Valor Econômico
Na presidência do grupo o Brasil tem a
responsabilidade de fixar a ordem do dia e dar os resultados dos debates entre
as maiores economias do mundo em meio a crises
A reunião de ministros de Relações Exteriores
do G20 nos dias 21 e 22 de fevereiro no Rio de Janeiro ocorrerá sob segurança
máxima, como era de se esperar. Os EUA e a Rússia vão trazer seus próprios
carros blindados para transportar na cidade seus representantes, o secretário
de Estado Antony Blinken e o ministro Sergey Lavrov, como fazem normalmente. As
forças de segurança brasileira terão um esquema de “proteção cabível”, o que
significa admitir que alguns trazem mais riscos que outros. Snipers, os chamados
atiradores de elite, acompanharão certos ministros por todo lado.
Outro peso pesado da diplomacia internacional, o ministro chinês Wang Yi, não irá ao Rio. Ele passou recentemente pelo Brasil, conversou com o presidente Lula e será substituído por uma autoridade provavelmente de peso no Partido Comunista e que, pela praxe chinesa, será designada em cima da hora.
Esquema similar de segurança máxima ocorrerá
em seguida na reunião dos principais ministros de Finanças e presidentes de
bancos centrais do mundo, entre 26 e 29, no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera,
em São Paulo. Outro foco dos brasileiros será a proteção digital. Na cúpula do
G20 na Índia, no ano passado, ocorreram 20 mil ataques cibernéticos diários
contra sites da organização, por exemplo.
Em meio a toda essa movimentação, grandes
consensos não vão emergir da agenda do G20 nos próximos meses. Não há sinais de
entendimentos sobre como tratar as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio nem
sobre reforma de instituições financeiras internacionais.
O Brasil poderia, porém, tentar por exemplo
colocar na mesa a busca de acordo básico sobre como construir a governança na
área da Inteligência Artificial (IA), tema que está na ordem do dia. E
aproveitar para destacar pontos em que vai bem, como no agroalimentar e no
potencial da economia verde.
Na presidência do G20, essencial na
governança global, o Brasil tem assim a responsabilidade de fixar a ordem do
dia e dar os resultados dos debates entre as maiores economias do mundo, em
meio a crises. E a coreografia precisa estar pronta, para evitar fiasco, como
escrevemos mais de uma vez nesta coluna. No entanto, a logística continua em
preparação, em meio a esforço colossal das equipes responsáveis.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
assumiu seu terceiro mandato em janeiro do ano passado sabendo que teria em
2024 o maior palco na cena geoeconômica internacional: a presidência do G20, o
grupo das maiores economias do mundo.
Em junho, seis meses depois de assumir, o
governo criou o decreto com detalhes para organização do evento. Em meados de
setembro, Lula recebeu simbolicamente a presidência do grupo das mãos do
primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. No começo de dezembro, o país
assumiu na prática a presidência.
Mas só agora, no começo de fevereiro, é que
duas licitações, estimadas em R$ 345 milhões, serão acionadas para a logística
do maior evento internacional que o Brasil organiza nos últimos tempos. Nesta
quinta-feira, dia 1º, o Ministério de Gestão e Inovação deve receber as ofertas
da licitação para serviços de automóveis para os participantes ao longo do ano;
no dia 6, será a vez da licitação de organização de eventos, o que inclui salas
de reunião, informática etc. A fatura pode na verdade ficar acima de R$ 400
milhões, com aditamentos dos eventuais contratos. Isso dependerá de qual for o
tamanho do contrato que cada ministério assinará.
Na Esplanada dos Ministérios, um argumento
citado para o atraso é de que o governo só começou realmente na metade do ano
em decorrência de estragos deixados pelo governo anterior. Ou seja, no primeiro
semestre foi arrumação de casa. É citado também o impacto de escândalos do
Mensalão e Lava-Jato. A presença de representantes da Controladoria-Geral da
União (CGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU) é constante. O peso da
burocracia é forte e a complicação é grande mesmo para se conseguir fazer
coisas básicas para esse tipo de evento.
Nesse cenário, as licitações para a
contratação de empresas para trabalhar na preparação do G20 encontraram
evidentes dificuldades, também porque antes não havia o próprio Ministério da
Gestão e Inovação. Ainda assim, essas licitações ocorrem em tempo recorde para
os padrões de Brasília, graças ao esforço conjunto dos órgãos do governo
envolvidos no evento, dizem fontes.
A ausência de contratos explica em parte
porque cerca de 30 reuniões do G20 já realizadas foram todas por
videoconferência, e não presencial. Agora em fevereiro, passado o Carnaval, o
governo contará com parcerias, sobretudo de estatais, para duas grandes
reuniões ministeriais que vão ocorrer no país: o encontro dos ministros de
Relações Exteriores na Marina da Glória, no Rio, e a reunião de ministros de
Finanças e presidentes de BC em seguida em São Paulo. Petrobras e
Serpro, além de Apex e outros, serão convidadas a ajudar a cobrir custos.
Depois, entre março e maio, ou cerca de dois
meses e meio, a presidência brasileira do G20 deverá organizar nada menos de 24
reuniões técnicas, todas elas em Brasília, no prédio do Serpro, sempre com
parcerias. Foi uma decisão para reduzir custos e treinar as equipes, segundo
explicações na Esplanada dos Ministérios, mas que não esconde o fato de não ter
licitação pronta. “Tudo vai dar certo”, segundo uma mensagem repetida em
círculos do governo Lula, apoiando-se inclusive nos responsáveis pelo setor, que
são considerados excelentes profissionais.
*Assis Moreira é correspondente em Genebra
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