Empresário é conhecido pelo estilo de gestão controlador, concentrando as decisões do grupo
Por Cibelle Bouças | Valor Econômico
SÃO PAULO - Ter Josué Gomes da Silva como companheiro de chapa é o ponto que une políticos em campos opostos, como os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, ambos do PT.
Alckmin é o franco favorito para conseguir a façanha, após o acordo entre o tucano e o Centrão, que deve ser formalizado esta semana. Josué está filiado ao PR, que se juntou recentemente ao grupo. Seu nome como vice foi proposto a Alckmin, que o aceitou na hora.
Mas na nota que divulgou sexta-feira, Josué prolongou o mistério. Depois de avisar que estava no exterior, assinalou: "creio firmemente que uma coligação deva estar baseada em programas e ideias que projetem os rumos a serem seguidos pelo Brasil. Recebi com responsabilidade essa possível indicação. Agradeço a confiança que as lideranças depositam em meu nome. No meu retorno, procurarei inteirar-me dos encaminhamentos feitos pelos partidos, para que possa tomar uma decisão".
Josué está mantendo portas abertas para forças políticas muito além do Centrão. Estará hoje em Belo Horizonte, para falar com Pimentel. Mantém contatos com o MDB, do presidente Michel Temer. Também hoje estará com Alckmin. O desenlace da história se dará ainda esta semana.
O empresário tem a mesma fala mansa e pausada do pai, o vice-presidente José Alencar Gomes da Silva (1930-2011), cuja presença ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva significou a ampliação significativa do escopo da aliança de esquerda. Nos oito anos de vice-presidência de Alencar, Josué pouco apareceu no Palácio do Jaburu. Mas seguiu seu gosto pela política. Fez uma incursão na disputa eleitoral mineira em 2014, quando se candidatou a senador pelo MDB, então um sólido aliado do PT. Perdeu para Antonio Anastasia (PSDB), apesar de ter obtido pouco mais de 3,6 milhões dos votos válidos (40,18% do total).
No momento em que gestores de empresas ganham mais relevância no cenário político, o presidente e dono do Grupo Coteminas, 54 anos, retomou o protagonismo.
No meio empresarial, Josué é respeitado por ter conduzido reviravoltas importantes na Coteminas ao longo das últimas duas décadas. Assumiu o cargo de superintendente geral da Coteminas, até então ocupado por seu pai, em 1996. É, desde janeiro de 2006, presidente do grupo. Quatro anos antes, seu pai afastou-se do grupo e assumiu ao vice-presidência ao lado de Lula.
Entre pessoas do setor industrial, Josué é conhecido por um estilo de gestão controlador. Todas as decisões do grupo Coteminas passam pelas mãos do empresário. Tem bom trânsito no meio empresarial, tendo já atuado como presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), presidente da Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecções (Abit) e vice-presidente da Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre outros cargos. Além de comandar a Coteminas, o empresário também é membro efetivo do conselho de administração da Embraer desde 2011.
À frente do grupo Coteminas, Josué comandou a transformação do negócio. De fabricante de fios e tecidos, o grupo tornou-se a maior operação de cama, mesa e banho da América Latina, com participação de mercado de 17,4% na região, de acordo com a Euromonitor International. No Brasil, é a maior do setor, com 35% do mercado.
Nos anos 90, como superintendente geral, Josué investiu em maquinário e instalou fábricas no Nordeste, para reduzir custos e aumentar a competitividade da empresa em relação à forte concorrência chinesa. Enquanto outras indústrias têxteis brasileiras fecharam ou enfrentaram perdas nesse período, em decorrência da abertura comercial, a Coteminas continuou crescendo, em média, 34% ao ano.
Além de modernizar a produção, Josué esteve à frente da aquisição das marcas Santista e Artex, em 1997. Em seguida, adquiriu as marcas Palette, Arco-Íris e Fantasia, na Argentina. O executivo já considerava, naquela época, que a Coteminas precisava atuar em áreas mais rentáveis do que a produção de fios e tecidos, para seguir com o plano de expansão.
Dando continuidade à diversificação, em 2004 a Coteminas comprou o controle da Companhia de Tecidos Santanense, que produz tecidos e uniformes profissionais.
Em 2005, o empresário decidiu tornar a operação da Coteminas internacional. A companhia fez uma fusão com a empresa americana Springs, dando origem à Springs Global - companhia que atualmente engloba as operações dos Estados Unidos, da Argentina e a operação de varejo no Brasil.
