quarta-feira, 7 de abril de 2010

Lula republicano:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Dois políticos que não estão diretamente envolvidos com a disputa eleitoral para a Presidência são fundamentais para o resultado da eleição: o presidente Lula e o ex-governador mineiro Aécio Neves. A campanha da ex-ministra Dilma Rousseff gravita em torno da figura de seu padrinho político, e ela não tenta esconder o que está sendo conhecido como "lulodependência", assim como o presidente não pretende disfarçar seu papel, a tal ponto que alardeia que a vitória da candidata petista será a sua vitória, e só ela o fará plenamente realizado no governo.

Já o ex-governador paulista José Serra depende do também ex-governador Aécio Neves para manter a liderança que ostenta há anos nas pesquisas de opinião. Se o eleitorado mineiro chegar em outubro convencido de que a vitória de Serra é a vitória de Aécio, o PSDB estará consolidando sua hegemonia nos dois maiores colégios eleitorais do país, com amplas chances de partir dos dois estados para vencer a eleição presidencial.

Ao usar a metáfora "lobo em pele de cordeiro" para identificar a postura do oposicionista José Serra de não atacar Lula, garantindo que não haverá descontinuidade nos programas sociais assistencialistas, a candidata oficial, Dilma Rousseff, utilizou uma imagem que pode facilmente se transformar em arma contra ela.

É ela quem está sendo acusada de não ser uma democrata convicta, e, a cada vez que homenageia seu passado de lutas contra a ditadura, há quem veja nesse gesto a reafirmação de que existe por trás da "pele de cordeiro" o velho lobo guerrilheiro.

Um outro ponto sensível, pelo menos para um eleitorado identificado com valores da classe média tradicional, é o mote da campanha oposicionista de atacar a complacência petista com a corrupção.

Como o assunto é suprapartidário e atinge tanto o PSDB quanto o DEM, em escalas diversas, mas no mesmo calcanhar, a campanha tucana está baseada aparentemente mais na proteção dos companheiros, no compadrio, do que nas acusações de corrupção.

Aécio Neves vem batendo com rara objetividade na falta de compromisso do PT com o bem comum, lembrando várias situações em que o partido hoje no poder recusou-se a aderir a movimentos políticos que uniam a maioria, desde a Constituinte, que seus representantes não assinaram, até a recusa de participar de um governo de união nacional após o impedimento de Collor.

E também a ineficiência da máquina pública, devido ao seu aparelhamento político e ao descaso com a meritocracia, substituída pelo apadrinhamento de companheiros.

Dando demonstrações claras de que se empenhará por uma vitória do PSDB mesmo que não aceite ser o vice oficial, Aécio coloca sua aprovação popular em Minas em contraponto com a do presidente Lula, como uma demonstração de que não é preciso ser "messiânico" para ser popular.

Já o pré- candidato José Serra tem feito referências diretas à "roubalheira", uma maneira popular de falar em corrupção.

Disse ele, em uma frase de seu discurso de despedida que já ficou emblemática do que será sua campanha: "Eu estou convencido de que o governo, como as pessoas, tem de ter honra.

E assim falo não apenas porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito."

Lula segue sendo o principal ativo político da candidata Dilma e, camaleônico, muda de tática à medida que as reações se sucedem.

Depois de multado duas vezes, e de menosprezar a Justiça Eleitoral com gracejos em comícios, Lula deve ter-se dado conta de que é contraproducente cutucar os juízes eleitorais desse jeito.

Passou a posar de "republicano" e agora promete fazer campanha apenas "fora do expediente", como se fosse presidente apenas das 9 às 17h.

Na sua nova fase, que combina cinismo com ironia, Lula condenou, em entrevista à Rádio Tupi, no Rio, o uso da máquina pública durante o processo eleitoral. E ainda por cima criticou seus antecessores, que nunca foram multados pelo TSE por fazerem campanha antecipada.

Lula, dizem que sem ficar vermelho, disse que seria "um teste importante para a democracia" participar da campanha sem usar a máquina pública "como sempre se usou neste país".

Assim como em São Paulo nos primeiros meses do ano, que teve o maior índice pluviométrico em 70 anos, o volume de chuva que caiu no Estado do Rio nas últimas 48 horas superou tudo o que havia sido registrado nos últimos 40 anos.

Não é possível atribuir-se a uma só administração os transtornos da cidade e as mortes por todo o estado, mas é possível, sim, constatar a incapacidade dos três níveis de governo de montar um esquema de emergência para orientar e dar uma sensação de menos insegurança aos cidadãos.

Desde os guardas nas ruas, que desaparecem ao sinal das primeiras chuvas, até os táxis, que também somem, não existe um esquema de emergência montado para situações extremas.

Os aeroportos, que já são caóticos normalmente, tornam-se inviáveis em dias de crise como a de segunda-feira.

Com os atrasos dos vôos por falta de teto, e os aviões desviados do Santos Dummont para o Galeão, não há organização suficiente para reordenar o fluxo de malas, nem pessoal para dar informações aos passageiros que se aglomeram nos aeroportos sem informações.

A Infraero não tem capacidade para organizar os serviços de apoio, e as companhias aéreas não se consideram responsáveis pelos passageiros que despejam pelos aeroportos do país.

Mas pelo menos foi equiparada a ineficiência administrativa de governadores da oposição e governistas, impedindo que se tire vantagens políticas de situações climáticas extremas, como fizeram os petistas nos primeiros momentos da crise paulista.

Os bueiros entupidos não têm partido político. A falta de investimento em infraestrutura é generalizada.

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