DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Candidatos evitam aprofundar propostas econômicas para escapar de controvérsias e não alimentar desconfianças
Ricardo Balthazar
Candidatos evitam aprofundar propostas econômicas para escapar de controvérsias e não alimentar desconfianças
Ricardo Balthazar
DE SÃO PAULO - Os dois discursos que o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, apresentou na segunda-feira passada à Justiça Eleitoral como resumo de seus planos de governo somam 6.700 palavras. Ele usou apenas 517 para dizer o que pretende fazer com a economia do país.
A petista Dilma Rousseff entregou um documento de 23 páginas, das quais 5 enumeram suas prioridades para a economia. Vistas de perto, oferecem só uma lista de objetivos genéricos, sem uma exposição das medidas necessárias para alcançá-los.
Os líderes da corrida presidencial têm se esforçado para evitar controvérsias no campo econômico. Com o país crescendo em ritmo acelerado e a sensação de bem-estar da população em alta, ninguém quer dar a impressão de que fará mudanças.
As discordâncias entre os políticos sobre o rumo a seguir são menores hoje do que em eleições anteriores. Um levantamento feito pela Folha com base em discursos e entrevistas dos candidatos mostra que as diferenças entre suas ideias são em geral sutis (veja o quadro ao lado).
Os principais candidatos prometem manter as políticas que têm assegurado a estabilidade da economia brasileira há uma década, pregam mudanças no sistema tributário e falam em estímulos para os investimentos.
Os presidenciáveis se comportam assim porque precisam inspirar confiança. Dilma passou a elogiar o Banco Central com frequência, abandonando as críticas que fez no passado. Ela espera que isso a ajudará a eliminar as dúvidas existentes sobre sua fé na política econômica de natureza conservadora adotada pelo governo.
O mesmo acontece com Serra. Ele tem moderado seus ataques ao BC, numa tentativa de superar o mal-estar gerado pelas críticas que fez em maio à demora com que a instituição baixou os juros no auge da crise internacional de 2008-2009.
INCERTEZAS
"Mudanças que afetem a autonomia que o BC tem atualmente ou comprometam o trabalho que ele vem fazendo não são sustentáveis", afirma o professor Márcio Holland, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.
Serra promete coordenar de forma mais eficaz a política econômica do governo para evitar desencontros entre o BC e o Ministério da Fazenda, como os que se tornaram comuns nos últimos anos, e sempre cita como modelo o sistema adotado no Chile.
O ministro da Fazenda participa das reuniões do BC chileno, onde não tem voto, mas pode manifestar opiniões. O BC do Chile tem poderes mais amplos que os do BC brasileiro e seus diretores têm mandatos de dez anos.
A possibilidade de replicar esse modelo no Brasil é vista com ceticismo entre colaboradores de Serra. Eles têm debatido mudanças no funcionamento do Conselho Monetário Nacional, onde o BC e a Fazenda votam, e outros mecanismos de coordenação.
Mas a discussão interna ainda está num estágio muito preliminar e é improvável que seja levada a público pelo candidato, por causa das incertezas que poderia alimentar, de acordo com um membro da equipe de Serra.
Dilma tem mantido distância desse tipo de conversa. Ela se limita a dizer que o sistema atual funciona bem e que não vê nenhum motivo para alterá-lo, ou para reforçar a autonomia do BC com mudanças na legislação.
TIMIDEZ
Serra e Dilma têm expressado visões diferentes sobre o papel que o Estado deve ter na viabilização de novos investimentos em infraestrutura, uma área que os especialistas consideram crítica para sustentar o crescimento do país nos próximos anos.
Mas nem sempre os candidatos deixam claras as diferenças que os separam, como demonstra a timidez com que eles participaram nos últimos meses do debate sobre a exploração do petróleo descoberto na camada pré-sal.
Dilma foi uma das principais formuladoras do sistema proposto pelo governo, que reserva para a Petrobras um papel central no desenvolvimento dos novos campos de petróleo e inibe a participação de empresas privadas e grupos estrangeiros.
Quando o assunto foi discutido no Congresso, as lideranças do PSDB defenderam a manutenção do modelo de concessões usado nas áreas que começaram a ser exploradas antes da descoberta do pré-sal, o que daria mais oportunidades para os concorrentes da Petrobras.
