Dois acontecimentos nesta semana no Rio reavivaram a memória de batalhas ideológicas do século 20.
O primeiro foi a entrega do acervo do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990) ao Arquivo Nacional por sua viúva, Maria. Fotos, cartas e documentos abarcam da Coluna Prestes ao exílio em Moscou e a volta ao Brasil pós-anistia.
O outro foi a morte aos 102 anos, há três dias, de Beatriz Bandeira, ex-militante comunista, poeta e viúva de Raul Ryff (1911-89), secretário de Imprensa de João Goulart. Ryff, que até bem idoso trabalhou no "Jornal do Brasil", registra em seu livro "O Fazendeiro Jango no Governo" o respeito do presidente deposto à liberdade dos meios de comunicação, em sua maioria de oposição a ele.
Prestes e Beatriz viveram a era dos extremos, quando se acreditava na revolução mundial. Foram presos depois da tentativa comunista de depor Getúlio Vargas, em 1935. Ela era a última sobrevivente de seis mulheres que dividiram uma cela, incluindo a alemã Olga Benário, primeira mulher do líder do PCB.
Foram muitos os equívocos desses antigos ativistas, várias vezes executores de políticas determinadas por interesses soviéticos. Mas o que explica o fato de terem atraído milhares de adeptos é o apelo de ideias de igualdade e justiça, que remontam à Revolução Francesa e hoje estão presentes nas multidões de indignados.
A social-democracia, fórmula que até agora mais bem conciliou democracia e capitalismo, nasceu como resposta à atração exercida por essa esquerda revolucionária.
Autoritário, Prestes custou a aceitar a denúncia do stalinismo feita em 1956 por Khruschov. Em outras ocasiões, soube detectar os ventos da mudança. Antes de 1964, apoiou as candidaturas de Juscelino Kubitschek e Jango. Em 1989, já rompido com o PCB, deu apoio a Leonel Brizola e, depois, a Lula contra Fernando Collor.
FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário