Muito embora evite se declarar candidato a presidente em 2014, como recomenda a boa lógica política, quando ainda faltam quase dois anos para as eleições, o PSDB e o senador mineiro Aécio Neves atingiram um ponto de não retorno, quando aceitaram ser os "convidados de honra" da festa de aniversário dos dez anos do PT no governo. Um recuo, a partir de agora, é cada vez mais difícil e pode comprometer inclusive uma nova empreitada do PSDB com Aécio em 2018.
A conjuntura é desfavorável ao tucano. Como costuma dizer o cientista político Cristiano Noronha, só o acontecimento de "algo sobrenatural" pode evitar a reeleição de um presidente ou governador de Estado com mais de 50% de aprovação popular, retratada pelas pesquisas de opinião.
Este é o caso da presidente Dilma Rousseff. Ela se mantém numa faixa superior aos 60%, nas sondagens de opinião pública, apesar de alguns percalços como o pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2012, e a inflação batendo no teto da meta. A 20 meses da eleição, Dilma ainda tem muito combustível para queimar.
Antecipação da campanha atropela cronograma tucano
Para a presidente virou importante antecipar a campanha. O lançamento de seu nome à reeleição, na festa de aniversário dos dez anos de governo do PT, serve para conter as especulações sobre a volta de Luiz Inácio Lula da Silva. A sombra de um ex-presidente forte, como Lula, é ruim para o governo.
Já no caso de Aécio Neves a antecipação do debate eleitoral é um mau negócio. O senador hoje o favorito da maioria dos tucanos, tinha um cronograma menos adiantado, pois precisa de tempo para desatar nós os mais diversos. O tucano terá de matar alguns leões, interna e externamente, para viabilizar uma candidatura competitiva.
Pelo andar da carruagem, Dilma pode vencer a eleição no primeiro turno, feito que nem Lula conseguiu nesses 10 anos de PT no Palácio do Planalto. Tanto José Serra, em 2002 e 2010, quanto Geraldo Alckmin, em 2006 conseguiram levar a eleição para o segundo turno. É o mínimo que o PSDB pode esperar de Aécio em 2014.
Os tucanos, inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, estão inquietos com as reticências de Aécio. Mas o pré-candidato tucano sabe como ninguém que antes de tudo precisa costurar uma unidade partidária que seja efetiva. Apoios da boca para fora são comuns no PSDB.
Nas três eleições perdidas para o PT, depois que Fernando Henrique Cardoso deixou o Palácio do Planalto, houve até um presidente do partido que declarou publicamente apoio a candidato de outra de outra legendas, caso do cearense Tasso Jereissati, em 2002.
Aécio já conversou com José Serra, talvez o principal adversário interno do tucano. Depois de perder três eleições para o PT (duas presidenciais e uma para prefeito de São Paulo, ano passado), Serra está mais isolado no PSDB do que recomendaria a boa prática política. Unidade partidária não se faz com a segregação dos adversários, mas com sua incorporação ao projeto maior.
Supreendentemente, Serra tem se mantido quieto em seu isolamento. É evidente que acompanha os assuntos pertinentes ao partido. Quem conversou com ele nos últimos dias ouviu do tucano avaliações preocupadas sobre os acontecimentos de quarta-feira, quando o PT comemorou seus dez anos de governo e Aécio Neves subiu à tribuna do Senado para falar dos "13 fracassos do PT".
Serra acredita que o PT faturou barbaramente o episódio e que a presidente Dilma Rousseff é hoje uma oradora muito mais fluente e à vontade na interação com o público que em 2010, quando o derrotou na eleição presidencial. O tucano também viu o dedo não tão invisível assim do jornalista João Santana. "É pra lá de competente", disse a um interlocutor habitual, após assistir, à noite, os telejornais com a notícia sobre o primeiro embate tucano-petista tendo 2014 como pano de fundo.
Feita a costura interna, o passo seguinte de Aécio deve ser necessariamente a busca de apoios de outros partidos. Se Dilma fizer uma coligação com os partidos que hoje integram a base do governo no Congresso, terá a metade do tempo de rádio e televisão no horário eleitoral gratuito, uma eternidade, se comparado com o que tem hoje a oposição, algo em torno de três minutos - cerca de um quatro do tempo da coligação governista.
Se conseguir ampliar os apoios na área partidária, Aécio ainda precisará sedimentar um discurso capaz de seduzir uma parcela de novos eleitores para o PSDB. Ao PT interessa manter a polarização com o PSDB, um terreno que já percorreu por três vezes, com sucesso. Aécio ainda fala no resgate da "herança bendita" de Fernando Henrique Cardoso. É pouco para fazer frente à maquina de fazer votos em que se transformou o PT.
São muitas as dificuldades à espreita de Aécio Neves, mas em 30 anos de atividade pública o tucano já deu demonstrações de coragem política. Em 2001, ele construiu uma candidatura vitoriosa à presidência da Câmara dos Deputados contrariando os interesses do Palácio do Planalto e da coligação PSDB-PFL, no poder desde 1994. No ano seguinte, em 2002, Serra foi o candidato tendo como vice na chapa a deputada Rita Camata (PMDB).
Além disso, o neto de Tancredo Neves parte de uma base política forte, Minas Gerais. Na eleição de 2002 para o governo do Estado, ele venceu no primeiro turno com 58% dos votos válidos; na reeleição, quatro anos mais tarde, atingiu o equivalente a 77% do votos válidos dos mineiros. Saiu do governo com uma aprovação "lulista", superior a 82%.
A diferença, agora, é que Dilma pode e pretende montar um palanque competitivo em Minas Gerais. Em 2006, o candidato do PT foi o ex-deputado e ex-secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda, numa chapa que tinha como candidato ao Senado o atual deputado Newton Cardoso. Não havia risco de dar certo. Agora o PT conta com pelo menos dois nomes fortes para o governo, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias.
Fonte: Valor Econômico
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