DEU NO VALOR ECONÔMICO
O esperneio de Ciro Gomes ao ser defenestrado da corrida sucessória era esperado na campanha da ex-ministra Dilma Rousseff a presidente. O que não estava no roteiro era Ciro declarar que o tucano José Serra, seu arquirrival, é mais preparado para o cargo que a candidata do PT. Dilma e companhia procuram não passar recibo, mas a afirmação do deputado cearense causou mais incômodo do que deixa transparecer a campanha da ex-ministra. Não deveria.
Vereador, prefeito, deputado estadual, governador e duas vezes ministro, o deputado federal Ciro Gomes tem currículo de sobra para reivindicar a Presidência da República. Nem por isso pode-se dizer que está preparado para exercer o cargo. E muito menos comprova o despreparo de Dilma.
Se o preparo pudesse ser medido pelo número de páginas do currículo, em 2002 o tucano José Serra não precisaria ter disputado a eleição. Bastava ser "batizado" por Fernando Henrique Cardoso e entronizado no Palácio do Planalto. Esta é uma discussão que os dois mandatos de Lula tornaram ociosa.
Até vencer José Serra, na eleição de 2002, o único cargo executivo ocupado por Lula fora a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No entanto, a pouco mais de oito meses do fim de seus dois mandatos, Lula é o presidente mais popular da história do país.
Além da experiência sindical, em 1986 Lula foi eleito deputado constituinte, cumpriu integralmente o mandato, mas não gostou da rotina congressual e não disputou um novo mandato. Mas noves fora não ser um deputado de plenário, Lula foi quem de fato liderou o PT na Assembleia Constituinte.
No começou dos 90, era inimaginável que um sociólogo pusesse fim ao longo processo inflacionário brasileiro, a superinflação que os economistas mais renomados não conseguiram domar. Fernando Henrique Cardoso não era um economista. Seu mérito reside no fato de saber liderar e de criar as condições políticas para viabilizar o sucesso do Plano Real. Coisa (a viabilidade política) em que nem José Serra acreditava, àquela altura.
O que Dilma precisa provar aos eleitores, na prática, é que tem preparo para liderar uma nação complexa e de instituições sofisticadas como é o Brasil.
Os termos da discussão proposta por Ciro são grandiloquentes, como tudo o que o deputado diz, mas não resistem ao contraditório. Parece ressentimento, mas ele não se limitou a dizer que Serra era o mais preparado. Afirmou, na verdade, que Serra é o "mais preparado, mais legítimo e mais capaz".
É provável que, ao falar sobre preparo, Ciro esteja se referindo ao currículo do candidato tucano, no qual brilham passagens na secretaria de Planejamento de São Paulo e no Ministério da Saúde de FHC, um período não tão vistoso assim no Ministério do Planejamento, e duas vezes executivo eleito aos governos da maior cidade e do maior Estado do país.
Difícil é entender o que Ciro quer dizer quando afirma que um candidato é mais legítimo que o outro. Talvez se refira ao fato de Serra ter passado sucessivas vezes pela prova das urnas, enquanto Dilma é uma tecnocrata pinçada por Lula de dentro do PT. Nos termos do próprio Ciro: "Ele (o presidente) está se sentindo o todo-poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República"
Esse é o desafio de Dilma na campanha: provar que é capaz de chefiar e liderar um governo de continuidade, em vez de ser apenas títere de Lula. É a sombra do padrinho.
É legítimo à ex-ministra ancorar-se na popularidade do presidente, mais até do que a oposição querer confundir-se com um governo que combate. É misturar desordenada e deliberadamente as coisas. A menos que se confirme a sina de que Serra é sempre o melhor candidato na hora errada.
Em 2002 o tucano era governo, mas confundia sua campanha com a da oposição ao governo FHC; agora é oposição, mas foge do embate com o popularíssimo Lula - em 2006 a aprovação de Lula nas pesquisas de opinião era a metade da atual, mas os tucanos preferiram indicar Geraldo Alckmin à disputa.
