Folha de S. Paulo
Adversários vão bater sem trégua no problema
da segurança
Durante a Eco-92, reunião com chefes de Estado e representantes de 179 países para discutir a preservação ambiental, ganhou força uma expressão que ao longo do tempo se transformou em clichê: sensação de segurança. O símbolo eram três blindados, com metralhadoras e lança-morteiros, que ficaram 12 dias apontando para a favela da Rocinha.
Vinte e cinco mil policiais civis, militares e federais e agentes das Forças Armadas vigiaram a conferência como se o Rio —que passou por uma cirurgia estética removendo mendigos das ruas— estivesse sitiado à espera da guerra. Os registros de violência caíram 37% nas zonas sul e central. No restante da cidade, os altos índices de criminalidade não se alteraram. Uma sensação de segurança localizada, temporária e falsa. Na mesma época da Cúpula da Terra, o ovo da serpente miliciana era chocado na zona oeste.
De lá para cá, as intervenções também
se tornaram lugar-comum. Do Plano Nacional de Segurança Pública, lançado em
2000 por FHC, às sucessivas experiências de GLO (Garantia
da Lei e da Ordem). Nenhuma deu resultado, notadamente a que Temer inventou em
2018 para fazer o impossível: salvar sua popularidade. De lambuja, a Polícia
Federal vê desvios na gestão do general Braga Netto —contratos para compra de
blindados por R$ 17,5 milhões que nem sequer foram usados.
Apesar da desconfiança em relação às Forças
Armas —uma parte delas aderiu aos planos bolsonaristas de golpe—, Lula tem
agora uma GLO para chamar de sua. Além do policiamento em portos, aeroportos e
rodovias, a ideia é sufocar milicianos e traficantes onde lhes doem: no bolso.
A ver. Não se pode desprezar, contudo, a sustentação desses grupos pelo poder
político.
Lula está num beco estreito. Sabe que os adversários vão investir nos debates sobre criminalidade, repisando a tese de que governos de esquerda não conseguem ou não têm projetos para a área.
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