Mas Serra nunca manifestou em público sua opinião sobre o tema. "Esse debate é uma armadilha para a oposição", diz o cientista político Christopher Garman, da consultoria internacional Eurasia. "Qualquer coisa que ele diga, vão acusá-lo de querer enfraquecer a Petrobras e entregar as riquezas do país."
A petista Dilma Rousseff entregou um documento de 23 páginas, das quais 5 enumeram suas prioridades para a economia. Vistas de perto, oferecem só uma lista de objetivos genéricos, sem uma exposição das medidas necessárias para alcançá-los.
Os líderes da corrida presidencial têm se esforçado para evitar controvérsias no campo econômico. Com o país crescendo em ritmo acelerado e a sensação de bem-estar da população em alta, ninguém quer dar a impressão de que fará mudanças.
As discordâncias entre os políticos sobre o rumo a seguir são menores hoje do que em eleições anteriores. Um levantamento feito pela Folha com base em discursos e entrevistas dos candidatos mostra que as diferenças entre suas ideias são em geral sutis (veja o quadro ao lado).
Os principais candidatos prometem manter as políticas que têm assegurado a estabilidade da economia brasileira há uma década, pregam mudanças no sistema tributário e falam em estímulos para os investimentos.
Os presidenciáveis se comportam assim porque precisam inspirar confiança. Dilma passou a elogiar o Banco Central com frequência, abandonando as críticas que fez no passado. Ela espera que isso a ajudará a eliminar as dúvidas existentes sobre sua fé na política econômica de natureza conservadora adotada pelo governo.
O mesmo acontece com Serra. Ele tem moderado seus ataques ao BC, numa tentativa de superar o mal-estar gerado pelas críticas que fez em maio à demora com que a instituição baixou os juros no auge da crise internacional de 2008-2009.
INCERTEZAS
"Mudanças que afetem a autonomia que o BC tem atualmente ou comprometam o trabalho que ele vem fazendo não são sustentáveis", afirma o professor Márcio Holland, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.
Serra promete coordenar de forma mais eficaz a política econômica do governo para evitar desencontros entre o BC e o Ministério da Fazenda, como os que se tornaram comuns nos últimos anos, e sempre cita como modelo o sistema adotado no Chile.
O ministro da Fazenda participa das reuniões do BC chileno, onde não tem voto, mas pode manifestar opiniões. O BC do Chile tem poderes mais amplos que os do BC brasileiro e seus diretores têm mandatos de dez anos.
A possibilidade de replicar esse modelo no Brasil é vista com ceticismo entre colaboradores de Serra. Eles têm debatido mudanças no funcionamento do Conselho Monetário Nacional, onde o BC e a Fazenda votam, e outros mecanismos de coordenação.
Mas a discussão interna ainda está num estágio muito preliminar e é improvável que seja levada a público pelo candidato, por causa das incertezas que poderia alimentar, de acordo com um membro da equipe de Serra.
Dilma tem mantido distância desse tipo de conversa. Ela se limita a dizer que o sistema atual funciona bem e que não vê nenhum motivo para alterá-lo, ou para reforçar a autonomia do BC com mudanças na legislação.
TIMIDEZ
Serra e Dilma têm expressado visões diferentes sobre o papel que o Estado deve ter na viabilização de novos investimentos em infraestrutura, uma área que os especialistas consideram crítica para sustentar o crescimento do país nos próximos anos.
Mas nem sempre os candidatos deixam claras as diferenças que os separam, como demonstra a timidez com que eles participaram nos últimos meses do debate sobre a exploração do petróleo descoberto na camada pré-sal.
Dilma foi uma das principais formuladoras do sistema proposto pelo governo, que reserva para a Petrobras um papel central no desenvolvimento dos novos campos de petróleo e inibe a participação de empresas privadas e grupos estrangeiros.
Quando o assunto foi discutido no Congresso, as lideranças do PSDB defenderam a manutenção do modelo de concessões usado nas áreas que começaram a ser exploradas antes da descoberta do pré-sal, o que daria mais oportunidades para os concorrentes da Petrobras.
Mas Serra nunca manifestou em público sua opinião sobre o tema. "Esse debate é uma armadilha para a oposição", diz o cientista político Christopher Garman, da consultoria internacional Eurasia. "Qualquer coisa que ele diga, vão acusá-lo de querer enfraquecer a Petrobras e entregar as riquezas do país."
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