Ciro tem razões de sobra para estar ressentido. Ele foi fuzilado sem piedade por um integrante do segundo escalão do PSB. Pelos leais serviços prestados a Lula, merecia mais que a missa contratada para esta tarde no PSB.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
O esperneio de Ciro Gomes ao ser defenestrado da corrida sucessória era esperado na campanha da ex-ministra Dilma Rousseff a presidente. O que não estava no roteiro era Ciro declarar que o tucano José Serra, seu arquirrival, é mais preparado para o cargo que a candidata do PT. Dilma e companhia procuram não passar recibo, mas a afirmação do deputado cearense causou mais incômodo do que deixa transparecer a campanha da ex-ministra. Não deveria.
Vereador, prefeito, deputado estadual, governador e duas vezes ministro, o deputado federal Ciro Gomes tem currículo de sobra para reivindicar a Presidência da República. Nem por isso pode-se dizer que está preparado para exercer o cargo. E muito menos comprova o despreparo de Dilma.
Se o preparo pudesse ser medido pelo número de páginas do currículo, em 2002 o tucano José Serra não precisaria ter disputado a eleição. Bastava ser "batizado" por Fernando Henrique Cardoso e entronizado no Palácio do Planalto. Esta é uma discussão que os dois mandatos de Lula tornaram ociosa.
Até vencer José Serra, na eleição de 2002, o único cargo executivo ocupado por Lula fora a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. No entanto, a pouco mais de oito meses do fim de seus dois mandatos, Lula é o presidente mais popular da história do país.
Além da experiência sindical, em 1986 Lula foi eleito deputado constituinte, cumpriu integralmente o mandato, mas não gostou da rotina congressual e não disputou um novo mandato. Mas noves fora não ser um deputado de plenário, Lula foi quem de fato liderou o PT na Assembleia Constituinte.
No começou dos 90, era inimaginável que um sociólogo pusesse fim ao longo processo inflacionário brasileiro, a superinflação que os economistas mais renomados não conseguiram domar. Fernando Henrique Cardoso não era um economista. Seu mérito reside no fato de saber liderar e de criar as condições políticas para viabilizar o sucesso do Plano Real. Coisa (a viabilidade política) em que nem José Serra acreditava, àquela altura.
O que Dilma precisa provar aos eleitores, na prática, é que tem preparo para liderar uma nação complexa e de instituições sofisticadas como é o Brasil.
Os termos da discussão proposta por Ciro são grandiloquentes, como tudo o que o deputado diz, mas não resistem ao contraditório. Parece ressentimento, mas ele não se limitou a dizer que Serra era o mais preparado. Afirmou, na verdade, que Serra é o "mais preparado, mais legítimo e mais capaz".
É provável que, ao falar sobre preparo, Ciro esteja se referindo ao currículo do candidato tucano, no qual brilham passagens na secretaria de Planejamento de São Paulo e no Ministério da Saúde de FHC, um período não tão vistoso assim no Ministério do Planejamento, e duas vezes executivo eleito aos governos da maior cidade e do maior Estado do país.
Difícil é entender o que Ciro quer dizer quando afirma que um candidato é mais legítimo que o outro. Talvez se refira ao fato de Serra ter passado sucessivas vezes pela prova das urnas, enquanto Dilma é uma tecnocrata pinçada por Lula de dentro do PT. Nos termos do próprio Ciro: "Ele (o presidente) está se sentindo o todo-poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República"
Esse é o desafio de Dilma na campanha: provar que é capaz de chefiar e liderar um governo de continuidade, em vez de ser apenas títere de Lula. É a sombra do padrinho.
É legítimo à ex-ministra ancorar-se na popularidade do presidente, mais até do que a oposição querer confundir-se com um governo que combate. É misturar desordenada e deliberadamente as coisas. A menos que se confirme a sina de que Serra é sempre o melhor candidato na hora errada.
Em 2002 o tucano era governo, mas confundia sua campanha com a da oposição ao governo FHC; agora é oposição, mas foge do embate com o popularíssimo Lula - em 2006 a aprovação de Lula nas pesquisas de opinião era a metade da atual, mas os tucanos preferiram indicar Geraldo Alckmin à disputa.
Ciro tem razões de sobra para estar ressentido. Ele foi fuzilado sem piedade por um integrante do segundo escalão do PSB. Pelos leais serviços prestados a Lula, merecia mais que a missa contratada para esta tarde no PSB.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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