Com o agravamento da crise americana, a partir de 2008, o grupo Coteminas começou a enfrentar problemas para exportar, o que levou Josué a concentrar de novo esforços na operação brasileira. Em 2009, o grupo adquiriu a rede MMartan e passou a competir no varejo de produtos para o lar. O grupo também fechou seis fábricas no Brasil, duas nos Estados Unidos e uma no México, para reduzir custos.
Atualmente, o grupo Coteminas opera com 22 fábricas, sendo nove no Brasil, três nos EUA e uma na Argentina, empregando em torno de 15 mil pessoas.
Em 2017, o grupo registrou receita líquida de R$ 2,58 bilhões e lucro líquido de R$ 69 milhões. No primeiro trimestre deste ano, registrou um aumento de 3,6% na receita líquida, para R$ 620,4 milhões. O resultado final foi um prejuízo de R$ 5,3 milhões, ante uma perda de R$ 20 milhões um ano antes. O resultado foi associado a perdas relacionadas com a crise na Argentina e à queda de vendas nos EUA. Apesar do resultado ruim, o grupo se mantém como a companhia com melhor desempenho no setor de cama, mesa e banho no mercado brasileiro.
Entre fontes do meio industrial, ele é considerado um empresário competente, bem formado e com visão ampla sobre a indústria e o varejo. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais e em Direito pela Faculdade Milton Campos. Possui mestrado em administração de empresas pela Universidade de Vanderbilt, Tennessee (EUA).
Em 2014 investiu R$ 5 milhões de seu patrimônio na própria campanha para disputar a cadeira de senador por Minas Gerais. Recebeu doações legais de Benjamin Steinbruch (R$ 100 mil), presidente da CSN; da família Johannpeter, dona da Gerdau (R$ 240 mil); e do falecido Jacks Rabinovich (R$ 100 mil), do grupo Vicunha. Uma doação de R$ 1 milhão da JBS foi repassada pela equipe de campanha da então candidata Dilma Rousseff à campanha de Josué.
O empresário costuma dizer que foi muito rigoroso com os gastos na única disputa da qual participou. Consultou pelo menos três fornecedores antes de fechar os contratos de sua campanha e acompanhou, no detalhe, a planilha de seus gastos. Aos aliados que esperam fechar uma chapa que lhe dê algum alívio financeiro, Josué sugere ser um candidato que não esbanjará dinheiro.
Em 2016, Josué também teve um papel importante no processo que levou ao impeachment da então presidente Dilma. Josué foi o primeiro empresário a tecer publicamente duras críticas ao ambiente político e à condução da economia durante os dois mandatos da presidente. Sua postura estimulou outros representantes do meio empresarial a externar a defesa do impeachment.
"Desde a posse da presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato, o ambiente político brasileiro ficou imprevisível", afirmou em comentário da administração que acompanhou o balanço da companhia. "A falta de convicção nas ações do Executivo, que adotou discurso de austeridade fiscal, porém privilegiando a elevação de tributos, e minimizando o imprescindível corte de despesas e a redução do tamanho do Estado brasileiro, inchado e ineficiente, não ajudaram a tranquilizar os agentes econômicos", continuou. "O Brasil se encontra numa encruzilhada, e a sociedade precisa decidir que direção tomar".
Do seu posicionamento sobre temas da campanha presidencial pouco se sabe. Em conversas com Ciro Gomes, no início do ano, um estudo antigo do Iedi, feito na década passada, foi citado para embasar um modelo de capitalização da Previdência. O estudo propunha a formação de um fundo com os dividendos gerados a partir da pulverização do controle das estatais.
O acionista da Coteminas não esclarece a quem lhe pergunta por que, entre tantos partidos a se filiar, escolheu o PR do ex-deputado Valdemar Costa Neto, legenda bastante marcada pelo protagonismo em escândalos políticos. "O senhor tem alguma sugestão de partido melhor que eu poderia entrar?", indaga a quem lhe questiona, como uma forma retórica de dizer que todos se equivalem. Segue de certo modo o mesmo roteiro partidário do pai. José Alencar primeiro foi filiado ao MDB, no qual concorreu ao governo mineiro em 1990 e ao Senado em 1994, e depois migrou para o partido comandado por Valdemar, à época chamado PL. (Colaboraram César Felício, Maria Cristina Fernandes e Graziella Valenti, de São Paulo; e Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
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