Christiane Samarco, Marta Salomon
BRASÍLIA - A reação do governo federal ao direcionamento para Pernambuco de 90% das verbas do Ministério da Integração Nacional destinadas ao combate e prevenção de desastres naturais gerou uma crise política com o PSB. O presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não aceitou a decisão tomada pelo Palácio do Planalto de intervir nas ações da pasta, comandada pelo ministro Fernando Bezerra Coelho, seu afilhado político e cobrou apoio a seu aliado.
Para a cúpula do PSB, o movimento do governo fragilizou Bezerra justamente num momento em que a presidente Dilma Rousseff prepara uma reforma ministerial e o coloca na berlinda depois de o governo ter demitido seis ministros por problemas de gestão ou de denúncias em suas pastas.
As queixas e cobranças do comando do partido fizeram com que o Palácio do Planalto lançasse mão de pelo menos um gesto público para tentar resolver o mal-estar. A Casa Civil divulgou uma nota oficial afirmando que não havia uma intervenção nas ações da Integração Nacional. Anteontem, a ministra Gleisi Hoffmann interrompeu as férias para, a pedido da presidente, monitorar o repasse de verbas.
"O ministro Fernando Bezerra é e continua sendo responsável pela execução dos programas e projetos daquela pasta. Qualquer informação fora deste contexto tem por objetivo disseminar intriga", disse a nota divulgada ontem de manhã, cerca de 12 horas depois de a própria Gleisi - e não a presidente - ter pedido a Bezerra que também interrompesse as férias e voltasse à capital para explicar a distribuição dos recursos da Integração, que contemplaram prioritariamente o Estado natal do ministro e de Eduardo Campos, como revelou o Estado.
Para os dirigentes do partido, apenas esse gesto era pouco, já que todos os ministros demitidos por Dilma na chamada "faxina" também tiveram notas ou comunicados de apoio do Planalto antes de perderem seus postos.
Explicações. Por conta disso, com a anuência do governo, Bezerra preparou uma entrevista coletiva para dar explicações públicas sobre os repasses de verbas de sua pasta. Sem negar a destinação de 90% das verbas para o Estado, foi duro e defendeu os repasses, afirmando que não aceitaria discriminação contra Pernambuco.
O ministro dividiu responsabilidades na liberação dos recursos da Integração Nacional com a presidente Dilma e defendendo os repasses para o Estado.
"Não existe aqui política partidária, miúda, pequena. Não se pode discriminar o Estado de Pernambuco por ser o Estado do ministro", afirmou Bezerra.
Àquela altura, Eduardo Campos já havia alardeado nas rádios de Pernambuco que fora a presidente Dilma Rouseff quem autorizara o uso dos recursos para combate e prevenção de desastres naturais em seu Estado.
Em seguida, Bezerra garantiu que houve "análise técnica" e aval da União nas liberações. "A presidente tem sido muito correta no sentido de apoiar nossas ações. Estou muito animado e percebo ter o apoio necessário para continuar", afirmou.
Questionado sobre a concentração de 90% das verbas antienchente a Pernambuco, ele disse que "a priorização" foi feita em discussões técnicas com as pastas do Planejamento e da Casa Civil, e com conhecimento do Palácio do Planalto. "A presidente sabia de todos os repasses."
No mesmo tom, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) fez questão de destacar que "o ministro não agiu à revelia da presidente" e que os R$ 25,5 milhões liberados na rubrica de prevenção de desastres "ainda é muito menor do que a ajuda prometida quando houve a enchente e a presidente visitou Pernambuco".
A preocupação do PSB em fortalecer o ministro é grande por conta da iminência da reforma ministerial. Bezerra não está na berlinda só em razão do uso político das verbas da pasta. Também pesa sobre ele a paralisação das obras da transposição do São Francisco, projeto mais ambicioso do PAC.
Colaboraram Iuri Dantas e Lisandra Paraguassu
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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