Moeda americana tem maior alta em 4 anos, apesar de intervenção do BC
Cotação bate R$ 2,15, o que encarece produtos, pondo em risco o controle do custo de vida no país. Juros mais altos nos EUA ajudaram a levar dólares do mundo todo para lá
Após dois meses sem atuar, o Banco Central interveio no mercado de câmbio para tentar segurar a cotação da moeda americana. Mas não foi bem-sucedido. O dólar chegou a R$ 2,15 e acabou fechando a R$ 2,143, na maior cotação desde 2009, em alta de 1,37%. O BC tentou vender US$ 1,5 bilhão em contratos no mercado futuro, mas só conseguiu realizar pouco mais da metade. A alta de juros de papéis americanos está atraindo investidores por lá.
Dólar nas alturas
Banco Central intervém, mas não impede maior cotação em quatro anos, a R$ 2,143
Daniel Haidar, Bruno Villas Bôas
Nem mesmo a primeira intervenção do Banco Central em dois meses no mercado de câmbio foi capaz de evitar que o dólar atingisse ontem o maior patamar desde 5 de maio de 2009, com alta de 1,37% a R$ 2,143. Na máxima do dia, a moeda chegou a R$ 2,152. O comportamento da moeda surpreendeu o mercado, que esperava uma maior atração de dólares depois que a autoridade monetária decidiu elevar a taxa básica de juros para 8% ao ano na última quarta-feira, evidenciando o foco no combate à inflação. Segundo analistas, a alta do câmbio pode pressionar ainda mais os índices de preços. A inflação elevada é considerada uma das vilãs responsáveis pelo baixo crescimento da economia brasileira, que registrou alta de apenas 0,6% no primeiro trimestre, abaixo da expectativa do mercado. Com a disparada do dólar, a moeda americana encerrou o mês com alta de 7,10%, o maior avanço mensal desde setembro de 2011. No ano, sobe 4,89%.
- Isso (a alta do dólar) vai gerar mais inflação e provavelmente vai forçar o Banco Central a ser mais duro na política monetária do que estava planejando - disse José Márcio Camargo, economista-chefe da gestora Opus Investimentos.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a ação do BC no mercado de câmbio foi mais um sinal da preocupação da autoridade monetária com o comportamento dos índices de preços. Agostini ressalta que a transmissão da alta do dólar para o consumidor é um processo que leva, em média, 20 dias. Este é o período necessário para renovação de estoques nas empresas, com importados já afetados pelo câmbio mais caro. O economista destaca que no caso de uma alta na taxa de juros, a influência sobre os preços conta com uma defasagem de seis meses ou mais.
Correção nos juros e na bolsa
Desde a abertura dos negócios, a moeda americana já sentiu a pressão do mercado. Logo nos primeiros minutos do pregão chegou a R$ 2,145. O Banco Central acabou decidindo intervir no mercado no começo da tarde, com um leilão de 30 mil contratos de swap cambial , operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro. Apesar da oferta de US$ 1,5 bilhão, só foram vendidos US$ 877 milhões. Após a ação do BC, a moeda chegou a perder força e desacelerou para R$ 2,122, mas não sustentou este patamar. Durante a tarde, retomou a trajetória de alta. Segundo analistas, por trás do movimento de valorização do dólar estava uma queda de braço entre o mercado, que testou os limites do teto informal da moeda - apontado até então como R$ 2,05 -, e a autoridade monetária. Além disso, o dia foi marcado por um volume menor de operações, o que ajuda a explicar a oscilação da moeda.
Segundo Luis Otávio Leal, economista do banco ABC Brasil, o aumento da Taxa Selic deveria atrair mais dólares para o país em busca do rendimento dos títulos públicos brasileiros. Ontem, no entanto, o efeito da alta da Selic teria sido a saída de investidores estrangeiros.
- O BC surpreendeu o mercado e provocou uma forte alta dos juros futuros com vencimento mais longo. Os comentários são que isso impôs perdas aos estrangeiros, que apostavam na alta da Selic em 0,25 ponto percentual. Eles venderam seus contratos, com perdas, e preferiram remeter seus dólares para fora do país - explica Leal.
A alta da moeda americana não é um fenômeno local. O dólar também avançou frente a outras moedas nas últimas semanas. Ontem, no entanto, o real foi a segunda moeda que mais se depreciou, com queda de 1,42% na comparação com o dólar, entre as 16 principais moedas do mundo. Segundo especialistas, o movimento de valorização da moeda americana ganhou força com a divulgação de resultados acima das expectativas em indicadores como o de confiança do consumidor, da Universidade de Michigan, e do índice de gerentes de compras de Chicago.
As estatísticas reforçaram a percepção de que a redução dos estímulos monetários do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está perto. Como foi essa injeção de dólares que desvalorizou a moeda americana e elevou os preços de títulos do tesouro nos últimos meses, esses papéis - os treasuries - passaram a ser negociados a preços menores, o que disparou as vendas para minimizar perdas. Isso também reforçou as apostas de alta do dólar. Diante deste quadro, a maioria do mercado já cogita a hipótese de um novo teto para o dólar, por volta de R$ 2,15.
Num sinal de que o Banco Central está comprometido com o combate à alta de preços, a autoridade monetária voltou a consultar mesas de câmbio de bancos e corretoras sobre a necessidade de nova oferta de contratos de swap na próxima segunda-feira, uma operação que ainda não foi confirmada pelo BC.
Os juros futuros sofrerem forte alta ontem na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Os contratos de DI com vencimento em janeiro de 2014 subiram de 8,06% para 8,44%, refletindo apostas de mais até 1,25 ponto percentual de alta na Selic até o fim do ano. Ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) sofreram perdas com as perspectivas de uma Selic mais alta. O Ibovespa, principal índice, recuou 2,06%, aos 53.165 pontos, menor patamar desde 18 de abril. Em maio, o Ibovespa acumulou perda de 4,30%, a maior queda mensal desde maio de 2012.
Fonte O Globo
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