Michel Rogalski
Fonte: L'Humanité & Gramsci e o Brasil
Bresser-Pereira, Luiz Carlos. Mondialisation et compétition. Pourquoi certains pays émergents réussissent et d’autres non. Paris: Éditions La Découverte, 2009. 196p.
O economista brasileiro, cuja reputação ultrapassou as fronteiras do seu continente de origem há bastante tempo, nos apresenta um livro que é uma obra maior sobre as estratégias de desenvolvimento dos países do Sul, principalmente daqueles de renda média, apoiando-se em uma comparação entre os bons resultados na Ásia e os fracassos na América Latina. O autor alia qualidades acadêmicas de professor e uma experiência de ministro sob as presidências de José Sarney (Fazenda) e de Fernando Henrique Cardoso (Reforma do Estado, Ciência e Tecnologia). Seu livro, prefaciado por Robert Boyer, já provoca debate na França, porque não hesita em revisitar, de maneira incômoda, as questões essenciais que estão no coração do desenvolvimento dos países emergentes ou com possibilidade de se tornarem emergentes — países que se veem confrontados com uma globalização real que não têm possibilidade de mudar.
Ele já se destacou como um dos pioneiros da crítica à ortodoxia convencional (o consenso de Washington) no início dos anos 1990, salientando a estagnação que ela implicava. Ele nos apresenta uma apaixonante releitura das trajetórias adotadas nos últimos 30 anos nos países do Sul. Seu diagnóstico é sem apelação e serve de alimento para os debates sobre as formas de acumulação. Os caminhos seguidos com sucesso pela Índia, China, Coreia do sul, Taiwan ou Vietnam demonstraram a importância do Estado-nação, só ele capaz de definir de levar adiante uma estratégia nacional de desenvolvimento. Compreendem-se seus ataques contra o globalismo “que faz o elogio da globalização e afirma que o Estado-nação não tem mais razão de ser”. De acordo com sua perspectiva, a globalização é uma oportunidade para os países de renda média, mas aumenta as desigualdades no interior dos países e beneficia principalmente os ricos dos países desenvolvidos.
Bresser-Pereira rejeita a globalização financeira e aconselha os países a se precaverem e evitar ao máximo o recurso à poupança externa, fonte de perda do controle sobre a taxa de câmbio, mas apoia a globalização comercial, que pode se tornar uma oportunidade para os países em desenvolvimento, desde que eles mantenham sua taxa de câmbio competitiva, ou seja, não apreciada. A seus olhos, esta é uma variável-chave sobre a qual é necessário manter o controle e assim poder enfrentar a competição internacional. Esta estratégia deve ser completada por uma política fiscal e orçamentária sadia, a fim de se manter a taxa de juros em um nível moderado.
Bresser-Pereira desenha os contornos de um quadro teórico que visa a renovar a contribuição da “escola estruturalista”, ao definir as características principais de um “novo desenvolvimentismo” que ganha terreno na América Latina. Toma cuidado em se diferenciar das experiências do passado, tanto aquelas da ortodoxia convencional, que conduziram o continente à quase estagnação e a uma “década perdida”, como aquelas do “nacional-desenvolvimentismo”, que se esgotaram em sua política de substituição de importações e entraram em colapso diante da crise da dívida externa nos anos 1980.
Apela, portanto, para um “terceiro discurso”. Político sofisticado, sabe que os três pilares de sua estratégia — mobilizar a poupança interna, manter a taxa de câmbio competitiva e sanear as finanças públicas — pressupõem um consenso nacional forte e um jogo de alianças políticas sólidas. Mas o continente latino-americano, cujas elites sempre manifestaram uma tendência generosa para se aliar às elites globalizadas, e cujas classes populares ou marginais têm uma tendência para ver o resultado antes de dar apoio — estará esse continente disposto a se engajar em um consenso? O autor faz uma aposta estimulante.
Michel Rogalski é diretor da revista Recherches Internationales. Este texto foi publicado originalmente em L'Humanité, 20 abr. 2009.
Fonte: L'Humanité & Gramsci e o Brasil
Bresser-Pereira, Luiz Carlos. Mondialisation et compétition. Pourquoi certains pays émergents réussissent et d’autres non. Paris: Éditions La Découverte, 2009. 196p.
O economista brasileiro, cuja reputação ultrapassou as fronteiras do seu continente de origem há bastante tempo, nos apresenta um livro que é uma obra maior sobre as estratégias de desenvolvimento dos países do Sul, principalmente daqueles de renda média, apoiando-se em uma comparação entre os bons resultados na Ásia e os fracassos na América Latina. O autor alia qualidades acadêmicas de professor e uma experiência de ministro sob as presidências de José Sarney (Fazenda) e de Fernando Henrique Cardoso (Reforma do Estado, Ciência e Tecnologia). Seu livro, prefaciado por Robert Boyer, já provoca debate na França, porque não hesita em revisitar, de maneira incômoda, as questões essenciais que estão no coração do desenvolvimento dos países emergentes ou com possibilidade de se tornarem emergentes — países que se veem confrontados com uma globalização real que não têm possibilidade de mudar.
Ele já se destacou como um dos pioneiros da crítica à ortodoxia convencional (o consenso de Washington) no início dos anos 1990, salientando a estagnação que ela implicava. Ele nos apresenta uma apaixonante releitura das trajetórias adotadas nos últimos 30 anos nos países do Sul. Seu diagnóstico é sem apelação e serve de alimento para os debates sobre as formas de acumulação. Os caminhos seguidos com sucesso pela Índia, China, Coreia do sul, Taiwan ou Vietnam demonstraram a importância do Estado-nação, só ele capaz de definir de levar adiante uma estratégia nacional de desenvolvimento. Compreendem-se seus ataques contra o globalismo “que faz o elogio da globalização e afirma que o Estado-nação não tem mais razão de ser”. De acordo com sua perspectiva, a globalização é uma oportunidade para os países de renda média, mas aumenta as desigualdades no interior dos países e beneficia principalmente os ricos dos países desenvolvidos.
Bresser-Pereira rejeita a globalização financeira e aconselha os países a se precaverem e evitar ao máximo o recurso à poupança externa, fonte de perda do controle sobre a taxa de câmbio, mas apoia a globalização comercial, que pode se tornar uma oportunidade para os países em desenvolvimento, desde que eles mantenham sua taxa de câmbio competitiva, ou seja, não apreciada. A seus olhos, esta é uma variável-chave sobre a qual é necessário manter o controle e assim poder enfrentar a competição internacional. Esta estratégia deve ser completada por uma política fiscal e orçamentária sadia, a fim de se manter a taxa de juros em um nível moderado.
Bresser-Pereira desenha os contornos de um quadro teórico que visa a renovar a contribuição da “escola estruturalista”, ao definir as características principais de um “novo desenvolvimentismo” que ganha terreno na América Latina. Toma cuidado em se diferenciar das experiências do passado, tanto aquelas da ortodoxia convencional, que conduziram o continente à quase estagnação e a uma “década perdida”, como aquelas do “nacional-desenvolvimentismo”, que se esgotaram em sua política de substituição de importações e entraram em colapso diante da crise da dívida externa nos anos 1980.
Apela, portanto, para um “terceiro discurso”. Político sofisticado, sabe que os três pilares de sua estratégia — mobilizar a poupança interna, manter a taxa de câmbio competitiva e sanear as finanças públicas — pressupõem um consenso nacional forte e um jogo de alianças políticas sólidas. Mas o continente latino-americano, cujas elites sempre manifestaram uma tendência generosa para se aliar às elites globalizadas, e cujas classes populares ou marginais têm uma tendência para ver o resultado antes de dar apoio — estará esse continente disposto a se engajar em um consenso? O autor faz uma aposta estimulante.
Michel Rogalski é diretor da revista Recherches Internationales. Este texto foi publicado originalmente em L'Humanité, 20 abr. 2009.
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