Folha de S. Paulo
Não há data para que vereadores ocupem e
adaptem o Edifício Serrador, comprado há mais de um ano por R$ 150 milhões
Com nome inspirado na canção de Cole Porter,
o Night and Day foi uma das maiores casas de shows do Rio nos anos 1940 e 1950,
funcionando full time na Cinelândia. Como conta Ruy Castro no
seu livro "A Noite do Meu Bem", era bar, almoço, chá
dançante com o pianista Waldir Calmon, jantar e, madrugada adentro, o
espetáculo de paetês, pernas e artistas internacionais que atraía fazendeiros,
industriais, comerciantes em visita à capital e sobretudo a fauna política do
Senado, alojado no vizinho Palácio Monroe, da Câmara dos Deputados, dos principais ministérios e
do Palácio do Catete, os quais não ficavam longe.
Pois hoje, como se fosse uma falsa volta aos anos dourados, vereadores cariocas
decidiram que querem trabalhar no mesmo lugar onde as coristas do Night and Day
hipnotizavam a plateia.
No fim de 2022 a mesa diretora da Câmara do
Rio aprovou a compra do Edifício Serrador por R$ 150 milhões para transformá-lo
em sua nova sede. A mudança, no entanto, não está sendo tão simples nem tão
rápida como fazia supor a proximidade (quatro minutos de caminhada) com o
Palácio Pedro Ernesto, casa dos vereadores desde 1923, conhecida como Gaiola de
Ouro pela arquitetura e os custos de sua construção.
A história de luxo e assalto aos cofres públicos se repete. Inaugurado em 1944,
o Serrador é uma maravilha art déco: 23 andares, fachada em mármore, hall de
entrada com 15 metros de pé-direito. Já esteve alugado ao empresário Eike
Batista, que por sorte não o destruiu, como fez com o Hotel Glória. Eike o
tornou um prédio "inteligente", com heliporto na cobertura.
Um ano após a compra, a Câmara não tem uma data para que o plenário se instale
no Serrador. Nem sabe os custos necessários para adaptar o edifício. Talvez até
o fim da década, e gastando muito mais dinheiro, os vereadores possam enfim se
sentir tão irresistíveis como as vedetes de Carlos Machado.
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