A reação dos outros candidatos à Presidência da República ante o atentado contra o deputado Jair Bolsonaro, de repúdio à violência e de reafirmação da confiança no processo eleitoral, foi uma importante demonstração de que, apesar de todas as dificuldades e extremismos dos tempos atuais, a democracia segue sendo um valor inegociável. Diante de um crime gravíssimo, o País pôde assistir a uma unânime e intransigente defesa em prol de uma campanha eleitoral pacífica e civilizada.
No debate de domingo à noite, realizado pelo Estado, TV Gazeta, Rádio Jovem Pan e Twitter, os candidatos voltaram a condenar o ódio e a violência na política, também recordando outros episódios ocorridos recentemente no País, como o assassinato da vereadora Marielle Franco e os tiros contra a caravana do PT no Paraná. Se a defesa da democracia é sempre importante, ela é ainda mais necessária no cenário político atual, marcado por radicalismos.
É parte da política o embate de opiniões e visões de mundo diferentes. Deve ser sempre, no entanto, um embate respeitoso, com o reconhecimento de que o adversário político tem os mesmos direitos de expressão e a mesma liberdade de pensamento. O outro não é um inimigo a ser abatido – é um cidadão com os mesmos direitos e garantias, com igual legitimidade dentro do processo político.
Além de respeito ao outro e aos seus direitos, a democracia conduz também a um profundo respeito às regras do processo eleitoral. Atenta contra a democracia quem tenta, por exemplo, burlar a legislação eleitoral em benefício próprio, como vem ocorrendo com o sr. Lula da Silva. No caso, além de desejar passar por cima da Lei da Ficha Limpa, o PT promove um insidioso discurso contra as instituições, especialmente contra o Poder Judiciário, num claro desserviço ao ambiente pacífico e civilizado próprio de uma campanha eleitoral.
O respeito às regras do jogo significa também, como é lógico, aceitar o resultado das urnas. Não é democrático que um candidato diga que não acatará outro desfecho que não seja a sua vitória. Dias antes do atentado ocorrido em Juiz de Fora, o deputado Jair Bolsonaro afirmou que, “desde que não haja fraude nas eleições”, ele será eleito presidente. O candidato a presidente do PSL ainda disse que “qualquer que seja o lado perdedor, não vai reconhecer”.
Diante dessas declarações, é compreensível a preocupação do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, manifestada em entrevista ao Estado, sobre o acirramento das divergências. “O atentado (contra o deputado Jair Bolsonaro) confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade contestada. Por exemplo, com relação a Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele”, disse o general Villas Bôas.
O diagnóstico sobre o acirramento dos ânimos e a instabilidade da situação atual joga luzes sobre a relevância da unânime reação dos candidatos à Presidência da República após o atentado contra o deputado Jair Bolsonaro. Um processo eleitoral equânime é mais do que o simples resultado de um meticuloso cumprimento da legislação eleitoral. Ele é também consequência direta de uma atitude de respeito de cada candidato com os adversários políticos e, muito especialmente, com os eleitores.
É urgente que a campanha eleitoral deixe de ficar restrita à exposição e à alimentação de animosidades, que pouco contribuem para que o cidadão possa decidir com lucidez e responsabilidade o seu voto. O eleitor tem o direito de que lhe sejam apresentadas, durante a campanha eleitoral, propostas concretas de solução para os problemas nacionais. Por isso, foi alvissareiro que o primeiro debate entre os presidenciáveis após o atentado de Juiz de Fora tenha sido com mais propostas e menos agressões pessoais. É com respeito à lei e ao eleitor, com ideias e sem violência, que a democracia pode superar os obstáculos que continuamente tentam lhe criar.
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