Jarbas de Holanda
Jornalista
Que influências os vários indicadores de piora da crise econômica e de seus efeitos estão tendo e poderão ter na montagem do xadrez da sucessão presidencial de 2010? Essa piora manifestou-se a partir dos dados muito negativos, sobre a produção industrial e o nível de emprego no último trimestre de 2008, e a respeito da queda de 3,6% do PIB, no período. E desdobrou-se com o novo horizonte de um crescimento próximo ou em torno de zero, em 2009, apontado por grande número de analistas (perspectiva reafirmada anteontem na pesquisa Fócus, feita pelo Banco Central com 80 instituições financeiras, que prevê expansão de apenas 0,599%). Tal deterioração, ademais de forçar o ministro da Fazenda Guido Mantega a deixar de lado a insistência em sua meta retórica de 4% está tendo sérias implicações na queda das receitas da União e dos estados. Agravada, no primeiro plano, pelo salto dos gastos de custeio, ocorrida de 2003 para cá, como mostrou a coluna de Miriam Leitão, no Globo de segunda-feira: em relação ao PIB, de 4,2% para 5%, com despesas de pessoal, e de 5,9% para 7,2%, com a Previdência (o que reduz em R$ 75 bilhões a capacidade de investimento do governo federal), e a ser mais agravada ainda por aumentos de gastos do gênero, sobretudo de pessoal, contratados para este ano e até 2011. Quanto aos estados, sofrem forte erosão da receita de ICMS e das transferências da União, além de outras consequências da crise.
Com sua alta popularidade imune a tais efeitos, pelo menos até as últimas pesquisas divulgadas, o presidente Lula procura ajustar o discurso sobre a crise à dimensão maior assumida por ela, esquecendo de vez a “marolinha”. Quanto às ações governamentais, combina enorme propaganda a respeito do PAC (mesmo com muito atraso dos programas de responsabilidade estatal) ao novo apelo de “um milhão de casas populares” do plano habitacional a ser lançado (por mais que a promessa pareça pouco crível), ambos vinculados à sua candidata à sucessão, a ministra Dilma Rousseff. No plano estritamente político, Lula trata de promover a indicação dela centrando os esforços para tanto na busca de comprometimento da direção do PMDB. E para conseguir isso o mais rápido possível, usa o peso dos altos índices atuais de popularidade, bem como se dispõe a abrir – em troca do comprometimento – espaços governamentais ainda maiores que os já concedidos às duas alas do colegiado peemedebista; e promete ampla subordinação do PT a composições estaduais para o pleito de 2010 em torno de candidatos do grande aliado.
Já para os dirigentes do PMDB, o adensamento da crise e do seu potencial de desgaste para Lula e o governo constitui fator não para apressar mas para retardar passos definidores de postura sobre a sucessão presidencial. A pragmática avaliação deles é que a piora da crise reforça o papel do partido no governo e para a sucessão. Crise que eles têm classificado como “a maior incógnita” da principal disputa de 2010. Que poderá afetar bastante a popularidade do presidente e, por extensão, desagregar a base governista e debilitar a influencia dele na disputa sucessória. Ou da qual – em face de efeitos menores que produza e sejam reversíveis a partir do início do segundo semestre – ele siga sendo separado e emerja com apoio social próximo ao que tem hoje. Assim, não cabendo, agora, caminhar concretamente para nenhum comprometimento político-eleitoral, seja com o presidente Lula, seja com a oposição, havendo apenas manifestações genéricas de dirigentes do partido em favor de candidatura própria, desde que o governador mineiro Aécio Neves trocasse o PSDB pelo PMDB, até porque essa possibilidade é avaliada como improvável ou inviável.
O adensamento da crise reanimou os partidos de oposição, debilitados por sucessivos recordes de popularidade de Lula e, enredados na disputa entre as pré-candidaturas dos governadores José Serra e Aécio Neves, assistindo quase passivamente a sucessivos atos governamentais de promoção de Dilma Rousseff. A reanimação foi puxada pela direção do DEM que, embora majoritariamente com Serra, procurou aproximar-se de Aécio. E prosseguiu com o encontro entre os dois no Recife, dominado por declarações convergentes. Mas sua sequência é complicada por respostas contraditórias das lideranças desses partidos a dilemas importantes que lhes são colocados. O principal é a natureza das relações dos governadores paulista e mineiro com o Palácio do Planalto – de confronto político, cobrado pelo DEM, ou de prevalência da cooperação administrativa, com o adiamento de tal confronto, praticadas pelos dois. E o principal diz respeito à questão que será básica na disputa da presidencia – o posicionamento do colegiado dirigente do PMDB. Questão ante à qual configuram-se tendências de posturas conflitantes: a de estímulo à fragmentação do partido e a da busca de entendimento com as suas duas alas. Busca fundada na avaliação, realista, de que, com o apoio e o tempo de rádio e televisão do PMDB, o lulismo e sua candidata dificilmente serão batidos nessa disputa, a menos que a crise produza fortes e prolongados efeitos, o que não é esperado.
