Escolhido para compor a chapa presidencial com o tucano José Serra, o deputado Antonio Pedro de Siqueira Índio da Costa (DEM-RJ), 39 anos, quer se apresentar ao eleitor do Rio como fiador de uma promessa do candidato: com Serra na Presidência, não haverá "nenhum tipo de risco de arrebentar as finanças" dos Estados e municípios que dependem dos royalties do petróleo.
"O Serra é a garantia de manutenção dos royalties do Rio de Janeiro", afirma em entrevista ao Estado. "A única, porque só ele pode derrotar a Dilma Rousseff", completa, para provocar em seguida: "Para ela tanto faz. A Dilma não tem muita ideia; é um boneco. Está lá só para referendar os interesses do PT e não tem coragem de debater com Serra porque não tem consistência." Apesar da pouca idade - apenas quatro anos mais do que o mínimo exigido por lei para ocupar a Vice-Presidência -, Índio afirma que está maduro para assumir o posto. "Envelheci uns 30 anos depois que passei 10 horas no centro cirúrgico operando um aneurisma cerebral, em 2003. Não perdi minha alegria, mas a sensibilidade aumenta muito e isso faz muita diferença, porque governar é cuidar das pessoas."
Diante das resistências à hegemonia de São Paulo, vai ser difícil pedir voto para um paulista no Rio de Janeiro?
O eleitor é racional. Teremos, pela primeira vez, um vice do Rio. Na hora em que o eleitor vir um vice que tem paixão pelo Rio na chapa, sem dúvida rompe isso. Quando fez o convite, o Serra me disse: "Índio, você na vice será a presença do Rio no meu governo o tempo todo. Terei propostas concretas para o Estado". E, não fossem todas as outras razões, a garantia de que, com Serra, o Rio não perde a receita dos royalties do petróleo já seria suficiente para votar nele.
Mas isto não pode gerar problema com outros Estados?
Não é impossível prestigiar o Brasil como um todo sem sacrificar os Estados produtores de petróleo. O Serra tem competência para encontrar essa fórmula. Os royalties existem para prevenir e compensar os impactos urbanos, sociais e ambientais que a exploração do petróleo acarreta.
O eventual governo Dilma representa risco para o Rio nessa questão?
Não tenha dúvida nenhuma. Basta ver que, quando eu sugeri ao governador Sérgio Cabral que pedisse ao presidente Lula para retirar o projeto de lei do pré-sal, ele discordou dizendo que não teria como fazer isso. Na verdade, era um compromisso do governador com o presidente, que acabou dando no que deu. Tiraram os royalties do Rio e distribuíram para o Brasil inteiro em um gesto demagógico.
O projeto da Lei da Ficha Limpa que o senhor relatou será bandeira de campanha?
É cartão de visitas. Ele diz mais ou menos assim: "Esse cara é sério e, como a gente, não aguenta mais tanta impunidade."
Sua experiência o credencia para ser vice de Serra?
Estou no meu quarto mandato parlamentar, fui secretário de Administração e presidente do Fórum Nacional dos secretários. Quando adotei os sistemas gerenciais na Prefeitura do Rio, as prefeituras do PT copiaram pelo Brasil. Tenho experiência administrativa, política e eleitoral muito maior que a da Dilma.
O sr. não está subestimando a experiência dela no ministério, à frente da Casa Civil?
Se é experiente, porque ela não abre a boca, então? Porque não debate, não participa? A Dilma é um boneco. É uma candidata que vai ficar calada até o final. Ela não está com coragem de participar de nenhum debate porque não tem consistência. Até hoje ela não apareceu em nenhum debate com Serra e, pelo que estão dizendo na campanha do PT, não aparecerá.
Mas o presidente Lula tem 80% de popularidade e diz que a preparou para lhe suceder.
O Lula não preparou a Dilma para nada. Ele está usando a Dilma para continuar no poder com o PT. O povo precisa saber que, nesse cenário, o Lula volta para casa e os mensaleiros do PT permanecem todos no governo, do lado da Dilma e mandando nela. Lula tem ascendência sobre o PT, mas é o PT que tem ascendência sobre ela. O Lula enfrentou quatro eleições até vencer e amadureceu muito. A Dilma, se é que foi síndica, nunca foi vereadora nem foi deputada. Quem não tem vivência política não tem experiência com o contraditório.
Mas ela é apresentada como a coordenadora de um governo aprovado pela opinião pública.
O Lula é muito preparado politicamente e o povo aprova o Lula, mas o governo coordenado pela Dilma é muito ruim. Basta ver a dificuldade que se tem para acessar os serviços públicos, as filas nos hospitais, a má qualidade da educação. Além disso, a máquina inchou e o custo dela é muito mais alto do que deveria ser.
Mas o povo gosta. Para mais de 70% o governo é bom e ótimo.
Na hora que você pergunta ao povo como funcionam a saúde, a educação, o resultado é diferente. E é aí que está a chave para a gente ganhar a eleição. Mostrar que o Lula está bem avaliado e o governo tem a força do nome dele, mas não oferece bons serviços quando se fala em hospital, nas escolas, no transporte. As bolsas são muito boas, mas é preciso oferecer oportunidade para que o beneficiário do Bolsa-Família possa se qualificar, ganhar dinheiro e sair para uma vida melhor, em vez de ficar dependendo do Estado. Isso é necessário até para que o Estado possa ajudar outras pessoas que também estão precisando.
O sr. se sente preparado para eventualmente substituir Serra, que a todo instante exalta seu perfil de administrador experiente?
Além de ser um excelente professor, o Serra tem uma tremenda estrutura. Há quase 50 anos ele monta equipes, e boas equipes. Se o Serra for ficar um mês na China, continuará como se estivesse sentado na cadeira de presidente, igualzinho. Vai despachar por telefone, por e-mail e não vai ter nem problema de fuso horário.
Quais são as semelhanças entre o sr. e Serra?
Em algumas coisas - como na disposição para o trabalho - eu sou muito parecido com o Serra. Só que ele é um intelectual genial, um estudioso, e eu adoro campanha de rua. Entrei em licença na Câmara para me dedicar 100% à campanha e será uma bela parceria. Vamos aliar a fome à vontade de comer.
Qual será o grande trunfo de Serra e do vice nesta campanha?
O grande trunfo do Serra - e modéstia à parte meu também - é saber lidar com a máquina pública para oferecer mais por menos. Em 2003 eu descobri que tinha um aneurisma e operei minha cabeça. Ainda no hospital, resolvi desenvolver um instituto que pudesse pensar maneiras novas de desenvolver políticas públicas. Eu geoprocessei a cidade do Rio inteira. Sei quantas matrículas foram realizadas por escola, qual foi a demanda não atendida, o porcentual de repetência. Ali, pude aproveitar a oportunidade de estar secretário de Administração e testar modelos gerenciais que, não tenho dúvida, ajudarão demais no governo federal.
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