Proliferam não só nomes, mas frentes para um projeto pela democracia, pela vida
O
principal recado do debate entre Ciro
Gomes, João Doria, Fernando Haddad, Eduardo Leite e Luciano Huck,
sábado à noite, foi a civilidade, até gentileza entre eles, ao longo de quase
três horas. Deixando as divergências de lado, eles focaram na convergência
contra os retrocessos do presidente Jair Bolsonaro, tratado por adjetivos
ácidos, puxados pelo já trivial “genocida”.
Há
inúmeras frentes para virar a página Bolsonaro e tocar a reconstrução do País,
uma espécie de transição à la Itamar Franco pós-Collor. Assim como naquela época,
o PT não
participa de um projeto de união nacional, mas Haddad compôs bem a mesa, com
conhecimento e sobriedade.
Ciro Gomes, ex-candidato três vezes à
Presidência, ex-ministro e ex-governador do Ceará, é o que mais impressiona,
com seu malabarismo verbal para juntar temas diferentes, amontoar números e
produzir uma imagem de experiência e competência. Foi, também, responsável pela
maior lista de “atributos” do presidente.
Doria foi Doria, a começar do vídeo e do áudio impecáveis, tudo milimetricamente programado. O governador de São Paulo explorou o fato de ter liderado a guerra pelas vacinas contra a covid no País e deixou o carimbo mais contundente contra Bolsonaro: “mito das mortes”.
Haddad, ex-prefeito de São Paulo,
ex-ministro da Educação e ex-adversário de Bolsonaro no segundo turno de 2018,
foi menos candidato, mais militante, preocupado em defender os feitos dos
governos do PT, enquanto batia duro no “autoritarismo” de Bolsonaro.
Eduardo Leite, o jovem tucano que saiu
de uma prefeitura do interior para o governo do Rio Grande do Sul sem passar
pelo Legislativo, mediu palavras e fugiu da eloquência e da agressividade dos
demais contra o presidente e o governo. Foi bastante crítico, mas num tom
abaixo.
Essas
impressões são, de certa forma, consensuais, mas quem mais dividiu opiniões
foi Huck,
celebridade sem passagem pelo setor público. Para uns, incapaz de enfrentar o
debate no campo da economia e das políticas públicas. Para outros, foi o que
focou nos dois temas do futuro: era digital e desigualdade social. “Mais jovem,
mais atualizado”, resumiu uma importante jornalista. Se isso define um bom
candidato, é outra história.
No
final, o professor Hussein Kalout, que dividia comigo a mediação no
encerramento da Brazil Conference, organizada por estudantes brasileiros de
Harvard e MIT, lançou um desafio: Bolsonaro fez algo de bom? O primeiro a cair
na armadilha foi Ciro: a menor taxa de juros em 30 anos. Leite citou a reforma
da Previdência. Huck, o auxílio emergencial.
Na
verdade, a reforma veio do governo Temer e o auxílio emergencial foi obra do
Congresso. Haddad foi no ponto: todo governo democrático tem qualidades e
defeitos, mas os “autoritários” não têm qualidades. E Doria concluiu: o grande
feito de Bolsonaro foi transformar o Brasil em pária internacional. Só ele
conseguiria isso.
Foram
abordados: pandemia, fome, economia, política externa, ambiente, educação,
ciência e tecnologia, mas também autoritarismo e investidas sobre polícias
estaduais. Ao citar o motim da PM do Ceará, quando seu irmão, senador Cid
Gomes, levou dois tiros, Ciro Gomes disse que a intenção de Bolsonaro é “formar
uma milícia militar para resistir, de forma armada, à derrota eleitoral”. O
temor é generalizado.
Exceto Haddad, os outros já tinham assinado um manifesto pela democracia e novos nomes nessa linha continuam surgindo: Tasso Jereissati, Temer, Luiza Trajano, Luiz Henrique Mandetta... Quem tem tantos nomes é porque não tem nenhum, mas o fundamental é que proliferam frentes para construir um projeto de união nacional pela democracia, pela gestão, pela vida. É assim que tudo começa...
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