Que influências os vários indicadores de piora da crise econômica e de seus efeitos estão tendo e poderão ter na montagem do xadrez da sucessão presidencial de 2010? Essa piora manifestou-se a partir dos dados muito negativos, sobre a produção industrial e o nível de emprego no último trimestre de 2008, e a respeito da queda de 3,6% do PIB, no período. E desdobrou-se com o novo horizonte de um crescimento próximo ou em torno de zero, em 2009, apontado por grande número de analistas (perspectiva reafirmada anteontem na pesquisa Fócus, feita pelo Banco Central com 80 instituições financeiras, que prevê expansão de apenas 0,599%). Tal deterioração, ademais de forçar o ministro da Fazenda Guido Mantega a deixar de lado a insistência em sua meta retórica de 4% está tendo sérias implicações na queda das receitas da União e dos estados. Agravada, no primeiro plano, pelo salto dos gastos de custeio, ocorrida de 2003 para cá, como mostrou a coluna de Miriam Leitão, no Globo de segunda-feira: em relação ao PIB, de 4,2% para 5%, com despesas de pessoal, e de 5,9% para 7,2%, com a Previdência (o que reduz em R$ 75 bilhões a capacidade de investimento do governo federal), e a ser mais agravada ainda por aumentos de gastos do gênero, sobretudo de pessoal, contratados para este ano e até 2011. Quanto aos estados, sofrem forte erosão da receita de ICMS e das transferências da União, além de outras consequências da crise.
Com sua alta popularidade imune a tais efeitos, pelo menos até as últimas pesquisas divulgadas, o presidente Lula procura ajustar o discurso sobre a crise à dimensão maior assumida por ela, esquecendo de vez a “marolinha”. Quanto às ações governamentais, combina enorme propaganda a respeito do PAC (mesmo com muito atraso dos programas de responsabilidade estatal) ao novo apelo de “um milhão de casas populares” do plano habitacional a ser lançado (por mais que a promessa pareça pouco crível), ambos vinculados à sua candidata à sucessão, a ministra Dilma Rousseff. No plano estritamente político, Lula trata de promover a indicação dela centrando os esforços para tanto na busca de comprometimento da direção do PMDB. E para conseguir isso o mais rápido possível, usa o peso dos altos índices atuais de popularidade, bem como se dispõe a abrir – em troca do comprometimento – espaços governamentais ainda maiores que os já concedidos às duas alas do colegiado peemedebista; e promete ampla subordinação do PT a composições estaduais para o pleito de 2010 em torno de candidatos do grande aliado.
Já para os dirigentes do PMDB, o adensamento da crise e do seu potencial de desgaste para Lula e o governo constitui fator não para apressar mas para retardar passos definidores de postura sobre a sucessão presidencial. A pragmática avaliação deles é que a piora da crise reforça o papel do partido no governo e para a sucessão. Crise que eles têm classificado como “a maior incógnita” da principal disputa de 2010. Que poderá afetar bastante a popularidade do presidente e, por extensão, desagregar a base governista e debilitar a influencia dele na disputa sucessória. Ou da qual – em face de efeitos menores que produza e sejam reversíveis a partir do início do segundo semestre – ele siga sendo separado e emerja com apoio social próximo ao que tem hoje. Assim, não cabendo, agora, caminhar concretamente para nenhum comprometimento político-eleitoral, seja com o presidente Lula, seja com a oposição, havendo apenas manifestações genéricas de dirigentes do partido em favor de candidatura própria, desde que o governador mineiro Aécio Neves trocasse o PSDB pelo PMDB, até porque essa possibilidade é avaliada como improvável ou inviável.
O adensamento da crise reanimou os partidos de oposição, debilitados por sucessivos recordes de popularidade de Lula e, enredados na disputa entre as pré-candidaturas dos governadores José Serra e Aécio Neves, assistindo quase passivamente a sucessivos atos governamentais de promoção de Dilma Rousseff. A reanimação foi puxada pela direção do DEM que, embora majoritariamente com Serra, procurou aproximar-se de Aécio. E prosseguiu com o encontro entre os dois no Recife, dominado por declarações convergentes. Mas sua sequência é complicada por respostas contraditórias das lideranças desses partidos a dilemas importantes que lhes são colocados. O principal é a natureza das relações dos governadores paulista e mineiro com o Palácio do Planalto – de confronto político, cobrado pelo DEM, ou de prevalência da cooperação administrativa, com o adiamento de tal confronto, praticadas pelos dois. E o principal diz respeito à questão que será básica na disputa da presidencia – o posicionamento do colegiado dirigente do PMDB. Questão ante à qual configuram-se tendências de posturas conflitantes: a de estímulo à fragmentação do partido e a da busca de entendimento com as suas duas alas. Busca fundada na avaliação, realista, de que, com o apoio e o tempo de rádio e televisão do PMDB, o lulismo e sua candidata dificilmente serão batidos nessa disputa, a menos que a crise produza fortes e prolongados efeitos, o que não é esperado.
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