O Globo
Lula voltou para refazer exatamente o que deu
errado na Petrobras. Colocará entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões na Abreu e Lima
Em entrevista ao Valor Econômico, publicada
em 17 de setembro de 2009, o presidente Lula (segundo mandato) contou como
levara a Petrobras a mergulhar num programa de investimento ambicioso. Ele
ficara decepcionado com os planos da estatal propostos em 2008. O que fez?
— Convoquei o conselho da empresa.
A pressão funcionou. O portfólio de investimentos da estatal escalou para nada menos que quatro refinarias, das grandes, construídas ao mesmo tempo. A economia mundial estava desacelerando, empresas globais reduziam investimentos temendo queda de demanda e de preços. Exatamente o que aconteceu com o petróleo. Mas Lula disse, naquela entrevista, que era preciso atacar, sair na frente e coisas assim. E lá se foi a Petrobras na direção do desastre.
As refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e o
Comperj, no Rio, já estavam no pacote. Entraram outras duas, tipo premium, uma
no Ceará, outra
no Maranhão,
que seria a maior do país. Não saíram do papel. Em janeiro de 2015, a então
presidente da estatal, Graça Foster, cancelou oficialmente os projetos, por
absoluta inviabilidade técnica e financeira. Ela até havia tentado salvar a
coisa, mandando as plantas para revisão nos Estados Unidos. Não deu. Foi melhor
cancelar. Mas a Petrobras gastou, em dinheiro de hoje, perto de R$ 5 bilhões em
projetos, terraplenagem e compra de equipamentos. Para nada.
O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
andou quase nada. A Refinaria Abreu e Lima estava em construção. Fora anunciada
em 2005 ao preço de US$ 2,3 bilhões. Mas, já naquele setembro de 2009, a
estatal fizera, digamos, ligeira reavaliação. A coisa custaria o quíntuplo,
cerca de US$ 13 bilhões. Quando as obras foram paralisadas, em 2015, estava
concluída meia refinaria, por quase US$ 20 bilhões. De longe, a mais cara do
mundo.
Por que parou?
Segundo Lula, este do terceiro mandato, por
causa de uma conspiração de juízes e promotores da Lava-Jato com o Departamento
de Justiça dos Estados Unidos, para destruir a Petrobras. Narrativas à parte, a
Petrobras estava esgotada. Em quatro anos, já no governo Dilma, acumulara
prejuízo de R$ 100 bilhões. Duas causas: os enormes investimentos mal
dimensionados e a venda de combustível por um preço mais barato do que a
estatal pagava na importação e produção. Isso para derrubar a inflação.
Assim a petrolífera brasileira tornou-se a
mais endividada do mundo. Mesmo sem corrupção, a estatal não aguentaria. No
balanço, a Petrobras registrou oficialmente, lá atrás, perdas de R$ 6 bilhões
por causa da roubalheira. Mixaria perto dos equívocos de gestão.
De todo modo, o então candidato Lula admitiu
que houve corrupção na empresa. Em entrevista ao Jornal
Nacional, atacou a Lava-Jato, mas disse que era difícil negar quando
pessoas confessavam ter roubado. Agora, é tudo mentira. Não teve corrupção, não
teve investimento errado, não teve preço subsidiado.
Debelada a tal conspiração, o governo Lula
voltou para refazer exatamente o que deu errado. Colocará algo entre R$ 6
bilhões e R$ 8 bilhões na Abreu e Lima para deixá-la entre as maiores e mais
eficientes do mundo. Mas quem pode acreditar nessas estimativas? Volta também o
Comperj. Ainda não falaram nada sobre Maranhão e Ceará. E é melhor nem lembrar.
A Petrobras também não esconde seu objetivo
de explorar o petróleo da Margem Equatorial, no litoral do Amapá ao Rio Grande do
Norte. As grandes petroleiras globais continuam explorando óleo. Não
investem, porém, no refino, levando em conta as restrições mundiais, já
anunciadas, para a produção e comercialização de veículos a combustão. A
estatal brasileira vai em todas, óleo e refino, em grande escala.
E o governo ainda se apresenta como campeão
da luta contra o aquecimento global, desenvolvedor das energias verdes. Isso
também exige investimentos novos. E daí? Lula não quer apenas voltar ao
passado. Pretende dobrar a aposta.
O governo americano não tem o menor interesse
em acabar com a Petrobras. Ao contrário, topa comprar óleo brasileiro, e as
empresas americanas topam ser sócias da brasileira.
Qualquer coisa errada é coisa nossa mesmo.
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