento na sensação geral do "vazio político", que Lula percebeu e quis "preencher".
Sua intervenção, ao que parece, desanuviou o clima entre o Planalto e o Congresso. Mas seu efeito maior e duradouro será o de reforçar, na própria base aliada, o entendimento de que a presidente é politicamente incapaz e despreparada.
Dilma é, sim, uma mulher com convicções claras e pulso forte, mas, não obstante, foi submetida à tutela do padrinho. Falta a ela o que sobra a ele: maleabilidade de espírito e disposição para negociar.
Isso talvez signifique que o perfil "gerencial", "administrativista" e "mais racional" do governo Dilma -tão elogiado e comemorado até há pouco como uma vantagem em relação ao antecessor- já evidencia a sua fragilidade e seus limites diante das exigências da política.
O asco aparente de Dilma pela política como ela é -que Lula não tinha- não é capaz de conter a peemedebização precoce de seu governo. Mas quem pode ter desprezo pelo apetite do PMDB ou torcer o nariz para a fisiologia dos aliados quando se tem Palocci como guardião do governo e caseiro do Planalto?
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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