Coordenador da Comissão da Verdade propõe centro de memória no cárcere
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Lemos Fonteles, defendeu a transformação do quartel da Polícia do Exército na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca (Zona Norte do Rio), em centro de memória. Durante a fase mais sangrenta do regime militar, o prédio anexo do quartel abrigou o Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI), principal centro de torturas da repressão no Rio de Janeiro. Em entrevista ao programa da jornalista Míriam Leitão na "Globonews", Fonteles anunciou que está concluindo um relatório que confirmará o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva dentro do DOI.
Rubens Paiva desapareceu no dia 20 de janeiro de 1971, quando foi levado de casa por uma equipe supostamente da Aeronáutica. Entre esse dia e o dia seguinte, ele foi transferido para a Barão de Mesquita. O médico militar Amilcar Lobo alegou ter cuidado do ex-deputado, que sofreu hemorragia interna após ser submetido a torturas. Mas as forças de repressão, na época, alegaram que Paiva teria sido sequestrado quatro dias depois por desconhecidos no Alto da Boa Vista (Zona Norte).
Em novembro do ano passado, a Polícia gaúcha descobriu nos arquivos pessoais do coronel Júlio de Sá Molinas Dias, ex-comandante do DOI, assassinado naquele mês, documentos que lançaram luz sobre o destino do ex-deputado. Um deles, ofício do DOI denominado "Turma de Recebimento", contém o nome completo do político, de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISA, o Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Na margem esquerda do documento, à caneta, consta uma assinatura, possivelmente de Paiva.
Molinas também guardava em casa um pedaço de folha de caderno, no qual um oficial não identificado escreveu de próprio punho, em 4 de fevereiro de 1971, que foram retirados pela Seção de Recebimento "todos os documentos pertencentes ao carro" de Paiva que tinha sido levado para o destacamento.
A Míriam Leitão, Fonteles disse que conduz uma pesquisa baseada em 16 milhões de documentos secretos da ditadura, principalmente do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e do CISA, guardados no Arquivo Nacional, em Brasília. O coordenador da comissão, que já escreveu 85 páginas sobre o seu conteúdo, lamentou que a Marinha e o Exército não tenham entregue até hoje os seus documentos secretos.
- Eles (militares das duas forças) insistem em dizer que foi tudo destruído. Mas, se tiverem vontade de achar, vão acabar encontrando. A Polícia Federal, em julho passado, fez uma varredura (em seus arquivos) e recebemos recentíssima documentação. É possível a varredura achar - disse o presidente da comissão.
Fonteles afirmou que, se as duas forças destruíram documentos, são obrigadas a apresentar atas com a identificação do que foi eliminado. Caso contrário, a destruição foi ilegal.
Fonte: O Globo
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