terça-feira, 7 de novembro de 2023

Eliane Cantanhêde - O tempo corre, o risco aumenta

O Estado de S. Paulo

O que americanos e europeus em Gaza têm que os brasileiros não têm? Poder

O que americanos e europeus têm que brasileiros não têm? A pergunta faz sentido diante do sofrido, atrasado e lento processo de retirada de 7 mil estrangeiros civis da Faixa de Gaza, iniciado na quarta-feira, 1.º/11, interrompido três dias depois e reiniciado ontem, sem um único dos 34 cidadãos da lista do Brasil a bordo, 15 crianças aí incluídas.

O governo Joe Biden, possivelmente na contramão da própria diplomacia americana, derrubou com um veto, único e arrogante, a resolução por uma “trégua humanitária” apresentada pelo Brasil durante seu mês na presidência do Conselho de Segurança da ONU. Depois, o mesmo governo Biden tentou emplacar e capitalizar, solitariamente, o que impediu o conselho de fazer coletivamente.

Não funcionou. Os EUA pediram a trégua a Israel, que deu de ombros e continuou destruindo Gaza, enquanto o Hamas não devolver seus reféns. Biden conseguiu retirar seus próprios nacionais da mira dos bombardeios, e só. Pode ser um ganho para ele na política interna, mas pesquisa do The New York Times informa que o republicano Donald Trump tem vantagem sobre o democrata Biden em cinco dos seis “swing states” (Estados-pêndulo que definem as eleições). Associar os EUA à matança de civis pode não ter sido uma boa ideia.

O governo do Brasil avalia que Biden deu argumento para a Rússia jogar na cara dos EUA.

Tão ferozes ao defender o “direito internacional” contra a Rússia na invasão da Ucrânia, optaram pelo “direito de defesa” de Israel contra famílias e crianças em Gaza. O aceitável é, ou seria: direito de autodefesa contra o terrorista e indesculpável Hamas, sim. Massacre de civis, não.

O Brasil articulou à exaustão e fez muito barulho no seu mês na presidência do Conselho de Segurança e foi derrotado por um único voto. A China o substituiu há uma semana e ninguém sabe, viu ou ouviu sobre suas ações e intenções, mas fontes da diplomacia elogiam o voto chinês a favor da trégua proposta pelo Brasil, a discrição na ONU e a abertura de canais com os EUA.

No Brasil, a prioridade das prioridades é resgatar os brasileiros, os de dupla nacionalidade, seus cônjuges e filhos. O embaixador na ONU, Sérgio Danese, o assessor internacional Celso Amorim e o chanceler Mauro Vieira estão em intensas negociações, mas o Brasil é só mais um entre dezenas de países que têm nacionais ali e, até por isso – e não se sabe se só por isso –, há um empurra-empurra. Israel joga para o Egito, o Egito devolve para Israel. Quanto mais o tempo passa, maior a crise humanitária e maior o risco das famílias sob ameaça de mísseis. É de arrepiar.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Como afirmou o Secretário-geral da ONU: "A Faixa de Gaza virou CEMITÉRIO DE CRIANÇAS PALESTINAS"! Mais de 4 MIL CRIANÇAS foram ASSASSINADAS pelos ataques israelenses, que já destruíram mais da metade dos hospitais da região, e não respeitam campos de refugiados, escolas, locais de atendimento da ONU, etc. Biden é CÚMPLICE do criminoso de guerra Netanyahu, e impediu que a proposta brasileira no Conselho de Segurança da ONU fosse aprovada, como a colunista analisou anteriormente e novamente aqui.

ADEMAR AMANCIO disse...

O ser humano perdeu o endereço de Deus,quer dizer,nunca achou.